Casa do Choro recebe o grupo Escafandristas, formado por Eriston, Frazão, Lacerda e Passos cantam Buarque, no Auditório Radamés Gnattali, dias 11 e 12 de junho, às 19h.
.
Há quem considere o popular e o erudito como retas paralelas: só se encontram no infinito. Quem acredita nisso nunca veio ao Brasil. Por aqui, nossa música vive nessa encruzilhada a impossível: aqui a filosofia faz esquina com o assobio. Quem melhor entendeu o espírito do país fez isso cantando samba. “Só é possível filosofar em alemão”, disse um filósofo que nunca ouviu Chico Buarque cantando o “Tempo e o Artista”.
Oswald de Andrade sonhou há cem anos atrás: “a massa ainda há de comer o biscoito fino que fabrico.” Seu sonho não se realizou. Ainda. A poesia, no Brasil, nunca ganhou estádios, como aconteceu na Rússia. Ou melhor, conseguiu, mas através da música. A canção popular, essa sim, conseguiu realizar o sonho oswaldiano. E Chico Buarque mora no encontro das paralelas: erigiu uma obra nessa encruzilhada.
.
Francisco Buarque de Hollanda fez oitenta anos. Se o artista não fosse avesso a homenagens e celebrações, teria sido feriado nacional. As festas aconteceram sem a presença do artista: no bip bip vararam (varamos!) a madrugada tocando e cantando seis horas de sucessos ininterruptos do Chico- sem repetir nenhuma música. Não foi o bastante. Faltava alguma coisa.
.
Faltava isso: os Escafandristas, grupo recém-formado com o único objetivo de celebrar a vasta obra de Chico Buarque. A banda reúne quatro dos nomes mais interessantes da nova música brasileira: Giuliano Eriston (este substituindo temporariamente Thiago Amud), Renato Frazão, Luisa Lacerda e Alice Passos. Cada um encontrou a sua maneira de ser ao mesmo tempo autoral e popular, sofisticado e generoso com quem ouve, cômico e poético, cínico e apaixonado. Como Chico Buarque.
.
Afinal Chico não está sozinho nessa encruzilhada do transcendente e do imanente sob a forma da canção. Deixou uma legião de filhos e netos, compositores e letristas que acreditam que a melodia sinuosa é compatível com a palavra cantada e usam a canção pra contar histórias e fundar mundos.
Amud, Frazão, Lacerda e Passos, para além de cantores e instrumentistas, são “cantautores”e, dos melhores que há. Produziram o que ouvi de melhor nos últimos anos no quesito letra e música trabalhando juntos, naquele casamento perfeito, como tem que ser.
.
Aqui, no entanto, o quarteto não cantará suas próprias composições mas se dedicará exclusivamente a celebrar a vasta obra do seu maestro soberano – no caso, Chico. Tão vasta que me surpreenderam, no repertório, com músicas que nunca ouvi – eu que achei que tivesse exaurido Chico Buarque, e conhecesse até o lado B. Ledo engano. Chico não tem dois lados, mas trinta e sete. Os quatro provam que ainda há muitos mundos a se explorar dentro do universo buarquiano: fragmentos de carta, mentiras, poemas, retratos, vestígios de estranha civilização.
.
Não se afobe não, que nada é pra já: dias 11 e 12 de junho, na Casa do Choro, eles estarão novamente lá. É um time dos sonhos, e sonhos, você sabe, sonhos, sonhos são.
— Texto: Gregório Duvivier —

SERVIÇO
ESCAFANDRISTAS
Eriston | Frazão | Lacerda | Passos
Cantam Buarque
Data: 11 e 12 de junho/2025
Horário: 19h00
Local: Casa do Choro – Auditório Radamés Gnattali
Endereço: Rua da Carioca, 38, Rio de Janeiro/RJ
Ingressos: R$ 30 (meia-entrada) e R$ 60 (inteira)
Capacidade: 100 lugares
Ingressos, sympla: clique aqui.
* Casa do Choro: Site / @casadochoro
.
> Siga: @alicepassoscantora / @luisalacerda_ / @renatofrazao_ / @giulianoeriston
Casa do Choro
“O choro é a alma musical do povo brasileiro”, já dizia Villa Lobos. O choro é carioca! E o Rio de Janeiro, finalmente, ganhou um espaço a altura da importância do gênero, a Casa do Choro, que reúne, na Rua da Carioca número 38, oito salas de aula, estúdio, centro de pesquisa e auditório para shows e palestras.