Levo comigo um maço vazio e amassado de Republicana e uma revista velha que ficou por aqui. Levo comigo as duas últimas passagens de trem.
.
Levo comigo um guardanapo de papel com minha cara que você desenhou, da minha boca sai um balãozinho com palavras, as palavras dizem coisas engraçadas.
.
Também levo comigo uma folha de acácia recolhida na rua, uma outra noite, quando caminhávamos separados pela multidão.
E outra folha, petrificada, branca, com um furinho como uma janela, e a janela estava fechada pela água e eu soprei e vi você e esse foi o dia em que a sorte começou.
.
Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, dizíamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.)
Não levo nem uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca).
.
E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação, podem dizer a ninguém o que foi.
.
— Eduardo Galeano, no livro “Vagamundo”. tradução Eric Nepomuceno. Porto Alegre: L&PM, 2000.
.
.
>> Leia outros textos de Eduardo Galeano: Clique AQUI!
.
.
.
O cantor, compositor e instrumentista Tiganá Santana lança seu sétimo disco 'Caçada Noturna', pelo selo…
O grupo Os Tapetes Contadores de Histórias, com 25 anos de uma trajetória premiada e…
Cia. do Despejo faz crítica à necropolítica brasileira no espetáculo de teatro-dança ‘IRETI’, inspirado na…
Cia do Polvo une a magia do circo com teatro e dança em novo espetáculo Dual .…
O Núcleo de Criação do Pequeno Ato celebra uma década premiada de trabalho com o…
Espetáculo da cantora carioca e do compositor paulista acontece no dia 15 de maio, no…