A assertividade representa o ponto médio entre dois extremos: a passividade e a agressividade
– por Ramón-Cortés 

É segunda-feira e Sonia, uma moça no primeiro ano da universidade, sai de casa às pressas deixando o quarto em completo desastre. Sua mãe, resignada, decide deixar passar e não lhe diz nada. Quando chega a terça-feira, a filha volta a fazer exatamente o mesmo. Sua mãe pensa que desta vez, sim, tem de lhe dizer algo, mas, como ela já saiu, terá de esperar a hora do jantar. Nessa hora, Sonia telefona dizendo que vai chegar mais tarde porque ficou com algumas amigas. Já é quarta-feira e volta a sair de casa com o mesmo descuido. É a terceira vez. Ao meio dia chega em casa e cumprimenta a mãe:

– Oi, mamãe. Quer ajuda com o almoço?

Levantando exageradamente a voz, a mãe responde:

– Não precisa se incomodar. E faça o favor de olhar como está o seu quarto! É impraticável que você o deixe assim todos os dias!

Essa é uma resposta que Sonia não entende, e que sua mãe provavelmente não lhe queria dar. Foi vítima do pêndulo assertivo.

A assertividade representa a habilidade de dizer as coisas de modo a chegar aos demais apropriadamente. Que sejam externadas de forma clara e, ao mesmo tempo, respeitosa, evitando que a outra pessoa se sinta agredida. Trata-se da arte de escolher o momento oportuno, o tom adequado e o ritmo justo para expressar o que queremos ou precisamos dizer.

Como habilidade, encontra-se no ponto intermediário entre duas atitudes: a passividade (quando não nos atrevemos a dizer as coisas) e a agressividade (quando as dizemos ferindo os demais). Todos temos nossa particular forma de viver a assertividade entre esses dois extremos. Mas o verdadeiramente relevante é que esse sistema se move como um pêndulo: se nos comportamos de um jeito passivo, vamos ficando carregados emocionalmente, de modo que, quando finalmente falamos, vamos para o outro extremo e somos exageradamente agressivos.

Assim funciona o chamado pêndulo assertivo, que explica as saídas de tom algumas vezes de pessoas que sabemos serem razoáveis e ponderadas e que, um dia, nos surpreendem com uma belicosidade desproporcional. Se nos calamos diante das coisas porque não encontramos a maneira ou o momento de dizê-las, estamos inevitavelmente sobrecarregando o pêndulo. E cedo ou tarde ele se soltará e passaremos do silêncio à agressividade.

Controlar o efeito pêndulo é difícil. Depois que o carregamos, mantê-lo no centro (entendido como a assertividade pura) representa um exercício titânico de autocontrole que raras vezes seremos capazes de levar a cabo. Se não queremos cair nos extremos, praticamente só há uma solução: dizer as coisas em seguida, em vez de as engolir e acumular rancores. Porque, se as soltamos logo, ainda não haverá carga emocional e seremos capazes de manter o tom assertivo. Se, pelo contrário, vamos aguentando e guardando em nosso interior desgosto após desgosto, quando nos decidimos a manifestá-lo provavelmente acabaremos sendo vítimas de nossas emoções.

O pêndulo também atua (embora seja menos evidente) no sentido contrário: quando somos sistematicamente agressivos dizendo as coisas, acabamos provocando irritação nos outros. Se nos fazem ver essa reação de nossa parte, então optamos por não dizer mais nada, nos calarmos diante das coisas e nos mostrarmos passivos.

Não gostamos de nos mostrar agressivos com quase ninguém e quando o fazemos somos os primeiros a nos sentir mal. Levar em conta esse efeito pêndulo nos pode ajudar a ser mais conscientes da necessidade de dizer as coisas logo, sem as guardar conosco. E se a agressividade está no nosso modo de agir, é importante tomar consciência do impacto de nossa comunicação nos demais. Observar como o que dizemos é recebido nos ajudará a encontrar o tom adequado.

Fonte: El País Brasil.







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