Crianças preferem passar mais tempo nos celulares do que com atividades lúdicas. Reprodução: Fábio Caffé/SGCOM/UFRJ.
Segundo o Instituto Delete, centro de uso consciente de tecnologias da UFRJ, 57% das crianças de até 5 anos já sabem utilizar aplicativos de smartphone
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Por Maria Rita Nader | Conexão UFRJ
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Pique-esconde, amarelinha, queimada e pega-pega. Brincadeiras de rua que, hoje, ficam nas sombras dos aparelhos eletrônicos, cada vez mais presentes no dia a dia das crianças. O uso excessivo de telas (celular, computador, tablet e televisão) é uma preocupação crescente, em especial com crianças menores de 10 anos. Segundo pesquisa do Instituto Delete, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 57% das crianças com até 5 anos já sabem utilizar aplicativos de smartphones, mas apenas 14% conseguem realizar tarefas simples do cotidiano, como amarrar os sapatos, por exemplo.
Não à toa o aumento da imersão infantil no universo digital tem causado apreensão sobre o impacto na saúde física, mental e social. A Lei nº 15.100/2025, sancionada em 13/01/2025, tenta frear a exposição excessiva às telas ao proibir o uso de eletrônicos portáteis nas escolas. A proibição vale para educação infantil e ensinos fundamental e médio de escolas públicas e particulares. Mas, para uso pedagógico, a utilização é permitida.
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A especialista em pediatria e neonatologia Alana Benevides Kohn alerta para os efeitos prejudiciais do uso excessivo de telas. “Pode causar um aumento de miopia, gerar distúrbios de sono e acabar diminuindo o tempo da criança em fazer atividades físicas”, aponta Kohn, médica pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Ela ressalta que, no futuro, o vício em telas pode acarretar problemas como obesidade e sedentarismo, além de distúrbios emocionais e comportamentais – aumento de ansiedade, depressão, dificuldade de socialização e aumento de comportamentos agressivos.
Uma pesquisa da Fiocruz intitulada Levantamento da Adequação de Crianças e Adolescentes Brasileiros às Diretrizes do Movimento 24 Horas antes e durante a Pandemia da Covid-19 aponta que a pandemia teve um impacto significativo no aumento do uso de tecnologias por crianças e adolescentes no Brasil. Antes, 67,22% das famílias limitavam o tempo diante de uma tela. Durante a pandemia, esse percentual caiu para 27,27%. Ou seja, computadores, celulares e televisões passaram a ser parte integral da vida das crianças. Até mesmo o horário escolar passou a ser mediado por telas.
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A professora do maternal do município do Rio de Janeiro Samira Davel, mãe da Maria Cecília, de 7 anos, vivencia no seu cotidiano o uso excessivo de aparelhos eletrônicos por crianças pequenas, com menos de 5 anos de idade: “Ao primeiro contato com quem vai buscá-la já solicita o telefone. Já ouvi relato de mães que diziam preferir que a criança ficasse com o telefone nas mãos, pois assim estava quieta, como se o celular tivesse o papel de mantê-la ‘sob controle’.”
Como mãe, Samira relata mais facilidade para manter sua filha distante dos eletrônicos, por meio de livros, tintas e brinquedos. Já Daniele Melo enfrenta uma realidade diferente. Mãe da Laura, de 8 anos, ela conta que não consegue controlar o uso de celulares e televisão, pois sua filha pega o aparelho sem que ela veja. Daniele diz que Laura vê desenhos desde antes dos 2 anos.
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Segundo Anna Lucia Spear King, doutora em saúde mental e fundadora do Instituto Delete, é importante diferenciar a má utilização da tecnologia de uma pessoa viciada nas telas. “Mesmo que o uso seja diário e por muitas horas, não significa que a pessoa é viciada patológica. Muitas vezes, nesse primeiro caso, ela é mal educada a usar as tecnologias porque não conhece limites e regras. Já a dependência digital, que se chama nomofobia, é vício”, explica Spear King. Por isso as crianças devem utilizar a tecnologia com restrições, a fim de evitarmos problemas em seu desenvolvimento.
No mês da campanha nacional do Janeiro Branco e do cuidado da saúde mental e física, discutir o uso dos dispositivos eletrônicos na infância é essencial. A médica Alana Kohn frisa sobre a necessidade de senhas nos aparelhos e orienta que sejam oferecidas às crianças alternativas atraentes de diversão. Um exemplo são as brincadeiras ao ar livre, que estimulam a interação social.
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A médica observa também que o indicado é criar um ambiente de equilíbrio para as crianças utilizarem aparelhos eletrônicos. “Quando a gente decidir que aquela criança de mais de 2 anos vai assistir a uma tela, é fundamental que o responsável tente acompanhar esse uso e consiga conversar sobre aquele conteúdo”, diz Kohn. É possível utilizar a tecnologia de forma saudável, sem excessos. Daí a importância da educação digital.
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*Texto supervisionado por Eugênia Lopes
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