*Coleção reúne 266 imagens, várias delas emblemáticas, como a do maestro Pixinguinha na cadeira de balanço e a série com o artista Arthur Bispo do Rosário
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*Fotografias com as cores vibrantes e tropicais do “mestre da cor” e um recorte de sua obra em preto e branco
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*Palestra de Walter Firmo no dia 21 de abril, com participação da curadora Janaína Damaceno, sobre a trajetória do fotógrafo e a importância de sua obra.

“O verbo do silêncio é a própria fotografia. Que você se encanta e quer traduzir através do seu sentimento e inteligência. A síntese do grito é o registro”, escreveu o fotógrafo Walter Firmo em 1988. Sua reflexão sobre a arte que o consagrou inspira o título de uma grande retrospectiva de seu trabalho, que o Centro Cultural Banco do Brasil Brasília apresenta de 18 de abril a 25 de junho. “Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito” reúne um panorama dos mais de 70 anos de trajetória do consagrado fotógrafo carioca, um nome fundamental da fotografia brasileira.
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A exposição apresenta 266 fotografias, produzidas desde o início da carreira de Firmo, em 1950, e até 2021. São imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negras de diversas regiões do país, em ritos, festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas.

revistaprosaversoearte.com - Centro Cultural Banco do Brasil Brasília recebe exposição de Walter Firmo: “No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito”
Maestro Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), RJ, 1967. foto ©Walter Firmo / Acervo IMS

Grande parte das obras exibidas na exposição provém do acervo de aproximadamente 145 mil fotos do fotógrafo, que, desde 2018, se encontra sob a guarda do Instituto Moreira Salles em regime de comodato. São imagens que comprovam a opção do fotógrafo pela figura humana, especialmente, pela pele negra, que aparece em todos os matizes, tanto nas fotos coloridas quanto nas imagens em preto e branco.

Walter Firmo faz do Brasil o seu estúdio – parafraseando o pesquisador José Afonso Jr. As imagens do fotógrafo que é conhecido como “o mestre da cor” antecipam em mais meio século a representação do negro na sociedade brasileira e não necessariamente dentro de uma estética documental. “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou”, afirma Walter Firmo, que vai conversar com o público sobre sua trajetória no dia 21 de abril, com participação da curadora Janaína Damaceno.
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Dividida em núcleos temáticos, a mostra traz retratos memoráveis de grandes nomes da música brasileira, como Cartola, Clementina de Jesus, Dona Yvone Lara e a icônica fotografia de Pixinguinha na cadeira de balanço, além de imagens de brasileiros e brasileiras anônimos(as), pescadores, vendedores ambulantes, mães de santo, brincantes, casais, noivas, crianças e até a própria família do artista. A exposição ressalta ainda a importante trajetória de Firmo como fotojornalista. Um dos destaques é a seção dedicada à fotografia em preto e branco do artista, pouco conhecida e, em grande parte, inédita.
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“Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial –, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Num sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real”, afirma o curador Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, que assina a curadoria ao lado de Janaina Damaceno Gomes, professora da UERJ e coordenadora do grupo de pesquisa Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra.
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A exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de um dos maiores fotógrafos brasileiros, que mantém até hoje seu compromisso com o fazer artístico: “Aí está o meu relato, a história de uma vida dedicada ao fazer fotográfico, dias encantados, anos dourados. Qual a minha melhor imagem? Certamente aquela que em vida ainda poderei fazer. Emoções, demais”, afirma Walter Firmo.
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Com patrocínio do Banco do Brasil, depois de Brasília a exposição segue para o Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte.

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Mãe Olga do Alaketu, Salvador, BA, 2002. foto ©Walter Firmo / Acervo IMS

A EXPOSIÇÃO
“Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito” está dividida em sete núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra cerca de 20 imagens em cores, de grande formato, produzidas ao longo de toda a sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA), como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados (2002); em Cachoeira (BA), como o retrato da Mãe Filhinha (1904-2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.
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O segundo núcleo apresenta a biografia do artista, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. O conjunto inclui uma fotografia do jogador Garrincha, feita em 1957; imagens de figuras proeminentes da política nacional, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek; além de registros de ensaios de escolas de samba do Rio de Janeiro. Também há fotografias feitas para a reportagem “100 dias na Amazônia de ninguém”, publicada em 1964 no Jornal do Brasil, pela qual Firmo recebeu o Prêmio Esso de Reportagem.
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Nas seções seguintes, a retrospectiva evidencia como, no decorrer de sua carreira, Firmo passou a se distanciar do fotojornalismo documental e direto, tendo como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. Isso fica evidente no ensaio realizado em 1985 com seus pais (José Baptista e Maria de Lourdes) e seus filhos (Eduardo e Aloísio Firmo), no qual José aparece vestindo seu traje de fuzileiro naval, função que desempenhou ao longo da vida, ao lado de Maria de Lourdes, que usa um vestido longo, florido e elegante. O ensaio faz alusão às pinturas Os noivos (1937) e Família do fuzileiro naval (1935), do artista Alberto da Veiga Guignard (1896-1962).

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Doces Bárbaros (Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso) no Canecão, RJ, 1976. foto: ©Walter Firmo / Acervo IMS

Como destaque, a exposição apresenta, ainda, retratos de músicos produzidos por Firmo, principalmente a partir da década de 1970. Nas imagens, que ilustram inúmeras capas de discos, estão nomes como Dona Ivone Lara, Cartola, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Chico Buarque. Nesse conjunto, está, ainda, a famosa série de fotografias de Pixinguinha feita em 1967, quando Firmo acompanhou o jornalista Muniz Sodré em uma pauta na casa do compositor. Após o término da conversa, o fotógrafo pegou uma cadeira de balanço que ficava na sala da residência, colocou no quintal, ao lado de uma mangueira, e propôs que Pixinguinha se sentasse nela com o saxofone no colo. Assim registrou o músico, em uma série de imagens que se tornaram icônicas.

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Artista Arthur Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira, RJ, 1985. foto: ©Walter Firmo / Acervo IMS

A exposição traz também um ensaio com fotografias do artista Arthur Bispo do Rosário para a revista IstoÉ, em 1985, feitas na antiga Colônia Juliano Moreira, onde Bispo ficou confinado e criou seu acervo ao longo de cerca de 25 anos.
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A retrospectiva apresenta diversos registros produzidos durante celebrações tradicionais brasileiras, como a Festa de Bom Jesus da Lapa, a Festa de Iemanjá e o próprio Carnaval do Rio de Janeiro. Há também um núcleo com fotos de personagens da diáspora feitas em outros países, como Cuba, Jamaica e Cabo Verde.
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Na mostra, o público poderá assistir, ainda, ao curta-metragem Pequena África (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia e que trata da história da região que recebeu milhões de africanos escravizados. Também há um núcleo dedicado à fotografia em preto e branco, ainda pouco conhecida e em grande parte inédita, cujo destaque é a série de imagens feitas na praia de Piatã, em Salvador, entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000.
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PALESTRA – Como parte das comemorações pelo aniversário de Brasília, no CCBB Brasília, Walter Firmo receberá o público para uma palestra, com entrada gratuita, às 16h do dia 21 de abril. A conversa irá destacar a trajetória do fotógrafo, a importância para a fotografia brasileira e ainda contará com a participação da curadora Janaina Damaceno.
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Janaína Damaceno é professora da área de Cultura e História da Arte da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (Febf/ UERJ) é só Programa de Pós-graduação em Cultura e Territorialidades (PPCult/UFF). Coordena o Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: estéticas e políticas da imagem negra. É uma das fundadoras do FICINE (Fórum Itinerante de Cinema Negro).
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CATÁLOGO – A mostra é acompanhada de um catálogo, com imagens das obras da exposição, além de textos de autoria do próprio Firmo, de João Fernandes, diretor artístico do IMS, e dos curadores Sergio Burgi e Janaina Damaceno. Há também uma entrevista do fotógrafo com os curadores e o jornalista Nabor Jr., editor da revista O Melenick. Segundo Ato, além de uma cronologia do fotógrafo assinada por Andrea Wanderley.

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SOBRE O ARTISTA

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Walter Firmo por Marcio Scavone, São Paulo. 2010 – foto: ©Marcio Scavone / Objeto Sim Projetos Culturais

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém –, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Última Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já pela revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York.
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Neste período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

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FICHA TÉCNICA
Curadoria: Sergio Burgi e Janaina Damaceno Gomes
Assistência de curadoria: Alessandra Coutinho Campos
Pesquisa biográfica e documental: Andrea Wanderley
Produção: Tisara Arte Produções Ltda.
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SERVIÇO

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Praia da Macumba, Rio de Janeiro, RJ, 1994. foto ©Walter Firmo / Acervo IMS

Exposição de WALTER FIRMO: “NO VERBO DO SILÊNCIO A SÍNTESE DO GRITO”
Local: Galerias 1 e 2 do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Espacial Sul – Brasília – DF
Informações: (61) 3108 7600
Visitação: de 18 de abril a 25 de junho de 2023
Horário: de terça a domingo, das 9h às 21h
Acesso: Gratuito, mediante retirada de ingresso no site bb.com.br/cultura
Classificação Indicativa: Livre (com espaço +14anos)
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SERVIÇO
Palestra com Walter Firmo com a participação da curadora Janaina Damaceno
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Espacial Sul – Brasília – DF
Informações: (61) 3108 7600
Data: 21 de abril
Horário: 16h
Acesso: Gratuito, mediante retirada de ingresso no site bb.com.br/cultura
Classificação Indicativa: Livre
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CCBB Brasília
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Espacial Sul – Brasília – DF – Tel: (61) 3108 7600
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Informações
E-mail: [email protected]
Site/ bb.com.br/cultura
Facebook/ccbb.brasilia
Twitter/ @ccbb_df
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Youtube/ Bancodobrasil

SOBRE O CCBB BRASÍLIA
O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília foi inaugurado em 12 outubro de 2000, após uma grande reforma de adaptação do Edifício Tancredo Neves, com o objetivo de reunir em um só lugar todas as formas de demonstração de arte e criatividade possíveis, para levá-las ao público da capital.
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O edifício Presidente Tancredo Neves faz parte de um conjunto de obras arquitetônicas assinadas por Oscar Niemeyer. Com o seu imenso projeto paisagístico, idealizado por Alda Rabello Cunha, o prédio conta com amplos espaços de convivência, café, restaurante, galerias, sala de cinema, teatro, salas multiuso, jardins e uma praça central para eventos abertos, onde são realizados shows, espetáculos e performances.

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Festa de Iemanjá, Ilha de Itaparica, BA, 2004. foto ©Walter Firmo / Acervo IMS






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