terça-feira, dezembro 3, 2024

Marianne Moore – poemas

Marianne Moore*, nascida em 1887, foi uma das figuras mais importantes da poesia norte-americana. O choque inicial provocado pela originalidade de sua poesia logo foi substituído pela admiração de grandes poetas como Ezra Pound, T.S. Eliot, W.H. Auden e João Cabral de Melo Neto, entre outros. Morreu em 1972.

Homenagem renovada a Marianne Moore
Cruzando desertos de frio
que a pouca poesia não ousa,
chegou ao extremo da poesia
quem caminhou, no verso, em prosa.
E então mostrou, sem pregação,
com a razão de sua obra pouca,
que a poesia não é de dentro,
que é como casa, que é de fora;
que embora se viva de dentro
se há de construir, que é uma coisa
que quem faz faz para fazer-se

– muleta para perna coxa.
– João Cabral de Melo Neto, em “A educação pela pedra
e depois”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

A poeta entre os poetas

Poemas de Marianne Moore edição bilíngue 

Poemas de Marianne Moore em tradução de Augusto de Campos*

NÃO HÁ CISNE TÃO BELO
“Não há água tão quieta como as
fontes mortas de Versalhes”. Nem cisne tão
belo, esguio olhar cego de esguelha
e pernas gondoleantes, como
esse de porcelana com olhos foscos
de fauno e um colar auridenteado
para testificar de quem foi esta ave.

Encastoado numa árvore-candelabro
Luis XV com botões em flor
cor de cristal-de-galo, dálias,
ouriços do mar e semprevivas,
pousa em galhos de espuma, horto
de esculturadas e polidas
flores — altivo e plácido. O rei está morto.

*

NO SWAN SO FINE
“No water so still as the
dead fountains of Versailles.” No swan,
with swart blind look askance
and gondoliering legs, so fine
as the chinz china one with fawn-
brown eyes and toothed gold
collar on to show whose bird it was.

Lodged in the Louis Fifteenth
candelabrum-tree of cockscomb-
tinted buttons, dahlias,
sea-urchins, and everlastings,
it perches on the branching foam
of polished sculptured
flowers — at ease and tall. The king is dead.
– Marianne Moore [tradução Augusto de Campos]. in ZUNÁI* – Revista de poesia & debates (2003 – 2009).

§§

ÁGUA-VIVA
Visível, invisível,
um encanto flutuante
uma ametista âmbar-viva
….a habita, teu braço
se aproxima e ela abre
e fecha; o pensamento
de agarrá-la e ela estremece;
abandonas teu intento.

*

A JELLY-FISH
Visible, invisible,
a fluctuating charm
an amber-tinctured amethyst
inhabits it, your arm
approaches and it opens
and it closes; you had meant
to catch it and it quivers;
you abandon your intent.
– Marianne Moore [tradução Augusto de Campos]. in ZUNÁI – Revista de poesia & debates (2003 – 2009). acessado em 24.3.2019.

§§

UMA GARRAFA EGÍPCIA DE VIDRO SOPRADO
EM FORMA DE PEIXE
Há uma sede, que cresce,
desde o início, da paciência
….e da arte, como se uma onda se detivesse
….na perpendicularidade de sua essência;

não frágil, todavia,
intensa — o espectro em seu feixe
….de cores, e, espetacular e ágil, o peixe,
….espelho-escamas onde a espada do sol se desvia.

*

AN EGYPTIAN PULLED GLASS BOTTLE
IN THE SHAPE OF A FISH
Here we have thirst
.. and patience, from the first,
….. and art, as in a wave held up for us to see
….in its essential perpendicularity;

not brittle but
intense—the spectrum, that
….spectacular and nimble animal the fish,
….whose scales turn aside the sun’s sword by their polish.
– Marianne Moore [tradução Augusto de Campos]. in ZUNÁI – Revista de poesia & debates (2003 – 2009).

§§

ARTHUR MITCHELL*
Libélula sutil
rápida demais para o olho
…..enjaular —
gema contagiosa de virtuosidade —
visibiliza a mentalidade.
Tuas mobilidades de esmeralda

…….revelam
……….e velam
…………….pavão e cauda.

*

ARTHUR MITCHELL
Slim dragonfly toorapid for the eye
……to cage —
contagious gem of virtuosity —
make visible, mentality.
Your jewels of mobility

….. reveal
……….and veil
……………..a peacock-tail.
*Arthur Mitchell, 1934 – famoso dançarino negro americano de música moderna.
– Marianne Moore [tradução Augusto de Campos[. in ZUNÁI – Revista de poesia & debates (2003 – 2009).

revistaprosaversoearte.com - Marianne Moore - poemas
Poeta, de Marianne Moore, em ‘intradução’ de Augusto de Campos
(publicado originalmente na revista Musa Rara, em 8.3.2012)
revistaprosaversoearte.com - Marianne Moore - poemas
Poetry, de Marianne Moore, em ‘intradução’ de Augusto de Campos
(publicado originalmente na revista Musa Rara, em 8.3.2012)

POESIA
Eu também a abomino: há coisas mais importantes do que todo esse desatino.
….Lendo-a, todavia, com total desdém, é possível que se presuma
….ali, afinal, um lugar para o genuíno.
……. Olhos dilatados, frio
….nas mãos, arrepio,
……..nos cabelos, essas coisas não são importantes porque uma

interpretação altissonante as pode moldar, mas porque são
….úteis. Quando elas se tornam tão derivativas a ponto de ficarem ininteligíveis,
….o mesmo vale para todos nós, a gente
…..não sente
….o que não entende; morcego de ponta-
………..cabeça à busca de alguma

janta, tranco de elefantes, pinote de potranca, lobo sem des-
….canso à caça, o indefectível crítico a torcer
….a pele como um cavalo com pulgas, o fã de beise-
……bol, o estatístico,
…….nem é lícito
………..discriminar “os documentos comerciais e os

livros escolares”, todos esses fenômenos são importantes. Com uma distinção,
….porém; quando enaltecidos por semipoetas, o resultado não é poesia,
….nem até que os nossos poetas possam ser
……“literalistas da
….imaginação” – desistam da
………..insolência e da trivialidade e possam oferecer

para inspeção, “jardins imaginários com sapos reais”, chegaremos a obtê-
….la. Nesse ínterim, se você demandar, por uma via,
….a matéria bruta da poesia em
…….toda a sua bruteza e,
……por outra via, o que é
…………genuíno, então você se interessa por poesia.

*

POETRY
I, too, dislike it: there are things that are important beyond all this fiddle.
….Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in
….it, after all, a place for the genuine.
…….Hands that can grasp, eyes
…..that can dilate, hair that can rise
……….if it must, these things are important not because a

high-sounding interpretation can be put upon them but because they are
….useful. When they become so derivative as to become unintelligible,
….the same thing may be said for all of us, that we
….do not admire what
….. we cannot understand: the bat
…….. holding on upside down or in quest of something to

eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless wolf under
….. a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
….that feels a flea, the baseball
fan, the statistician −
….nor is it valid
……..to discriminate against “business documents and

school-books”; all these phenomena are important. One must make a distinction
…..however: when dragged into prominence by half poets, the result is not poetry,
….nor till the poets among us can be
“literalists of
…..the imagination” − above
……..insolence and triviality and can present

for inspection, “imaginary gardens with real toads in them,” shall we have
…..it. In the meantime, if you demand on the one hand,
….the raw material of poetry in
all its rawness and
….that which is on the other hand
………..genuine, you are interested in poetry
– Marianne Moore [tradução Augusto de Campos]. em “Outro”. Augusto de Campos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2015. (publicado originalmente na revista Musa Rara, em 8.3.2012)

§§

POESIA
Eu também a abomino.
…..Lendo-a, porém, com total desdém, a gente des-

…cobre ali, afinal, um lugar para o genuíno.

*

POETRY
I, too, dislike it.
….Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in

…..it, after all, a place for the genuine.
– Marianne Moore [tradução Augusto de Campos]. em “Outro”. Augusto de Campos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2015. (publicado originalmente na revista Musa Rara, em 8.3.2012)

§§

Poemas de Marianne Moore em tradução de José Antonio Arantes

POESIA
Também não gosto.
…..Lendo-a, no entanto, com total desprezo, a
……………………………..[ gente acaba descobrindo
…..nela, afinal de contas, um lugar para o genuíno.

*

POETRY
I, too, dislike it.
…..Reading it, however, with a perfect contempt
……………………………..[ for it, one discovers in
…..it, after all, a place for the genuine.
– Marianne Moore, em “Poemas. Marianne Moore”. [tradução José Antonio Arantes; capa Moema Cavalcanti]. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

§§

UMA COVA
Homem mirando o mar,
tirando a visão daqueles que têm tanto direito a ela quanto você tem,
é da natureza humana ficar no meio das coisas,
mas no meio desta você não pode ficar.
o mar nada tem a dar a não ser uma cova bem cavada.
Os abetos se erguem em procissão, cada qual com um pé de peru esmeralda no alto,
discretos como seus contornos, dizendo nada;
repressão, no entanto, não é a mais óbvia característica do mar;
o mar é um coletor, pronto para devolver um olhar rapace.
Outros fora você ostentaram este olhar –
cuja expressão não é mais um protesto; os peixes não mais o investigam
porque seus ossos não sobreviveram:
os homens lançam redes, inconscientes de que profanam uma cova,
e partem vogando velozes – as pás dos remos
movendo-se juntas que nem patas de aranhas-aquáticas, como se não existisse a morte.
Os franzidos das águas marcham em falange – belos sob as malhas de espuma,
e somem arfando enquanto o mar vai e vem bramindo entre as plantas marinhas;
os pássaros cruzam o ar num zás, soltando guinchos como dantes –
a concha da tartaruga açoita os pés das rochas, em movimento embaixo delas;
e o oceano, sob a pulsação de faróis e ruídos de bóias sonoras,
avança como sempre, como se não fosse o oceano no qual as coisas que caem estão fadadas a afundar –
no qual, se se viram e reviram, é sem vontade e sem consciência.

*

A GRAVE
Man looking into the sea,
taking the view from those who have as much right to it as you have to it yourself,
it is human nature to stand in the middle of a thing,
but you cannot stand in the middle of this;
the sea has nothing to give but a well excavated grave.
The firs stand in a procession, each with an emerald turkey-foot at the top,
reserved as their contours, saying nothing;
repression, however, is not the most obvious characteristic of the sea;
the sea is a collector, quick to return a rapacious look.
There are others besides you who have worn that look –
whose expression is no longer a protest; the fish no longer investigate them
for their bones have not lasted:
men lower nets, unconscious of the fact that they are desecrating a grave,
and row quickly away — the blades of the oars
moving together like the feet of water-spiders as if there were no such thing as death.
The wrinkles progress among themselves in a phalanx – beautiful under networks of foam,
and fade breathlessly while the sea rustles in and out of the seaweed;
the birds swim throught the air at top speed, emitting cat-calls as heretofore –
the tortoise-shell scourges about the feet of the cliffs, in motion beneath them;
and the ocean, under the pulsation of lighthouses and noise of bell-buoys,
advances as usual, looking as if it were not that ocean in which dropped things are bound to sink –
in which if they turn and twist, it is neither with volition nor consciousness.
– Marianne Moore, em “Poemas. Marianne Moore”. [tradução e posfácio José Antônio Arantes; Seleção João Moura Junior]. Edição bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

§§

O QUE SÃO OS ANOS?
O que é nossa inocência,
nossa culpa? Frágeis, somos,
………..vulneráveis. E de onde vem a
coragem: a pergunta sem resposta,
a resoluta dúvida –
muda chamando, surda ouvindo – que
no infortúnio, na morte mesmo,
………..encoraja outras ainda
………..e em sua derrota anima

………..a alma a ser forte? Compraz-se
e com perspicácia vê
………..quem a mortalidade abrace
e no confinamento contra si
mesmo se volte, assim
como o mar que no abismo intenta ser
livre mas, incapaz de ser,
………..no ato de capitular
………..encontra seu perdurar.

………..Quem no sentimento espera
assim age. O próprio pássaro,
………..que ao cantar se engrandece, acera
o corpo aprumado. Embora cativo,
seu poderoso trino
diz: o contentamento é humilde;
quão puro é o regozijo.
…..Isto é mortalidade,
…..isto é eternidade.

*

WHAT ARE YEARS?
….What is our innocence,
what is our guilt? All are
….naked, none is safe. And whence
is courage: the unanswered question,
the resolute doubt,—
dumbly calling, deafly listening—that
in misfortune, even death,
……encourages others
……and in its defeat, stirs

….the soul to be strong? He
sees deep and is glad, who
….accedes to mortality
and in his imprisonment rises
upon himself as
the sea in a chasm, struggling to be
free and unable to be,
……in its surrendering
……finds its continuing.

…..So he who strongly feels,
behaves. The very bird,
…..grown taller as he sings, steels
his form straight up. Though he is captive,
his mighty singing
says, satisfaction is a lowly
thing, how pure a thing is joy.
……This is mortality,
……this is eternity.
– Marianne Moore, em “Poemas. Marianne Moore”. [tradução e posfácio José Antônio Arantes; Seleção João Moura Junior]. Edição bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

§§

OS PEIXES
vade-
ando negro jade.
…..Das conchas azul-corvo um marisco
…..só ajeita os montes de cisco;
………. no que vai se abrindo e fechando

é que
nem ferido leque.
…..Os crustáceos que incrustam o flanco
…..da onda ali não encontram canto,
……….porque as setas submersas do

sol,
vidro em fibras sol-
…..vidas, passam por dentro das gretas
…..com farolete ligeireza —
……….iluminando de vez em

vez
o oceano turquês
…..de corpos. A correnteza crava
…..na quina férrea da fraga
……….uma cunha de ferro; e estrelas,

grãos
de arroz róseos, mães-
…..d’água tintas, siris que nem lírios
…..verdes e fungos submarinos
……….vão deslizando uns sobre os outros.

As
marcas externas
…..de mau-trato estão todas presentes
…..neste edifício resistente —
………. todo resquício material

de a-
cidente — ausência
…..de cornija, machadadas, queima e
…..sulcos de dinamite — teima em
………..ressaltar; já não é o que era

cova.
Repetida prova
…..demonstrou que ele pode viver
…..do que não pode reviver
………..seu viço. O mar nele envelhece.

*

THE FISH
wade
through black jade.
…..Of the crow-blue mussel-shells, one keeps
…..adjusting the ash-heaps;
……….opening and shutting itself like

an
injured fan.
…..The barnacles which encrust the side
…..of the wave, cannot hide
……….there for the submerged shafts of the

sun,
split like spun
…..glass, move themselves with spotlight swiftness
…..into the crevices —
……….in and out, illuminating

the
turquoise sea
…..of bodies. The water drives a wedge
…..of iron through the iron edge
……….of the cliff; whereupon the stars,

pink
rice-grains, ink-
…..bespattered jelly fish, crabs like green
…..lilies, and submarine
……….toadstools, slide each on the other.

All
external
…..marks of abuse are present on this
…..defiant edifice —
…………all the physical features of

ac-
cident — lack
…..of cornice, dynamite grooves, burns, and
…..hatchet strokes, these things stand
……….out on it; the chasm-side is

dead.
Repeated
…..evidence has proved that it can live
……on what can not revive
……….its youth. The sea grows old in it.
– Marianne Moore, em “Poemas. Marianne Moore”. [tradução e posfácio José Antônio Arantes; Seleção João Moura Junior]. Edição Bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

§§

A UM CARACOL
Se “compressão é a graça principal do estilo”,
você a tem. Contratilidade é uma virtude
como modéstia é uma virtude.
Não é a aquisição de uma coisa qualquer
capaz de enfeitar,
ou a propriedade acidental que ocorre
como complemento de algo bem dito,
que prezamos no estilo,
mas o princípio oculto:
na ausência de pés, “um método de conclusões”;
“um conhecimento de princípios”,
no curioso fenômeno de sua antena occipital.

*

TO A SNAIL
If “compression is the first grace of style”,
you have it. Contractility is a virtue
as modesty is a virtue.
It is not the acquisition of any one thing
that is able to adorn,
or the incidental quality that occurs
as a concomitant of something well said,
that we value in style,
but the principle that is hid:
in the absence of feet, “ a method of conclusions”;
“a knowledge of principles”,
in the curious phenomenon of your occipital horn.
– Marianne Moore, Poemas. [tradução e posfácio José Antônio Arantes; Seleção de João Moura Junior]. Edição bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

§§

A UMA GIRAFA
Se é inadmissível, de fato fatal,
ser pessoal e indesejável

ser literal – e até mau, por sinal,
se o olho não é inocente – será que

se pode viver só das folhinhas do alto
acessíveis só a um bicho escomunal? –

do qual o melhor exemplo é a girafa –
o inconversável animal.

Quando o psíquico o deixa mal,
um ser que teria sido insuperável

pode muito bem se tomar insuportável;
ou, mais exato, excepcional,

já que bem menos conversável
que um animal com algum bloqueio emocional.

……….Afinal,
…..pode bem ser abismal
…..o alívio metafísico. Em Homero, a vida

…..é falha; a transcendência, condicional;
…..“a via do pecado à redenção, eternal”.

Em: “Me diz, me diz” (1966)

*

TO A GIRAFFE
If it is unpermissible, in fact fatal
to be personal and desirable

to be literal – detrimental as well
if the eye is not innocent – does it mean that

one can live only on top leaves that are small
reachable only by a beast that is tall? –

of which the giraffe is the best example –
the unconversational animal.

When plagued by the psychological,
a creature can be unbearable

that could have been irresistible;
or to be exact, exceptional

since less conversational
than some emotionally-tied-in-knots animal.

………….After all
…..consolations of the metaphysical
…..can be profound. In Homer, existence

…..is flawed; transcendence, conditional;
…..“the journey from sin to redemption, perpetual.”

…..In: “Tell me, tell me” (1966)
– Marianne Moore, em “Poemas. Marianne Moore”. [tradução e posfácio José Antônio Arantes; Seleção João Moura Junior]. Edição Bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

§§

POESIA
Também não gosto: há coisas mais importantes que toda essa baboseira.
Lendo-a, no entanto, com total desprezo, a gente acaba descobrindo
nela, afinal de contas, um lugar para o genuíno.
Mãos que agarram, olhos
que se dilatam, cabeleira que se eriça
quando preciso, são coisas importantes, não porque se

lhes pode impor pomposa interpretação mas por serem
úteis. Quando se tornam tão derivativas que ficam ininteligíveis,
o mesmo se pode dizer de todos nós, pois
não admiramos aquilo que
somos incapazes de compreender: o morcego
pendurado de ponta-cabeça ou em busca de algum

alimento, elefantes em marcha, um cavalo selvagem a se espojar, um lobo
infatigável embaixo
de uma árvore, o crítico impassível a crispar a pele como um cavalo mordido
por pulga, o fã do
beisebol, o estatístico —
nem é válido
ter preconceito contra “documentos comerciais e
livros didáticos” *; todos esses fenômenos são importantes. Contudo, a gente deve
fazer uma
distinção: se um semipoeta os realça à força, o resultado não é poesia,
nem, enquanto nossos poetas não forem “literalistas
da imaginação” ** — acima
da insolência e da trivialidade — e não apresentarem

para inspeção “jardins imaginários com sapos de verdade”, teremos acesso a
ela. Até lá, se exigir, por um lado,
a matéria-prima da poesia em
toda a sua primariedade e
aquilo que é, por outro lado,
genuíno, então você tem interesse por poesia.

*

POETRY
I, too, dislike it: there are things that are important beyond all this fiddle.
….Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in
….it, after all, a place for the genuine.
…….Hands that can grasp, eyes
…..that can dilate, hair that can rise
……….if it must, these things are important not because a

high-sounding interpretation can be put upon them but because they are
….useful. When they become so derivative as to become unintelligible,
….the same thing may be said for all of us, that we
….do not admire what
….. we cannot understand: the bat
…….. holding on upside down or in quest of something to

eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless wolf under
….. a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
….that feels a flea, the baseball
fan, the statistician −
….nor is it valid
……..to discriminate against “business documents and

school-books”; all these phenomena are important. One must make a distinction
…..however: when dragged into prominence by half poets, the result is not poetry,
….nor till the poets among us can be
“literalists of
…..the imagination” − above
……..insolence and triviality and can present

for inspection, “imaginary gardens with real toads in them,” shall we have
…..it. In the meantime, if you demand on the one hand,
….the raw material of poetry in
all its rawness and
….that which is on the other hand
………..genuine, you are interested in poetry
– Marianne Moore, em “Poemas. Marianne Moore”. [tradução e posfácio José Antônio Arantes; Seleção João Moura Junior]. Edição Bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
____________
* Diário de Tolstói: “Jamais serei capaz de compreender onde fica a fronteira entre prosa e poesia. Essa questão é discutida em manuais de estilo, mas não alcanço a resposta. Poesia é verso; prosa não é verso. Ou então poesia é tudo exceto documentos comerciais e livros didáticos”.
** Literalistas da imaginação. Yeats, Ideas of good and evil (A. H. Bullen, 1903), p. 182. “A limitação de sua visão derivava da própria intensidade de sua visão; era um realista da imaginação demasiado literal, assim como outros o são da natureza; e, como estava convencido de que as figuras vistas pelos olhos da mente, quando a inspiração as exaltava, eram ‘existências eternas’, símbolos das essências divinas, repudiava toda graça de estilo que pudesse obscurecer suas características.”

§§

Poema de Marianne Moore traduzido pelo poeta Mário Faustino

POESIA
Eu também não gosto lá muito dela: há coisas mais importantes
………………… que toda essa charanga.
Lendo-a, todavia, com o mais perfeito desdém, a gente acaba
…………………….descobrindo
nela, afinal de contas, um lugar para o genuíno.
…….Mãos que podem apertar, olhos
…….que se podem dilatar, cabelo capaz de eriçar-se
…………..se for preciso, tais coisas são importantes não porque uma

grandiloquente interpretação lhes possa ser aposta mas
…………………porque são
úteis. E se ficam tão derivativas que chegam a ser
……………………….ininteligíveis,
…….o mesmo se poderá dizer de qualquer um de nós, que não
…………..admiramos aquilo que
…………..não podemos compreender: o morcego
…………………pendurado de cabeça para baixo ou em busca de algo
……………………….que

comer, os elefantes empurrando, um cavalo selvagem se espojando,
…………………incansável lobo debaixo de
uma árvore, o crítico estacionário encolhendo a pele como um
…………………cavalo picado por um mosquito, o fan de base-
…….ball, o estatístico ―
…………..e nem está direito
…………………discriminar contra “documentos comerciais e

livros escolares”; todos esses fenômenos são importantes. A gente
……………………….deve fazer uma distinção
…….contudo: quando eles são arrastados à preeminência por semipoetas,
……………………….o resultado não é poesia,
…….e nem ― até que os poetas dentre nós possam ser
…………..“literalistas da
…………..imaginação”, acima
…………………do insolente e do trivial e possam apresentar a quem

quiser inspecionar, jardins imaginários contendo sapos de verdade ―
……………………….é que ela será
…….nossa. Enquanto isso, se você exigir por um lado
…….a matéria-prima da poesia
…………todo o seu primarismo e
…………aquilo que é por outro lado
…………….genuíno, então você se interessa por poesia.

*

POETRY
I, too, dislike it: there are things that are important beyond all this fiddle.
….Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in
….it, after all, a place for the genuine.
…….Hands that can grasp, eyes
…..that can dilate, hair that can rise
……….if it must, these things are important not because a

high-sounding interpretation can be put upon them but because they are
….useful. When they become so derivative as to become unintelligible,
….the same thing may be said for all of us, that we
….do not admire what
….. we cannot understand: the bat
…….. holding on upside down or in quest of something to

eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless wolf under
….. a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
….that feels a flea, the baseball
fan, the statistician −
….nor is it valid
……..to discriminate against “business documents and

school-books”; all these phenomena are important. One must make a distinction
…..however: when dragged into prominence by half poets, the result is not poetry,
….nor till the poets among us can be
“literalists of
…..the imagination” − above
……..insolence and triviality and can present

for inspection, “imaginary gardens with real toads in them,” shall we have
…..it. In the meantime, if you demand on the one hand,
….the raw material of poetry in
all its rawness and
….that which is on the other hand
………..genuine, you are interested in poetry
– Marianne Moore [tradução Mário Faustino]. em ‘Poesia completa e traduzida. Mário Faustino’. [organização Benedito Nunes]. São Paulo: Max Limonard, 1985.

§§

Poemas de Marianne Moore em tradução de Maria Lourdes Guimarães

PARA UMA AVE PRESA
Convéns-me, pois nem sequer te tomo a sério,
e não ficas cega pela palha que rodopia
ao ser trazida de uma meda pelos ventos.

Sabes pensar e o que pensas dizes
com muito do orgulho e fria firmeza
de Sansão, e ninguém ousa deter-te.

O orgulho assenta-te bem, tão empertigada, ave colossal.
Nenhuma capoeira te faz parecer absurda;
às tuas garras atrevidas são fortes, contra a derrota.

*

TO A PRIZE BIRD
You suit me well, for you can make me laugh,
nor are you blinded by the chaff
that every wind sends spinning from the rick.

You know to think, and what you think you speak
with much of Samson’s pride and bleak
finality, and none dare bid you stop.

Pride sits you well, so strut, colossal bird.
No barnyard makes you look absurd;
your brazen claws are staunch against defeat.
– Marianne Moore, em “Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop”. [tradução Maria Lourdes Guimarães[. Colecção o Aprendiz de Feiticeiro. Porto: Campo das Letras, 1999.

§§

A EMBALSAMADA POLÍTICA
Nada há a dizer a teu favor. Guarda
o teu segredo. Oculta-o sob a tua plumagem
……….áspera, necromante.
………………..Ó
ave, cujas tendas foram “toldos de fio
egípcio”, a vaga inscrição em ziguezague da Justiça
……….– inclinando-se como uma bailarina –
………………..há-de mostrar
a força da sua soberania outrora viva?
Dizes que não, e transmigrando do
……….sarcófago, tu és como o vento,
………………..a neve,
o silêncio à nossa volta, com a voz de um moribundo,
semi-titubeante e semi-senhoril, tu espias
……….em redor. Íbis, em ti qualquer virtude
………………..não
existe – tu, que estás viva, mas tão silenciosa.
O comportamento discreto não é agora a síntese
……….do bom senso do estadista.
………………..Mesmo
que fosse a encarnação da graça morta?
Como se uma máscara da morte pudesse alguma vez substituir
………. a excelência imperfeita da vida!
………………..Lenta
até para reparar no íngreme e rígido equilíbrio
do teu trono, hás-de ver a forte distorção
……….dos sonhos suicidas
………………..passar
cambaleante em sua direcção e com o bico
atacar a sua própria identidade, até
……….o inimigo parecer amigo e o amigo parecer
………………..inimigo.

*

TO STATECRAFT EMBALMED
There is nothing to be said for you. Guard
Your secret. Conceal it under your “hard
Plumage,” necromancer.
……….O
Bird, whose “tents” were “awnings of Egyptian
Yarn,” shall Justice’ faint, zigzag inscription—
Leaning like a dancer—
……….Show
The pulse of its once vivid sovereignty?
You say not, and transmigrating from the
Sarcophagus, you wind
……….Snow
Silence round us and with moribund talk,
Half limping and half ladified, you stalk
About. Ibis, we find
……….No
Virtue in you—alive and yet so dumb.
Discreet behavior is not now the sum
Of statesmanlike good sense.
……….Though
It were the incarnation of dead grace?
As if a death mask ever could replace
Life’s faulty excellence!
……….Slow
To remark the steep, too strict proportion
Of your throne, you’ll see the wrenched distortion
Of suicidal dreams.
……….Go
Staggering toward itself and with its bill,
Attack its own identity, until
Foe seems friend and friend seems
……….Foe.
– Marianne Moore, em “Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop”. [tradução Maria Lourdes Guimarães[. Colecção o Aprendiz de Feiticeiro. Porto: Campo das Letras, 1999.

§§

Poemas de Marianne Moore em tradução de João Ferreira Duarte

TERRA NEGRA*
Abertamente, sim,
com a naturalidade
…..do hipopótamo ou do jacaré
…..quando sobe para a margem para sentir o

sol, faço estas coisas que faço,
que me agradam
…..a mim e a mais ninguém. Ora respiro, ora estou sub-mergida;
….. os defeitos erguem-se e gritam quando o objecto

em vista era um
renascimento; devo dizer
…..o contrário’? O sedimento do rio que
…..me incrusta os membros torna-me grisalha, mas habituei-me

a isso, pode aí
ficar; acabem
…..com isso e serei eu própria que acabo, pois a
…..pátina da circunstância só pode enriquecer o que

já lá se
encontrava. Esta pele de elefante
…..que habito, coberta de fibras como a casca do
…..coco, este pedaço de erva negra que não deixa penetrar qualquer

luz — talhada
em xadrez por cio
…..após cio de experiência inevitável
…..é um compêndio para os de língua em forma de amendoim

e os de dedos peludos. Negro
mas belo, o meu dorso
…..está repleto da história do poder. Do poder? O que
…..é poderoso e o que não é? A minha alma não será nunca

trespassada
por uma lança de madeira; durante
…..a infância e até ao presente, a unidade da
…..vida e da morte tem sido expressa pela circunferência

descrita pelo meu
tronco; no entanto
…..compreendo que as façanhas são inexplicáveis
…..afinal; e estou precavida; pose à superfície, tem

o centro bem
alimentado – sabemos
…..de quê — de orgulho; mas a pose espiritual tem o centro onde?
…..Os meus ouvidos são sensíveis a mais do que o som

do vento. Vejo
e ouço, ao contrário do
…..corpo-vara de que tanto se ouve falar, que foi feito
…..para ver e para não ver; para ouvir e para não ouvir,

este tronco de árvore sem
raízes, habituado a gritar
…..para si os pensamentos como concha, mantido intacto
…..por sabe-se lá que estranha pressão da atmosfera; este

irmão em
espírito da planta
…..do coral, absorvida na qual a equânime luz de safira
…..se torna num verde nebuloso. O eu de cada um é para

o eu de cada um
uma espécie de fala irascível
…..que impõe um limite a si própria; será o elefante
…..terra negra precedida de gavinha? Comparado com aqueles

fenómenos
que vacilam como uma
…..translucidez da atmosfera, o elefante é
…..aquilo em que flechas não entram decisivamente à primeira

vez, uma substância
necessária como exemplo
…..da indestrutibilidade da matéria; tem
…..olhado a electricidade e o terra-

moto e ainda aqui
está; o nome significa espesso. Será que
…..o fundo é fundo, a pele espessa, espessa para quem não vê
…..nenhum belo elemento irracional por baixo?

*

BLACK EARTH
Openly, yes,
with the naturalness
…..of the hippopotamus or the alligator
…..when it climbs out on the bank to experience the

sun, I do these
things which I do, which please
…..no one but myself. Now I breathe and now I am sub-
…..merged; the blemishes stand up and shout when the object

in view was a
renaissance; shall I say
…..the contrary? The sediment of the river which
…..encrusts my joints, makes me very gray but I am used

to it, it may
remain there; do away
…..with it and I am myself done away with, for the
…..patina of circumstance can but enrich what was

there to begin
with. This elephant skin
…..which I inhabit, fibred over like the shell of
…..the cocoanut, this piece of black glass through which no
………………..light

can filter – cut
into checkers by rut
…..upon rut of unpreventable experience –
…..it is a manual for the peanut-tongued and the

hairy toed. Black
but beautiful, my back
…..is full of the history of power. Of power? What

…..is powerful and what is not? My soul shall never

be cut into
by a wooden spear: through-
…..out childhood to the present time, the unity of
…..life and death has been expressed by the circumference

described by my
trunk; nevertheless, I
…..perceive feats of strength to the inexplicable after
…..all; and I am on my guard; external poise, it

has its centre
well nurtured – we know
…..where – in pride, but spiritual poise, it has its centre
…………………………….where?
…..My ears are sensitized to more than the sound of

the wind. I see
and I hear, unlike the
…..wandlike body of which one hears so much, which was
……………………..made
…..to see and not to see; to hear and not to hear;

that tree trunk without
roots, accustomed to shout
…..its own thoughts to itself like a shell, maintained intact
…..by one who knows what strange pressure of the atmos-
…………………….phere; that

spiritual
brother to the coral
…..plant, absorbed into which, the equable sapphire light
…..becomes a nebulous green. The I of each is to

the I of each,
a kind of fretful speech
…..which sets a limit on itself; the elephant is?
…..Black earth preceded by a tendril? It is so that

phenomenon
the above formation,
…..translucent like the atmosphere – a cortex merely –
…..that on which darts cannot strike decisively the first

time, a substance
needful as an instance
…..of the indestructibility of matter; it
…..has looked at the electricity and at the earth–

quake and is still
here; the name means thick. Will
……depth the depth, thick skin be thick, to one who can see no
…..beautiful element of unreason under it?
– Marianne Moore, em “Leituras poemas do inglês: poesia contemporânea de expressão inglesa”. [selecção, prefácio e tradução de João Ferreira Duarte]. Lisboa: Relógio de Água, 1993.

* nota do tradutor: Seria um poema da metamorfose, se existissem duas formas, uma antes e outra depois. Mas porque falta presumivelmente a primeira, teremos de supor que o poema da poeta norte-americana Marianne Moore, nascida em 1887, se trata de um texto sobre a corporalização de um eu numa capa, numa pele, numa máscara sem rosto, numa superfície sem fundo e numa circunferência sem centro. Sendo mero invólucro material, o eu não tem exterior nem interior, e o poema pode prosseguir numa táctica de diversão, interrogação e interrupção, rejeitando os clássicos artifícios da identidade, porque, afinal, eu sou apenas um nome, “espesso”, e o meu discurso não é a minha expressão, como no romantismo, mas a fala dessa espessura.

§§

Poemas de Marianne Moore em tradução de Rui Knopfli

SILÊNCIO
Meu pai costumava dizer:
“As pessoas superiores nunca fazem visitas prolongadas,
têm de a campa de Longfellow
ou as flores de vidro de Harvard.
Auto-suficientes como o gato –
que, pendendo-lhe da boca a cauda do rato
como um atilho bamboleante,
leva a presa para a intimidade –
por vezes apreciam a solitude
e podem ser privadas do discurso
pelo discurso que as deliciara.
Os sentimentos mais profundos manifestam-se sempre
em silêncio;
em silêncio não, mas de novo comedido.
Tão pouco era insincero quando dizia:
“faça de minha casa a sua hospedaria”.
Hospedarias não são residências.

*

SILENCE
My father used to say,
“Superior people never make long visits,
have to be shown Longfellow’s grave
nor the glass flowers at Harvard.
Self reliant like the cat —
that takes its prey to privacy,
the mouse’s limp tail hanging like
a shoelace from its mouth —
they sometimes enjoy solitude,
and can be robbed of speech
by speech which has delighted them.
The deepest feeling always
shows itself in silence;
not in silence, but restraint.”
Nor was he insincere in saying,
“Make my house your inn.”
Inns are not residences.
– Marianne Moore [tradução de Rui Knopfli], em “Caliban 3/4 – edição fac-similada. Maputo: Instituto Camões. Centro cultural Português, 1996 (1972).

***

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Marianne Moore – a poeta entre os poetas

*Marianne Moore, foi uma poeta modernista americana, nascida em 1887, em Kirkwood, Missouri. Junto com os pais, Marianne morou na casa de seu avô, um pastor presbiteriano, até 1905, quando ingressou na universidade de Bryn Mawr, no estado da Pennsylvania, graduando-se quatro anos depois. Foi professora até 1915, quando começou a publicar poesia profissionalmente, sendo influenciada pelo trabalho de grandes nomes como Wallace Stevens, T. S. Eliot e Ezra Pound. De 1925 a 1929, Moore trabalhou como editora do jornal literário The Dial, onde pôde encorajar o trabalho de jovens poetas americanos como Elizabeth Bishop, Allen Ginsberg, John Ashbery e James Merrill. Muito admirada, a poeta recebeu vários prêmios, incluindo o Pulitzer em 1951, por seus Poemas Reunidos, tornandose uma espécie de celebridade nos círculos literários de Nova York. Seus poemas foram publicados em diversos jornais norte-americanos, além da publicação de vários livros contendo sua obra poética e crítica. Em 1955, Moore foi convidada pelo departamento de marketing da Ford a participar da escolha do nome do novo modelo de carro elétrico da empresa, com “nomes inspiracionais”, algo inédito para o setor. Em 1972, após sofrer uma série de AVCs, Moore faleceu na cidade de Nova York, sem nunca ter se casado.
:: Fonte: Poesia feminina de língua inglesa: Dickinson, Plath e Moore. [organização Gleicienne Fernandes; vários tradutores]. Coleção Viva Voz. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2010.

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Marianne Moore – a poeta entre os poetas

OBRA DE MARIANNE MOORE PUBLICADA NO BRASIL
:: Poemas. Marianne Moore. [tradução e posfácio de José Antônio Arantes; seleção de João Moura Junior]. Edição bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

Antologia (participação)
:: Poesia dos Estados Unidos. [tradução Oswaldino Marques]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966.
:: Poetas norte-americanos: antologia bilíngue. [tradução Paulo Vizioli]. Rio de Janeiro: Lidador, 1976.
:: Poesia completa e traduzida. Mário Faustino. [organização Benedito Nunes]. São Paulo: Max Limonard, 1985.
:: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. [Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos]. São Paulo: Edições Invenção, 1965; 2ª ed., ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1975; 3ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1987; 5ª ed., Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2006. {‘O peixe’, de Moore, em tradução Augusto de Camposº}.
:: Poesia feminina de língua inglesa: Dickinson, Plath e Moore. [organização Gleicienne Fernandes; vários tradutores]. Coleção Viva Voz. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2010.

Entrevistas (coletânea)
MAFFEI, Marcos (sel.). Os escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. {com Marianne Moore, Henry Miller, Ernest Hemingway, William Carlos Williams, Blaise Cendrars, Jean Cocteau, Isak Dinesen, Christopher Isherwood, W. H. Auden, Vladimir Nabokov, Anthony Burgess, Jack Kerouac, Bernard Malamud, Kurt Vonnegut, Gabriel García Márquez, Philip Roth.. Literatura e Arte}.. [entrevistas realizadas por Stanley Koehler; tradução Luiza Helena Martins Correia]. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

MARIANNE MOORE PUBLICADO EM PORTUGAL
:: Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop. [tradução Maria Lourdes Guimarães; ilustrações Armanda Passos]. Colecção o Aprendiz de Feiticeiro. Porto: Campo das Letras, 1999.
:: O Pangolim e outros poemas. Marianne Moore. [tradução, selecção e posfácio Margarida Vale de Gato]. Antologia bilíngue. Lisboa: Relógio D’Água, 2018.

Antologia (poesia)
:: Leituras poemas do inglês: poesia contemporânea de expressão inglesa. [selecção, prefácio e tradução de João Ferreira Duarte]. Lisboa: Relógio de Água, 1993.
:: Caliban 3/4. [edição e coordenação de J. P. Grabato Dias e Rui Knopfli]. Lourenço Marques {atual Maputo}, 1972; reedição: Caliban 3/4: edição fac-similada. Rui Knopfli. [textos introdutórios de Nélson Saúte, Eugénio Lisboa e António Sopa]. Maputo: Instituto Camões. Centro cultural Português, 1996. (poemas de Moore: ‘Nenhum cisne tão fino’ – ‘Que são anos?’ – ‘Silêncio’ – ‘Uma garrafa de vidro soprado em forma de peixe’, em tradução Rui Knopfli).

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Marianne Moore and a cockatoo, 1954

Fortuna crítica Marianne Moore
ALVES, Lourdes Silva Modesto. A procura da poesia: Um olhar sob a metalinguagem em Marianne Moore e Carlos Drummond de Andrade. (Monografia em Licenciatura Letras). Universidade do Estado da Bahia, UNEB, 2012. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019).
ARANTES, José Antonio. Camaleoa numa folha, in Marianne Moore – Poemas. São Paulo, Companhia das Letras, 1991. p. 91.
CASTELLO, José. Marianne Moore hoje. in Rascunhos, edição 157, abril de 2013. Disponível no link. | e blog OGlobo. (acessado em 23.3.2019).
LIMA, Dalcin. Marianne Moore. perfil bibliográfico. in ArsPoeticaethumanitas, 15 de fevereiro de 2015. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019)
MAVERICCO, Matheus. Os cardumes de Marianne Moore. in FormasFixas, 4 de dezembro de 2014. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019).
MAVERICCO, Matheus. Um poema de Marianne Moore à luz da alteridade. in FormasFixas, 31 de julho de 2015. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019).
OLIVEIRA, Fábio José Santos de.. A lâmina que opera: um estudo sobre João Cabral e Marianne Moore. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 68, p. 145-163, dez. 2017. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019).
PEREIRA, Cristina Monteiro de Castro. Travestindo-se para viver ou Nunca se falou tanto em Marianne Moore. in Modo de Usar & CO, 17 de março de 2012. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019).
POEMAS*. Marianne Moore [tradução Augusto de Campos]. ZUNÁI – Revista de poesia & debates. Disponível no link. (acessado em 23.3.2019).

O sim contra o sim
Marianne Moore, em vez de lápis,
emprega quando escreve
instrumento cortante:
bisturi, simples canivete.
Ela aprendeu que o lado claro
das coisas é o anverso
e por isso as disseca:
para ler textos mais corretos.
Com mão direta ela as penetra,
com lápis bisturi,
e com eles compõe,
de volta, o verso cicatriz.
E porque é limpa a cicatriz,
econômica, reta,
mais que o cirurgião
se admira a lâmina que opera
– João Cabral de Melo Neto, em “Serial e
antes”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

AMIZADES LITERÁRIAS

revistaprosaversoearte.com - Marianne Moore - poemas
W. H. Auden e Marianne Moore
revistaprosaversoearte.com - Marianne Moore - poemas
Ezra Pound e Marianne Moore
revistaprosaversoearte.com - Marianne Moore - poemas
Marianne Moore e o pugilista Muhammad Ali

Outros cantos: escritora Marianne Moore
:: The Marianne Moore Digital Archive
:: Marianne Moore – Poetry Foundation
:: Poesia distribuída na rua (Rui Almeida)

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração (seleção e organização de poemas) José Alexandre da Silva

© Direitos reservados aos herdeiros
© Traduções: direito dos tradutores

Trabalhos sobre o autor:
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Como citar:

FENSKE, Elfi Kürten. (pesquisa, seleção e organização). Marianne Moore – poemas. Revista Prosa, Verso e Arte, março/2019. Disponível no link. (acessado em …/…/…).
____
Página atualizada em 25.3.2019.


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