Arrigo Barnabé e a Banda Sabor de Veneno – O álbum recupera o áudio do show gravado em Junho de 1980 no Sesc Consolação, no então Teatro Pixinguinha. O repertório de 8 canções é baseado essencialmente em “Clara Crocodilo”, disco que é considerado um marco na história da vanguarda musical brasileira.
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“O apelo daquela música junto ao público era palpável, mas não óbvio. Não havia nada de familiar na proposta de Arrigo, algo ao qual o ouvinte estivesse acostumado. Era a primeira vez que alguém usava na música popular brasileira, de maneira tão marcada, procedimentos das vanguardas musicais eruditas: atonalismo, serialismo, dodecafonismo.” Leonardo Lichote

A coisa viva de Clara Crocodilo no Relicário
Relicário: Arrigo Barnabé & Banda Sabor de Veneno por Leonardo Lichote*
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Arrigo Barnabé ouve a gravação do show que fez em junho de 1980 no Teatro Pixinguinha, no antigo Sesc Vila Nova, atual Sesc Consolação — e que é lançada agora no projeto Relicário, do Selo Sesc — e estranha quando se dá conta de que a apresentação foi há décadas. “É impressionante como, para mim, é uma coisa presente. Não tenho a sensação de que foi há 45 anos. Parece hoje. É como se eu estivesse fazendo isso agora. Não sinto nada de nostálgico ou melancólico. Sinto uma coisa viva”.
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O show antecipava em alguns meses o repertório quase integral do clássico álbum “Clara Crocodilo”. Lançado em novembro daquele ano, o disco se tornaria um marco do que ficou conhecido como a Vanguarda Paulista, movimento que abarcava nomes como Itamar Assumpção, Premeditando o Breque, Rumo e Tetê Espíndola.
Ou seja, quando Arrigo diz que aquela música que ele apresentava em junho de 1980 “parece hoje”, ele está simplesmente atestando o vigor e a originalidade daquele repertório, daqueles arranjos. De fato, tudo ali soa vivo, das primeiras notas dos sopros de “Lástima”, que abre o show, até o encerramento com as palavras do locutor de rádio sensacionalista encarnado pelo compositor: “Onde andará Clara Crocodilo? Será que está roubando algum supermercado? Será que está assaltando algum banco? Será que está devorando alguma criancinha indefesa? Será que está atrás da porta do seu quarto aguardando o momento oportuno de assassiná-lo com seus entes queridos? Ou será que está adormecido em sua mente, esperando a ocasião propícia para despertar e destilar todo o seu veneno em seu coração, ouvinte meu, meu irmão?”.
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Na ocasião do show do Sesc Consolação, o disco ainda não havia saído, mas a canção “Clara Crocodilo” — se é que podemos aplicar a palavra “canção” à colagem pop-vanguardista-graphic-novel-kitsch-radiofônica que se mostra ali — já havia causado impacto ao ser apresentada no 2º Festival de Jazz de São Paulo, em abril de 1980.
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“Fizemos o Festival de Jazz, depois uma apresentação no Colégio Equipe, depois mais umas poucas”, lembra Arrigo. “Então, já havia um público que curtia. Não era um grande público, mas já se sabia que as pessoas gostavam”. A aclamação da plateia que se ouve na gravação, ao fim do show no Sesc Consolação, reafirma as palavras do compositor.
O apelo daquela música junto ao público era palpável, mas não óbvio. Não havia nada de familiar na proposta de Arrigo, algo ao qual o ouvinte estivesse acostumado. Era a primeira vez que alguém usava na música popular brasileira, de maneira tão marcada, procedimentos das vanguardas musicais eruditas: atonalismo, serialismo, dodecafonismo. Ou seja, nada ali conversava com a tradição, profundamente tonal, da MPB — a despeito de muitos críticos na época terem apontado o artista como um herdeiro da Tropicália, o que ele era de alguma maneira, mas não no sentido estritamente musical.
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Arrigo conta que havia uma estratégia ali para conseguir chegar às pessoas mesmo com uma proposta tão diferente de tudo que se ouvia no rádio. “Geralmente as pessoas gostam de coisas muito redundantes, o que faz sucesso é o que repete aquilo que você já ouviu milhares de vezes. Então você tem que ter uma certa redundância pra ter a atenção do público. Eu acho que eu consegui dosar bem a informação nova com a redundância. Você vê que nas músicas tem sempre ostinatos, repetições de células musicais, para as pessoas reconhecerem e se familiarizarem com elas. Mas são repetições de células que ninguém estava acostumado. Um elogio da dissonância”.
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Além desse equilíbrio musical entre o radicalmente novo e a redundância, Arrigo capturava o público também ao propor nas letras uma estética fragmentada afinada ao olhar da metrópole, ao olhar da época. O próprio artista costuma definir “Clara Crocodilo” como uma espécie de ópera em quadrinhos. “É praticamente uma peça. Tem uma dramaturgia, com o office-boy, o Clara Crocodilo… Tem o lado do rádio também, com a locução no estilo dos programas de crime, do [repórter] Gil Gomes. Da mesma forma, a história em quadrinhos. É uma crônica urbana”.
“Lástima” abre o disco e o show introduzindo esse universo de Arrigo, ao anunciar em sua letra: “Olha/ Desculpa/ Eu não cantar mais pra você/ É que também/ Com tanta coisa/ Acontecendo/ Eu não consigo mais falar de amor”. Ou seja, não há espaço para o lirismo bucólico na música que se ouvirá ali. Mas nada é unidimensional. Afinal, é o canto pleno de beleza — e lirismo — de Vânia Bastos que entoa essas palavras, numa contradição que enfatiza o que é dito.
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“As letras não falam de quintal, não falam de afã, não falam de palmeira”, explica Arrigo. “Não é lírico, é um negócio cínico. É pessimista, irônico, sardônico. É uma coisa dura como a realidade que a gente vivia na época”. O compositor se refere à ditadura militar que vigorou no país entre 1964 e 1985.
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“Lástima”, escolhida no show como abre-alas da saga do monstro Clara Crocodilo, foi composta sob a vigência do período mais duro dessa ditadura, localizado entre a promulgação do Ato Institucional nº 5, em 1968, e o fim do governo Médici, em 1974. A canção — já descrita por Arrigo como “uma espécie de anticanção” — foi apresentada em 1973, num festival universitário em Londrina, cidade natal de Arrigo. Ele lembra que, na ocasião, Hermeto Pascoal, integrante do júri, ficou tão entusiasmado com a música que pressionou seus colegas para darem a ela todos os prêmios: Melhor Composição, Melhor Arranjo e Melhor Intérprete.
“Lástima” acabou ficando fora do disco “Clara Crocodilo”, substituída por “Acapulco drive-in”, que ocupou o lugar de faixa de abertura. “Na época desse show no Sesc Consolação a gente ainda não tinha feito ‘Acapulco drive-in’. Paulinho [Barnabé], meu irmão, tinha feito a letra já tinha uns três anos. Ela estava engavetada. Toda hora eu falava: ‘Quero musicar essa letra aí’. Aí fizemos e ela ficou como introdução”.
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A partir daí, estão presentes no show as outras sete faixas que seriam gravadas no clássico álbum. No roteiro do espetáculo, “Sabor de veneno” vem na sequência. No ano anterior, ela já havia chamado a atenção para o trabalho de Arrigo ao ser inscrita no Festival 79 de Música Popular, da TV Tupi. Saiu de lá com os prêmios de Melhor Arranjo (assinado pelo próprio Arrigo) e Melhor Intérprete (Neusa Pinheiro).
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A letra apresentada no festival e no show do Sesc Consolação — e posteriormente gravada no disco — era diferente da original. “Eu a modifiquei para colocar no festival. A letra dizia: ‘Porque eu não vou saber da fumaça que deixa teu corpo torturado’ [canta]. Era uma coisa assim, meio Baudelaire, um negócio meio maldito. Aí eu mudei para algo meio ‘Garota de Ipanema’: ‘Você já viu aquela menina que tem um balanço diferente’. E quando ela beija vem um gosto amargo, que é o sabor de veneno”.
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Arrigo nota uma curiosidade na versão de “Sabor de veneno” que aparece em “Relicário”: “Nesse dia da gravação o Ronei Stella, trombonista, faltou. Você pode reparar que no começo de ‘Sabor de veneno’ eu faço no piano a frase do trombone. Nessa época eu realmente ficava muito preocupado com a execução, era muito preciosista em fazer como estava na partitura. Um músico faltar me abalava de uma maneira incrível. Hoje em dia eu vejo que não tinha motivo pra isso”.
Foi Ronei Stella, aliás, que providenciou a roupa que eles usavam nos shows que Arrigo fazia com a banda Sabor de Veneno na época, inclusive neste do Sesc Consolação: uniformes de presidiários. “Era de um bloco de carnaval que ele tinha lá em São Bernardo”, lembra Arrigo, rindo.
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O figurino era mais do que um gracejo. A marginalidade atravessa o espetáculo, das formas musicais totalmente à margem do mainstream até os versos que tratam de temas inusitados como cemitério e fliperama. A própria marginalidade é um tema em si fundamental no repertório. “A minha turma, que era eu, Itamar, meu irmão Paulo, os amigos, a gente tinha aquele negócio do Oiticica: ‘Seja marginal, seja herói’. Isso aí era um negócio que estava na cabeça da gente. O marginal era uma representação do subversivo, do sujeito contra o sistema”.
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“Diversões eletrônicas”, faixa que vem depois de “Sabor de veneno”, se passa num ambiente desses representativos da marginalidade — um “antro sujo”, como diz a letra. A inspiração de Arrigo para compor a canção vem de “Arranha-céu”, de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas. “Quando eu ouvi essa música na casa de um amigo fiquei espantado de como ela era atual, urbana, falando de ‘delírios nervosos dos anúncios luminosos’, de ‘cansei de olhar os reclames’”, conta o compositor. “Fiquei pensando nisso. Peguei o ônibus pra ir pra casa e vi as lojas, os luminosos, a coisa do ‘diversões eletrônicas’. Ali mesmo comecei a esboçar uma ideia. Depois terminei a letra e comecei a fazer a música usando o dodecafonismo. Por fim, chamei a Regina Porto pra fazer a melodia”.
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“Infortúnio” tem três inspirações bem marcadas. Arrigo já havia composto a primeira parte usando técnicas do dodecafonismo, mas não sabia sobre o que ia falar na letra. Até que, assistindo TV, se deparou com uma entrevista de Nelson Rodrigues. “Ele dizia que no Brasil as pessoas evitavam alguns temas. Que ninguém falava de incesto, de morte, essas coisas. Fiquei pensando nisso, e lembrei da minha tia quando morreu o marido dela, e como a pessoa perde o pudor nesse momento de desespero”. Nos versos, a cena da mulher chorando sobre o caixão representa essa memória.
A terceira inspiração, porém, é a mais preciosa e curiosa. Arrigo viu na TV uma mulher cobrando que o governo brasileiro se responsabilizasse pela morte de seu marido, algo forte e corajoso para se dizer perante um Estado autoritário. Aquilo impressionou o compositor, que incorporou aquele sentimento à letra de versos como “Ele morreu porque pensou, pensou demais”.
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Durante muitos anos, Arrigo tinha em sua lembrança que aquela mulher era Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelo governo militar. Anos depois, lendo “Ainda estou aqui”, de Marcelo Rubens Paiva, ele se deu conta de que a mulher era Eunice Paiva, mãe do autor — e personagem principal do filme homônimo de Walter Salles, vivida por Fernanda Torres, que ganhou o Globo de Ouro pelo papel.
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“Quando eu fui inscrever a música no festival da TV Cultura [em 1979], tinha um grupo na minha frente pra inscrever uma canção também”, conta Arrigo. “Era o Marcelo [Rubens Paiva] e seus parceiros. E eles estavam falando de uma música sobre cemitério. Falei para eles: ‘Vocês têm uma música que fala de cemitério? Eu também!’. Enfim, quando o Marcelo lançou o livro, anos depois, eu vi que foi a mãe dele a mulher que me inspirou em ‘Infortúnio’. Acho essa história muito interessante. É muita coincidência”.
O show segue com “Orgasmo total”, música que teve a execução radiofônica proibida pela Censura Federal. O apresentador de TV Flávio Cavalcanti, conhecido pelas manifestações histriônicas de seu moralismo, quebrou uma cópia do LP de “Clara Crocodilo” em seu programa de TV em reação à essa música. “Isso aumentou as vendas do disco”, lembra Arrigo.
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“Eu gosto muito da parte musical de ‘Orgasmo total’, acho muito bem feita”, avalia o compositor. “É dodecafônica até quase o final, de uma forma estrita”. A letra traz, em seus bastidores, uma curiosidade. “Na época eu era meio a fim de uma menina chamada Hebe. Então eu usei a sonoridade desse nome em rimas como ‘bebe’, ‘pele’, ‘febre’. Fui fazendo uma coisa assim. No final, eu vou pra outro lado, do sexo como mercadoria. Mas no começo, fiz meio pensando na menina. Você começa com uma ideia e a coisa vai virando outra, né?”.
“Instante” é um momento destacado do repertório de “Clara Crocodilo”. Soa como um respiro de lirismo, de saída da neurose urbana — com sua letra que evoca “vento”, “folhas” e “água”. “Compus ‘Instante’ em 1974, 1975, por aí”, lembra Arrigo. Foi uma das primeiras músicas que eu compus. Ela é meio impressionista. E a letra tem um pouco da coisa do [poeta e ensaísta mexicano] Octávio Paz, do livro ‘Signos em rotação’, aquelas ideias que ele coloca sobre a imagem poética. Tem algo a ver com isso, com uma coisa ligada à natureza”.
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“Office-boy”, na sequência, conta a gênese do monstro Clara Crocodilo: originalmente, um office-boy sem dinheiro que responde a um anúncio no jornal e se torna vítima de experiências de um laboratório multinacional. “Ela não foi tão difícil de sair”, lembra o compositor. “A parte C é muito interessante, é uma parte mais lenta, em compasso 5/2. A série que eu uso aí não tem nada a ver com o resto da música. O jeito que eu encontrei de dar alguma coerência, foi entrar com essa série num andamento mais vivo em cima da parte B, que está num compasso diferente, noutra levada. Não tem nada a ver uma parte com a outra, mas eu coloco essa frase em cima, repetindo. Fica uma polirritmia. Então, quando termina a levada, fica só essa frase desdobrada, num ritmo mais lento”.
Por fim, “Clara Crocodilo”, a faixa-título, encerra a saga. Composta entre o fim de 1971 e o início de 1972 por Arrigo e Mário Lúcio Cortes, ela é estruturada sobre cinco módulos que servem de base para uma narração radiofônica declamada, entremeada por dois refrões cantados. No primeiro, a voz do marginal-herói — que ecoa Oiticica ou mesmo o Corisco de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” — declara: “Quem cala consente/ Eu não calo/ Não vou morrer nas mãos de um tira”. O segundo anuncia: “Clara Crocodilo fugiu”.
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“O resto é teatro e rádio”, resume Arrigo. “A música só tem esses dois refrões”.
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Na versão do show agora lançada pelo Selo Sesc, a introdução é a que ele costumava fazer ao vivo: uma narração datada do próprio dia da apresentação, em que se diz a caminho de entrevistar um criminoso. Já no disco original, a abertura é diferente — Arrigo criou outra história, na qual um sujeito coloca um disco na vitrola e, com isso, liberta o monstro. Essa mudança tinha um motivo: evitar datar a obra. Ele então escolheu uma data fictícia que, à época, parecia inalcançável: “31 de dezembro de 1999”, diverte-se o compositor, mais de duas décadas depois daquela data que em 1980 parecia longínqua.
O monstro que se libertava pela agulha do disco e pelo palco — e que hoje se manifesta a partir do “play” da plataforma de streaming — é a própria música de Arrigo. “Você acha que vai conseguir me agarrar? Pois então tome!”, diz ao ouvinte, antes de bombardeá-lo com uma espécie de riff atonal, numa metalinguagem ao mesmo tempo profundamente sofisticada e profundamente pop. O compositor resume: “A música é o monstro, porque pro careta ela é monstruosa”. E, 45 anos depois, segue sendo — admiravelmente poderosa para quem sabe ouvir, enormemente assustadora para quem não.
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* Leonardo Lichote é jornalista, crítico musical e curador artístico. Paralelamente, iniciou nos últimos anos um trabalho como letrista de canção.

Disco ‘Relicário: Arrigo Barnabé & Banda Sabor de Veneno (ao vivo no Sesc 1980)’ • Arrigo Barnabé & Banda Sabor de Veneno • Selo Sesc • 2025
Canções / compositores
1. Lástima (Arrigo Barnabé)
2. Sabor de veneno (Arrigo Barnabé)
3. Diversões eletrônicas (Arrigo Barnabé)
4. Infortúnio (Arrigo Barnabé)
5. Orgasmo total (Arrigo Barnabé)
6. Instante (Arrigo Barnabé)
7. Office-boy (Arrigo Barnabé)
8. Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé e Mário Lúcio Cortes)
– ficha técnica –
Arrigo Barnabé – voz e piano acústico | Bozo Barretti – sintetizador e teclados | Chico Guedes – saxofone tenor | Felix Wagner – clarinete contralto | Gilson Gibson – guitarra | Mané Silveira – saxofone soprano | Paulo Barnabé – bateria | Regina Porto – piano fender | Rogério Benatti – percussão | Suzana Salles – voz | Tavinho Fialho – contrabaixo elétrico | Ubaldo Versolato – saxofone alto | Vânia Bastos – voz | Projeto gráfico: Alexandre Calderero | Gravado no Sesc Consolação em 29 de junho de 1980 | Masterização: Gustavo Lenza | Texto: Leonardo Lichote | Imagens: Acervo Sesc Memórias | Assessoria de imprensa: Sofia Calabria Y Carnero | Selo: Sesc | Distribuição digital: Tratore | Formato: CD digital | Ano: 2025 | Lançamento: 25 de abril | ♪Ouça o álbum: clique aqui.
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LEIA TAMBÉM – Selo Sesc /Relicário
:: Álbuns lançados pelo Selo Sesc – publicados aqui
:: Álbuns já lançados pelo projeto Relicário (João Gilberto; Zélia Duncan; João Bosco; Adoniran Barbosa; Dona Ivone Lara; Renato Teixeira)
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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske