O novo álbum de Breno Ruiz, “Pequenas Impressões sobre o caos”, chega nas plataformas digitais, dia 2 de fevereiro. É o segundo trabalho solo de Ruiz e inaugura a sua parceria com o compositor e poeta Roberto Didio
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Breno Ruiz tem sido festejado pela crítica como um dos compositores mais importantes de sua geração. Desde o lançamento do seu primeiro álbum, “Cantilenas Brasileiras”, em 2016, tornou-se reconhecido pela sólida parceria com Paulo César Pinheiro, por suas canções relacionadas aos fundamentos ancestrais da nossa música popular e por integrar o repertório de intérpretes exponenciais.
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Exemplo disso é a canção “Viola de bem querer”, que dá título ao disco de 40 anos do antológico grupo Boca Livre. Assim como “Caipira”, que deu nome ao álbum da Mônica Salmaso dedicado à música interiorana, e “Milagres”, presente no disco comemorativo de 50 anos do MPB4.

Ao longo de sua trajetória como compositor, Breno encontrou parceiros especiais como Sérgio Natureza, Tetê Espíndola, Cristina Saraiva, Celso Viáfora, Socorro Lira, Rafael Altério, Rita Altério e, mais recentemente, Bárbara Rodrix e Cesar Lacerda, entre outros. Como intérprete, Breno continua a cantar um Brasil vasto e plural, pois é a ele que seu artesanato se filia
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“Pequenas Impressões sobre o caos” é o novo álbum de Breno Ruiz, e será lançado nas plataformas digitais em 2 de fevereiro de 2024. Trata-se de seu segundo trabalho solo, após vários lançamentos em colaboração com outros artistas.
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Em um período bastante criativo, Breno inaugura uma parceria profícua com Roberto Didio Estabelecido em 2020, o encontro dos dois compositores resultou no conjunto de canções que deu origem ao álbum “Pequenas Impressões sobre o Caos“. Este trabalho convida os ouvintes a reflexões sobre a sociedade contemporânea, a consciência social do trabalho e de classe, além de outros temas presentes nos debates atuais, em um roteiro que se constrói através de gêneros musicais como valsa, foxtrote, samba, modinha, frevo e canção.

Roberto Didio acumula parcerias de prestígio com Cristovão Bastos, Delcio Carvalho, Dori Caymmi, Ivor Lance lotti, Marcelo Menezes, Miguel Rabello, Mauricio Carrilho, Moacyr Luz, Pedro Amorim e Renato Martins. É um dos grandes letristas de sua geração, embora grande parte do seu trabalho ainda permaneça inédito. Tem sido interpretado por vozes como Amelia Rabello, Áurea Martins, Cristina Buarque, Geraldo Azevedo, Leila Pinheiro, Lúcia Menezes, Mônica Salmaso e Renato Braz.
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A arte da capa é do artista plástico Diego Carneiro; uma xilogravura inspirada na ideia da Torre de Babel e que explora imagens, personagens e situações presentes em todo o contexto narrativo do álbum.
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A concepção geral do disco foi meticulosamente delineada pelos parceiros Roberto Didio e Breno Ruiz. Já as concepções de arranjo são de Breno, com a colaboração de João Camarero, que atua como violonista em 10 das 13 faixas do disco.

O álbum ainda conta com as participações especiais de Guinga na faixa “Na Moda”, Cristovão Bastos e Miguel Rabelo em “A Tempestade”, e Renato Braz na canção “Desacalanta”
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Ainda este ano, Breno lançará um segundo álbum, desta vez em parceria com a talentosa cantora Alice Passos, pela gravadora Biscoito Fino, contando com a ilustre participação de Edu Lobo em uma das faixas.

revistaprosaversoearte.com - Breno Ruiz lança álbum "Pequenas Impressões sobre o caos"
Capa do álbum ‘Pequenas Impressões sobre o Caos’ • Breno Ruiz • Selo Independente / Distribuição Tratore • 2024

DISCO ‘PEQUENAS IMPRESSÕES SOBRE O CAOS’ • Breno Ruiz • Selo Independente / distribuição Tratore • 2024
Canções / compositores
1. Quase nada (Breno Ruiz e Roberto Didio)
2. Desacalanta (Breno Ruiz e Roberto Didio)
3. Semafórica (Breno Ruiz e Roberto Didio)
4. Campos Elísios (Breno Ruiz e Roberto Didio)
5. Médios e graves (Breno Ruiz e Roberto Didio)
6. Dona Thérèse (Breno Ruiz e Roberto Didio)
7. Camelódromo (Breno Ruiz e Roberto Didio)
8. Linhagem (Breno Ruiz e Roberto Didio)
9. Balé malê (Breno Ruiz e Roberto Didio)
10. Na moda (Breno Ruiz e Roberto Didio)
11. Diana (Breno Ruiz e Roberto Didio)
12. Paus de arara (Breno Ruiz e Roberto Didio)
13. A tempestade (Breno Ruiz e Roberto Didio)
– ficha técnica –
Breno Ruiz (piano e voz – fx. 1-12; voz – fx. 13) | Participação especial: João Camarero (violão – fx. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 11, 12) | Renato Braz (voz – fx. 2; percussão – fx. 4, 7) | Guinga (violão e voz – fx. 10) | Cristovão Bastos (piano – fx. 13) | Miguel Rabello (violão e voz – fx. 13) || Coro (fx. 4, 6, 7): Maurício Pinheiro Silveira, Paula Sucena, Guilherme das Neves, Mario Gil, João Paulo Faustinoni, Amanda Iuliano e Marcos Lucatelli | Concepção geral: Roberto Didio e Breno Ruiz | Concepções de arranjo: Breno Ruiz, com a colaboração de João Camarero | Captação: Estúdio Arsis (SP) por Adonias Jr. (piano, violão e voz) / Estúdio Dançapé (SP), por Mario Gil (voz, percussão e coro) / Estúdio Eco som (RJ) por Paulo Cesar de Carvalho e Diego do Vale (voz, violão e piano nas faixas “Na moda” e “A tempestade”) | Mixagem e masterização: Mário Gil | Capa/arte: Diego Carneiro | Fotos divulgação: Sergio Ferreira | Produção executiva: Laje Produtora / Amanda Iuliano e Marcos Lucateli | Selo: Independente | Distribuição digital: Tratore | Formato: CD / Digital | Ano: 2024 | Lançamento: 2 de fevereiro | ♪Ouça o álbum: clique aqui.
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Breno Ruiz – foto ©Sergio Ferreira

Palavras do artista
O ano era 2020, 19 de fevereiro, e eu comemorava uma reunião bem sucedida que viabilizaria a produção do meu novo trabalho. Tratava-se de um novo disco. Seu nome? Bem, por ironia ou profecia, sei lá, batizei o álbum de “Dentro de Casa”. É que Dentro de Casa é uma canção que havia feito pouco antes, com Paulo César Pinheiro, e soava bem pra nome de disco, especialmente se fosse um disco intimista, de quem gosta de gostar das coisas de casa, como eu.
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Poucas semanas depois, a cidade calou. Na realidade, o mundo quebrou. Acho que todos (ao menos os que se mantiveram lúcidos) tiveram essa sensação. Estávamos imersos na pandemia. Os mais sensatos e os privilegiados recolheram-se; os não privilegiados, mas ainda assim sensatos, tentaram respeitar as normas sanitárias, o contato mínimo com outras pessoas.
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Todo mundo, entre privilegiados e sensatos, buscou o isolamento social. Estávamos, portanto, fazendo tudo (de) dentro de casa. E esse foi o derradeiro suspiro daquela ideia, então recém nascida, de fazer um álbum que se chamasse Dentro de Casa.

Conforme os dias passavam, uma angústia: as mortes decorrentes da COVID-19, todas, pareciam cada vez mais próximas de mim. Todas muito significativas, mas algumas me foram particularmente mais tocantes. Lembro da Naomi (Mukanata) e do Martinho Lutero, por exemplo. A música erudita, o canto coral brasileiro, havia perdido dois dos seus regentes, duas referências importantes. Não, eu não os conheci pessoalmente, mas era chocante o quanto me sentia próximo daquelas pessoas,e daquela perdas, através da música que faziam e pelos amigos que tinhamos em comum.
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Havia uma outra proximidade (talvez, mais correto fosse dizer aproximação), igualmente simbóllica, significativa, mas paradoxal, que me fazia sentir simultaneamente distante do Lutero e da Naomi, a despeito da minha sensação primeira: eu morava a pouco mais de cinquenta metros da Sala São Paulo, reduto da música que representavam. E dizer isso é o mesmo que dizer que meu endereço era em frente à Praça Princesa Isabel. Quem conhece o centro de São Paulo, bem sabe do que estou falando. Era ali que eu morava: entre o luxo e o lixo do descaso de um Estado cada vez mais perverso, violento e oportunista…
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No dia 4 de maio, Flávio Migliaccio, o ator, não segurou a onda e subiu. No dia seguinte, subiu Aldir – cronista máximo da nossa música popular. Na verdade, sejamos francos, por aqui ninguém subia: estávamos todos sendo subidos, o que é muito diferente, por uma coisa abjeta que encabeçava o Estado e parecia usar a máquina pública para a satisfação dos seus prazeres sádicos, perversos, cruéis.

Foi nesse contexto, no dia em que Aldir se encantou, que vomitei das entranhas a primeira dessas Pequenas Impressões Sobre o Caos. Liguei pro Didio, que naquele momento seria meu futuro parceiro, e falei da minha angústia por horas. Eu devia estar bêbado, louco, com choro atravessando a goela, já não lembro. A gente, quando se fala por telefone, costuma fazer isso por horas (na verdade, eu falo, e ele tem a paciência de escutar). A gente, que já se namorava na musica havia um bom tempo, meio que se casou naquele dia, a gente fez parceria.
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Na Praça Princesa Isabel, esquina da Duque de Caxias com a av. Rio Branco, do alto do 4º andar do predinho em que eu morava, fui sendo tragado, devorado, pelas canções que me invadiam, muitas vezes, no meio dos bombardeios que a GCM e a PM estouravam lá embaixo contra os adictos. Era quebra-pau, pancadaria, que as vezes até estilhaço sobrava nas janelas e na sacada do meu apartamento … A Cracolândia havia construído uma cidade paralela e adicta, miserável e adicta, doente (!), desafiando o privilégio e a culpa que havia por trás da minha janela. A culpa pelo privilégio – que apesar de pouco se agigantava exponencialmente quando comparado com aquela realidade hostil -, pela consciência do privilégio e por me saber partícipe das contradições do sistema. A saúde pública sendo tratada na porrada pelo Estado.
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Quantas vezes bebi pra me anestesiar. Eram porres pra fazer de conta que não havia porrada lá embaixo. Mas me surpreendia muito puto por me tornar mais acordado; um doido, doído e lúcido, no meio da bebedeira solitária. Puto por ter certeza que amanhã era eu quem estaria ali embaixo, na sarjeta, na praça, levando chute e ponta-pé do braço armado do Estado; ali, entre os meus iguais mais iguais, marginais. E, ao mesmo tempo, tão menos iguais do que eu…

Fique claro, no entanto, que essas Impressões não são autobiográficas. Também não são um produto da pandemia, não falam sobre ela. É disco disforme, esquisito, estranho, a começar por não ter nascido com vocação pra disco; já nasceu fracassado, portanto.
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Essas Pequenas Impressões Sobre o Caos são, como o nome diz, impressões sobre a cidade; fazê-lo foi, talvez, sofrer e gozar a cidade, que é São Paulo, mas pode ser qualquer cidade-metáfora desse país-mundo.
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Bastava dizer que essas pequenas impressões (sobre o caos) que Didio e eu tivemos, foram antes de mais nada uma espécie de imperativo, um chamado. E então, quando “a cidade calou, cantei”.
BRENO RUIZ
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Série: Discografia da Música Brasileira / Canção / Jazz / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske

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