Projeto “Preservação e Divulgação do Acervo de Obras Raras da Biblioteca Central da UFPB: Uma Janela para o Passado” . A iniciativa foi contemplada recentemente com financiamento da Fapesq-PB
por Milena Dantas (texto) / Milena Dantas (fotos) | Ascom/UFPB
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O ano era 1959 e a edição 6 de junho da revista brasileira semanal O Cruzeiro publicou a reportagem “Justiça para Lampião”. Com forte apelo ao fotojornalismo, a publicação, que deixou de circular no país em 1975, trazia uma foto das cabeças mumificadas dos cangaceiros Virgulino e Maria Bonita, que estavam expostas em um museu em Salvador. Em um mundo de conteúdos produzidos e publicados de forma frenética no meio digital, as folhas impressas e amareladas pelo toque do tempo insistem em preservar uma história que é parte de uma memória coletiva.
Seja pela relevância da história de Lampião para o Nordeste, seja pela importância da própria revista O Cruzeiro para a história do jornalismo do país, o exemplar, que integra o acervo da Biblioteca Central (BC) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pode ser considerado uma obra rara. O conceito se aplica, assim, a publicações de impacto em termos históricos, culturais ou bibliográficos, e que são difíceis de encontrar ou possuem circulação limitada.
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O exemplar da revista citada faz parte de uma coleção de aproximadamente dois mil exemplares sobre a qual uma equipe de profissionais da Biblioteca Central começou a se debruçar, em 2024, por meio do projeto “Preservação e Divulgação do Acervo de Obras Raras da Biblioteca Central da UFPB: Uma Janela para o Passado”. A ideia é mapear esse acervo e dar uma “identidade” digital a cada uma desses exemplares no catálogo do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa).

Iniciado como uma ação de extensão da universidade, o projeto foi aprovado, no último mês de maio, em uma chamada pública realizada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB), de Apoio ao Protagonismo Científico de Mulheres e Meninas na Ciência, na qual 10 projetos – cinco deles da UFPB – foram contemplados com valor de até R$ 50 mil cada.
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A bibliotecária Raíssa Carneiro é a chefe do setor de Coleções Especiais da BC e coordenadora do projeto, que tem na equipe outras cinco mulheres: a bibliotecária Gilvanedja Ferreira e quatro estudantes do curso de Biblioteconomia da UFPB – Larissa Vitoria da Silva, Aldaci Borges, Rosemary Jacinto e Camila Trajano.

O mapeamento dessas obras é o primeiro passo para dar visibilidade a um acervo que pode se revelar um “baú de tesouros” em termos de história, como observou Raíssa. De acordo com a bibliotecária, o conjunto inclui, por exemplo, edições dos séculos XIX – como o “Obras do Grande Luís de Camões (Tomo Quarto)”, cujas laterais são banhadas a ouro –, primeiras edições, livros esgotados, exemplares com dedicatórias, anotações manuscritas ou marcas de propriedade de personalidades paraibanas e brasileiras.
“Também fazem parte desse acervo obras que tratam de temas relevantes para a história da Paraíba e do Brasil, preservando conteúdos únicos que não estão facilmente disponíveis em outras instituições. Por essas razões, exigem cuidados especiais de conservação e são fontes valiosas para a pesquisa acadêmica e para a preservação da memória coletiva”, acrescentou.

Lá também estão, por exemplo, exemplares da revista Nova Era, revista quinzenal ilustrada do século XIX e início do século XX. Em um dos exemplares, publicado em 15 de junho de 1921, quando João Pessoa ainda se chamava “Parahyba do Norte”, há textos assinados por José Lins do Rêgo – como J. Lins do Rêgo – e José Americo de Almeida (sem acento). Um volume da revista do ano de 1925 será, inclusive, parte de uma exposição que vai ocorrer no hall da Biblioteca Central, a partir do dia 13 de junho.
Pelos próximos dois anos, a equipe gerenciada por Raíssa vai se dedicar ao minucioso trabalho de analisar livros, folhetos, revistas e obras em coleção, para descobrir, entre os dois mil itens armazenados no primeiro andar do prédio da Biblioteca, quais são as obras raras e quais tratamentos de conservação elas exigem. No ano em que a UFPB completa 70 anos de existência, o projeto Obras Raras é uma janela para o passado que deve permanecer aberta e conectada ao presente.
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“Trata-se de um patrimônio documental que não apenas resgata a memória institucional da UFPB, mas também evidencia seu papel histórico na formação de profissionais, na produção científica e na transformação social da Paraíba. Preservar, organizar e disponibilizar esse acervo é uma forma concreta de valorizar a trajetória da universidade, dando visibilidade a suas contribuições no ensino, na pesquisa e na extensão ao longo de sete décadas”, destacou Raíssa Carneiro.

Mais informações
Quem quiser saber mais sobre o acervo de obras raras da UFPB pode visitar o Instagram do projeto ou agendar uma visita ao setor, localizado no 1º andar da Biblioteca Central, pelo endereço eletrônico [email protected] . As visitas podem ser realizadas de segunda a sexta-feira, no horário das 14h às 17h.
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