terça-feira, dezembro 3, 2024

‘Marcelo Menezes’, disco homônimo do compositor, violonista e cantor carioca

Seu terceiro álbum autoral, chama-se “Marcelo Menezes”. Disco comemorativo de seus 30 anos de atividades musicais, tem 14 músicas com alguns de seus diversos parceiros durante esse tempo. Conta com as participações de: Zé Renato, Geraldo Azevedo e Áurea Martins, além de arranjadores e músicos expressivos no cenário musical atual.

Álbum “Marcelo Menezes” (2022), por Hugo Hugo Sukman
“Pelo violão que toca, ou mesmo simplesmente por ter sido um dos mais brilhantes alunos de Horondino Silva, o famoso Dino 7 Cordas que reinventou o instrumento no Brasil, Marcelo Menezes nem precisava cumprimentar ninguém. Acontece que, mesmo assim, Marcelo, o Macarrão para os amigos, é um dos sujeitos mais simpáticos que há.
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Marcou época na noite carioca com seu sorriso aberto, sua conversa vária e inteligente, sua disposição para tocar e cantar madrugada adentro como se fosse um amador, sendo violonista exemplar e profissionalíssimo. Pontificou e ponteou seu violão, por exemplo, nas rodas de chope e música do saudoso Bar Getúlio, em frente ao Palácio do Catete, mesma esquina em que outrora bebera Ciro Monteiro e que no tempo de Marcelo por lá criou-se uma roda em torno de Paulo César Pinheiro, maior letrista contemporâneo e seu futuro parceiro. E foi figura não menos marcante nas rodas de choro e samba do Bip Bip, famoso bar de Copacabana comandada pelo saudoso e lendário Alfredinho. Isso até Marcelo se mudar em 2007, por amor, para Guarulhos – e lá, e por toda Zona Norte paulistana, chope, papos, sorrisos e violão ganharam outra dimensão.
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Sua música não seria muito diferente desse seu jeito de ser no mundo: fluente, comunicativa, fingindo-se de fácil mesmo muito elaborada, parecendo nova e dizendo coisas de hoje, mas firmemente fincada na tradição carioca do samba e do choro (e abrindo-se para outros gêneros brasileiros). Isso percebeu-se logo nos primeiros anos
de carreira, quando fez parte do conjunto “Dobrando a Esquina”, que deixou disco gravado em 2004 e fez linda carreira nos palcos, e acompanhou grandes artistas como Ivor Lancelloti, Nelson Sargento e, principalmente, Delcio Carvalho, que seria seu parceiro em canções como “Valsinha azul” ou “Canto para o mar”, já com todas as características de sua obra futura.
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A tal obra futura seria, por sua vez, surpreendente em quantidade e qualidade. Talvez pela mudança para a trabalhadora São Paulo, Marcelo empenhou-se com afinco na composição, o que resultou em álbuns que abarcam as duas dimensões de seu trabalho: o instrumental “Festejo”, composições suas executadas pelo conjunto carioca Água de Moringa, cada faixa referindo-se a gêneros brasileiros pioneiros como maxixe, polca, lundu, frevo, etc.; e “Guardião”, exclusivamente sua parceria – ou seria melhor dizer obra – com Paulo César Pinheiro, um manancial de sambas e canções magnifico e que ainda revela a voz segura e agradável do compositor, para além do violonista. Pegue qualquer uma dessas canções – a minha preferida é o samba “Mareação”, um clássico sobre a dor de uma separação – e vai se revelar um compositor maduro, que faz todo sentido na trajetória de Marcelo até então.

Este “Marcelo Menezes 30 anos” é um passo ainda além. Álbum comemorativo de suas três décadas dedicadas à música, não cai na facilidade da retrospectiva: apresenta canções inéditas, novas e antigas, e ao mesmo tempo que conta sua história musical é uma explosão de parceiros e caminhos novos. Há desde um velho samba lindo, melancólico e filosófico, bem ao estilo do parceiro, com o saudoso Delcio Carvalho, “Cidade vencida” (com divina participação da cantora Áurea Martins), a sambas de mestre com os dois letristas mais importantes da atualidade, o carioquíssimo “Samba do largo”, com Nei Lopes, e o delicioso samba coco “Na cintura dela”, com Paulo César Pinheiro e participação vocal de Zé Renato, e que se Jackson do Pandeiro ainda estivesse por aqui mas não deixava passar de jeito nenhum.
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O seu conhecimento de cada gênero de música brasileira, cultivado nestas três décadas, faz Marcelo emular o estilo de cada parceiro: é samba de roda com o baiano do Recôncavo Roque Ferreira em “Samba meu”; uma sofisticada bossa nova com o paulista Eduardo Gudin em “Que tempo é esse?”. Ao mesmo tempo, pega o sotaque do samba carioca contemporâneo quando os parceiros são dessa cena, como Chico Alves (“Metade”), Marceu Vieira (“Saudade que faz doer”) e Teresa Cristina (“Cumplicidade”).
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Faz samba clássico, levado no cavaquinho, com parceiros consagrados como Gisa Nogueira (“Dia de virada”) e Jorge Simas (“Essa dor”). Passeia com delicadeza pelos universos poéticos personalíssimos de Ana de Holanda (“Há um leme”) e Mario Lago Filho (“Avesso do avesso”). Faz um lindo samba de carnaval como “Boas lembranças” com um velho parceiro como Ivor Lancellotti e embrenha-se pela música nordestina com um parceiro mais jovem, Roberto Didio, em “É xote, Mariana”, com a legitimidade da participação de Geraldo Azevedo.

Trata-se, como se vê, de um disco e de uma obra que passeiam pela exuberância de gêneros musicais e estilos da música brasileira tendo sobretudo o samba como base, mas abrindo-se para o que a inspiração pedir.
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E, ainda por cima – e basta passar os olhos na ficha técnica – é uma espécie de who’s who da música brasileira contemporânea, bem ao seu estilo gregário Marcelo Menezes canta e compõe todas as faixas mas faz o arranjo de apenas uma, deixando as outras para arranjadores que vão dos pianistas Cristovão Bastos e Kiko Horta, ao velho parceiro Jayme Vignoli do Água de Moringa, e a uma espécie de seleção brasileira de violões: Jorge Simas, Cláudio Jorge, Luís Filipe de Lima, Lucas Porto, Maurício Carrilho, Paulão 7 Cordas, Paulo Aragão, Almir Cortes, Edmilson Capelupi.
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Como na mesa de bar, ambiente no qual é mestre e que só fica boa com os melhores amigos, na música é igual para Marcelo Menezes, o talento compartilhado, passando de boca em boca como aqueles gloriosos chopes bem tirados numa esquina do Catete.”
– por Hugo Sukman. maio de 2022.

 

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Capa do álbum “Marcelo Menezes” • Marcelo Menezes • Selo Independente • 2022 / foto ©Leo Aversa

DISCO ‘MARCELO MENEZES’ • Marcelo Menezes • Independente •  2022.
Canções/compositores:
1. Que tempo é esse? (Marcelo Menezes e Eduardo Gudin)
2. Metade (Marcelo Menezes e Chico Alves)
3. Avesso do avesso (Marcelo Menezes e Mario Lago Filho)
4. Na cintura dela (Marcelo Menezes e Paulo César Pinheiro) | Participação especial: Zé Renato
5. Saudade que faz doer (Marcelo Menezes e Marceu Vieira)
6. Cumplicidade (Teresa Cristina e Marcelo Menezes)
7. Boas lembranças (Marcelo Menezes , Ivor Lancellotti
8. Há um Leme (Marcelo Menezes e Ana de Hollanda)
9. Cidade vencida (Marcelo Menezes e Délcio Carvalho) Participação especial: Áurea Martins
10. Essa dor (Marcelo Menezes e Tico-Tico (Jorge Simas)
11. Dia da virada (Marcelo Menezes e Gisa Nogueira)
12. É xote, menina! (Marcelo Menezes e Roberto Didio) | Participação especial: Geraldo Azevedo
13. Samba do Largo (Marcelo Menezes e Nei Lopes)
14. Samba meu (Marcelo Menezes e Roque Ferreira)
– ficha técnica –
Marcelo Menezes (voz – fx. 1-14) | Maurício Carrilho (violão – fx. 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12) | Edmilson Capeluppi (violão 7 cordas – fx. 1) | Luiz Filipe de Lima (violão 7 cordas – fx. 2) | Mayo Pamplona (contrabaixo – fx. 7) | Ana Rabello (cavaquinho – fx. 2, 3, 6, 9, 11, 12) | Luciana Rabello (cavaquinho – fx. 4) | Pedro Amorim (bandolim – fx. 2, 10, 13; cavaquinho – fx. 5, 10, 13) | Almir Côrtes (viola machete – fx. 14; violão – fx. 14) | Kiko Horta (acordeon – fx. 4, 12) | Cristovão Bastos (piano – fx. 7, 8) | Alexandre Romanazzi (flauta – fx. 3, 6) | Eduardo Neves (flauta G – fx. 7; flauta – fx. 8; sax soprano – fx. 10) | Conrado Bruno (trombone – fx. 1) | Everson Moraes (trombone – fx. 9) | Rui Alvim (clarone – fx. 4; clarinete – fx. 6, 7) | Mateus Gustmão (fagote – fx. 7) | Cris Pelarin (vocalise – fx. 10) | Netinho Albuquerque (pandeiro – fx. 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 13, 14; triângulo – fx. 4, 12; block – fx. 12; agogô – fx. 14) | Paulino Dias (cuíca – fx. 2, 9, 11; surdo – fx. 2, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 13; tamborim – fx. 2, 4, 5, 6, 9, 10, 11, 13; rece-reco – fx. 2, 5, 7, 10; repique de anel – fx. 2, 10, 11, 13; caixa – fx. 3, 6; block – fx. 5; ganzá – fx. 7, 8; prato – fx. 7; agogô – fx. 8; frigideira – fx. 11; queixada e zabumba – fx. 12; rumpi e rum – fx. 14) | Leo Rodrigues (ganzá – fx. 1; tamborim – fx. 1; agogô – fx. 1; caixa de fósforo – fx. 1) | Jorginho Quininho (ganzá – fx. 2, 3, 4, 5, 6, 9, 10, 11, 13; reco-reco – fx. 4, 6, 12; tamborim – fx. 7, 11, 13; prato e faca – fx. 14; lê – fx. 14) | Coro (fx. 6, 11, 14): Marcelo Menezes, Cris Pelarin, Alice Passos, Alcides Sodré e Michele Agra | Palmas (fx. 14): Almir Côrtes, Jorge Quininho, Marcelo Menezes e Netinho Albuquerque || – Convidados especiais – Geraldo Azevedo (voz – fx. 12) | Áurea Martins (voz – fx. 9) | Zé Renato (voz – fx. 4) || Arranjadores: Edmilson Capeluppi (fx. 1); Luiz Filipe de Lima (fx. 2); Lucas Porto (fx. 3, 9); Maurício Carrilho (fx. 4); Marcelo Menezes (fx. 5); Paulo Aragão (fx. 6); Jayme Vignoli (fx. 7); Cristovão Bastos (fx. 8); Jorge Simas (fx. 10); Paulão 7 Cordas (fx. 11); Kiko Horta (fx. 12); Cláudio Jorge (fx. 13); Almir Cortês (14) || Produção musical: Marcelo Menezes | Produção artística: Memeca Moschkovich | Produção executiva e fotos ao encarte: Cris Pelarin | Fotos de capa e contracapa: Leo Aversa | Fotos ‘Geraldo Azevedo’: Philippe Leon | Projeto gráfico: Mario Alberto | Técnicos de som: Daniel Alcoforado e Flávio Neto / Cia dos Técnicos – Rio de Janeiro | Assistente de gravação: Victor Eduardo | Técnico de som: Alencar Martins – faixa “Que tempo é esse?” / gravado no ‘Juá Estúdio’ em São Paulo | Técnico de som: João Maurício Ferraz Filho – voz de Geraldo Azevedo na faixa “É xote, Mariana!” / ‘Estúdio Lontra’ – Rio de Janeiro | Mixagem e masterização: Carlos Fuchs no Estúdio ‘Arda Recorders’, no Porto/Portugal| Apoio cultural: Bip-Bip – Viva Alfredinho! | ** Gravado no estúdio Cia dos Técnicos – Rio de Janeiro/RJ.
Selo: Independente
Ano: 2022
Formato: CD / Digital
#* Ouça o álbum na sua plataforma de música preferida: Deezer | Spotify | Apple Music

– mais sobre o álbum –
BOZZO JR., Carlos. Violonista Marcelo Menezes lança álbum nas plataformas digitais. In: Folha de S. Paulo, 5 de agosto de 2022 Disponível no link. (acessado em 11.5.2023).
FERREIRA, Mauro. Violonista Marcelo Menezes impõe o D.N.A. carioca nas cadências dos sambas do terceiro álbum autoral. In: G1/Globo, 11.8.2022. Disponível no link. (acessado em 11.5.2023).
KFOURI, Maria Luiza. Marcelo Menezes/álbum. In: Discos do Brasil, s/data. Disponível no link. (acessado em 11.5.2023).
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Marcelo Menezes — foto ©Leo Aversa

SOBRE MARCELO MENEZES
Cantor • Compositor • Violonista.
Aos 14 anos a familia se mudou para o bairro de Vila Rosali, em São João de Meriti, município da Baixada Fluminense. Filho do violonista Rozendo Menezes, frequentador do bar Sovaco de Cobra, na Penha Circular, reduto carioca do choro, para o qual levava o filho de oito anos. O pai e os tios costumavam fazer rodas de choro e samba no bairro em que moravam.Iniciou-se nos estudos de violão com o Seu Zé do Violão, violonista clássico que tocava na Rádio Nacional. Depois, já como músico profissional, estudou com o Horondino Silva (Dino 7 Cordas). Estudou violão no CIGAM (Centro Ian Guest de Aperfeiçoamento Musical) e no CMG (Conservatório Municipal de Guarulhos).
:: Fonte/ e outras informações: Dicionário Cravo Albin da MPB (acessado em 11.5.2023).
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>> Marcelo Menezes na rede: Instagram | Facebook | Youtube | Spotify | Deezer | Apple Music
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> Imagem (capa da matéria): Marcelo Menezes — foto ©Leo Aversa.
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske


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