terça-feira, outubro 8, 2024

Red Dead Redemption: Como o oeste conquistou os games, e os tornou cinematográficos, por Clarice Lippmann

As jornadas de redenção são narrativas atemporais que atravessam gerações e continuam a cativar o público. Principalmente no contexto do faroeste, essas histórias de busca por redenção têm um apelo único que ressoa profundamente com o público. A razão para isso vai além do simples entretenimento; essas narrativas exploram virtudes, representações e superações de dilemas humanos, proporcionando uma catarse emocional poderosa para os espectadores. E, com Red Dead Redemption 1 e 2, essa catarse foi sentida pelos jogadores.
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Em Red Dead Redemption 1 e 2, mergulhamos na trajetória de John Marston e Arthur Morgan, protagonistas magistralmente delineados, com histórias ricas, camadas profundas e desenvolvimento emocional que os traduzem para além dos simples personagens de um jogo: os solidificam enquanto personagens muitíssimo humanos e relacionáveis.

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John Marston e Arthur Morgan interagindo em Red Dead Redemption 2.

Em Red Dead Redemption 1, acompanhamos a jornada de John Marston, um ex-fora da lei em busca de redenção. Sua história é uma montanha-russa de reviravoltas, confrontos e descobertas pessoais, levando-o a confrontar seu passado e suas escolhas de vida. A trama do primeiro jogo da série da Rockstar Games sobre faroeste se passa no início do século XX, quando o velho oeste está desaparecendo e sendo substituído pela civilização moderna, industrial e um tanto mais fria. Marston é forçado pelo governo a caçar membros de sua antiga gangue, liderada por Dutch van der Linde, em troca da liberdade de sua família. Ao longo da jornada, John Marston reencontra antigos companheiros e enfrenta desafios morais, enquanto tenta conciliar seu passado violento com o desejo de uma vida pacífica para seus familiares e pessoas amadas. O enredo culmina em um confronto épico que testa os limites da redenção de Marston e a profundidade de seus laços com sua família e seu passado.

A história de John Marston é uma narrativa emocionante sobre redenção, lealdade e o conflito entre o passado e o presente. Seu personagem é complexo, com uma mistura única de bravura, arrependimento e determinação, o que o torna um dos protagonistas mais memoráveis da história dos videogames. Conforme a história é delineada, os jogadores testemunham o desenvolvimento de Marston de um pistoleiro endurecido para um homem em busca de paz e redenção, torcemos junto com ele por um final feliz. Ou algo perto disso.
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Já em Red Dead Redemption 2, conhecemos Arthur Morgan, um membro leal da gangue de Dutch van der Linde. A história de Arthur é uma jornada de autoconhecimento e sacrifício, onde vemos sua transformação, suas dúvidas e suas decisões difíceis em um mundo implacável. A trama aborda temas profundos como lealdade, honra e redenção, oferecendo uma narrativa imersiva e emocionalmente impactante. Arthur, talvez mais sensível e generoso do que John, tem o final ainda mais emocionante que o do primeiro protagonista, traduzindo as qualidades de um homem que, em meio à tanta violência, morte e sofrimento, é capaz de enxergar o valor da vida e a sensibilidade para com o outro, especialmente os mais vulneráveis, e faz o possível para protegê-los. Sua relação com personagens como John Marston e a família de John, particularmente com Jack Marston, o filho de John, é especialmente comovente, mostrando cada vez mais a compassividade de Arthur.

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John Marston e Arthur Morgan, membros da gangue de Dutch Van der Linde, em Red Dead Redemption 2

A redenção de Arthur também é vista em suas ações finais. Confrontado com a própria mortalidade, ele escolhe fazer o que é certo, ajudando John a escapar e enfrentando Dutch em um ato final de redenção e sacrifício, bem como olhando por Sadie. Ele é um pária que entende que o destino difícil que lhe foi dado não merece ser compartilhado pelos outros, e dedica seus dias a ajudar os que precisam. Sua morte é um desfecho poderoso e comovente, pois ele finalmente encontra paz e redenção em seus últimos momentos, ao garantir para John uma escapatória em que ele pudesse fugir com sua família e começar uma vida nova.
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Podemos dizer que a jornada de Arthur Morgan é um épico faroeste sobre um personagem que teve, em seu crescimento pessoal, o aprendizado do que significa a compaixão, o sacrifício, a generosidade e a empatia. Sua maturidade e redenção o tornou memorável e deixou uma marca na história das narrativas dos videogames.

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O espírito animal de Arthur, um cervo, representando sua generosidade e pureza

Arthur Morgan e John Marston, como os falados protagonistas icônicos da série produzida pela Rockstar Games, podem ser considerados tão ou mais bem escritos do que diversos protagonistas cinematográficos de westerns, os faroestes. Não é exagero dizer que a experiência de jogar Red Dead Redemption, o primeiro e o segundo jogo, é cinematográfica.
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Tanto John Marston quanto Arthur Morgan passam por um arco de transformação emocional, enfrentando seus demônios internos e fazendo escolhas difíceis para tentar corrigir os erros de sua vida passada. Suas jornadas são marcadas por reviravoltas emocionantes, momentos de confronto intenso e uma busca constante por redenção.

No segundo Red Dead Redemption, durante a jornada de Arthur temos uma exploração mais profunda das complexidades da moralidade e da lealdade, talvez a experiência mais filosófica dessa série de jogos. Conforme a trama se desenrola, Arthur começa a questionar as motivações de Dutch e a própria natureza de sua existência. Sua jornada é uma busca por significado e propósito, enquanto ele luta para encontrar redenção em um mundo que parece destinado à ruína. “Que eu permaneça inabalado enquanto mundos colidem em ruínas”, poderia ser uma citação de tradução livre à uma das trilhas sonoras magistrais do jogo.
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Ambos os personagens são exemplos clássicos da jornada do herói, conforme descrita por Joseph Campbell. Eles enfrentam desafios, inimigos poderosos e passam por transformações pessoais significativas ao longo de suas jornadas. Suas histórias são mais do que simples narrativas de faroeste; são reflexões profundas sobre a natureza humana, a redenção e o significado da vida.

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Red Dead Redemption: Como o oeste conquistou os games, e os tornou cinematográficos

Arthur Morgan e John Marston são dois dos personagens mais bem escritos e complexos do mundo dos videogames, e suas jornadas do herói são testemunhos de storytelling excepcional e desenvolvimento de personagens feito a nível primoroso. Eles deixaram uma marca indelével na história dos jogos eletrônicos, provando que histórias poderosas podem ser contadas em qualquer meio, seja cinema, literatura e videogames. E que, sim, videogames são audiovisual, e são expressões artísticas que merecem mais reconhecimento.
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Assim como “Era uma Vez no Oeste”, a maravilhosa trilogia do western spaghetti conhecida como “Trilogia dos Dólares”: “Por um Punhado de Dólares”, “Por uns Dólares a Mais” e “Três Homens em Conflito”, longa-metragem também reconhecido como “O Bom, o Mau e o Feio”, e o filme “Rápida e Mortal”, o jogo apresenta uma fotografia deslumbrante, que captura a vastidão e a beleza implacável do oeste norte-americano.

Além disso, assim como esses filmes, Red Dead Redemption apresenta arcos narrativos complexos e personagens multifacetados. A combinação da fotografia deslumbrante do jogo com a qualidade de seu arco narrativo faz com que Red Dead Redemption seja mais do que um simples jogo; é uma experiência cinematográfica imersiva que rivaliza com os grandes filmes do gênero western em termos de grandiosidade e qualidade narrativa.
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O que torna esses jogos tão especiais não é apenas a qualidade gráfica ou a jogabilidade, mas sim a forma como as narrativas são construídas. Os roteiristas por trás desses jogos criaram histórias envolventes, com personagens tridimensionais e diálogos memoráveis. A estrutura narrativa reflete até mesmo o que é ensinado em manuais de roteiro, como clímax impactantes, ritmo, enredo, momentos de virada e diálogos ricos em subtexto e significado.

Dessa maneira, podemos falar sim que, Red Dead Redemption, assim como a conquista do oeste, expande as fronteiras do que seria apenas um jogo, é uma experiência narrativa que rivaliza com diversas obras do cinema e da literatura. E, por si só, demonstra como videogames são, hoje em dia, obras audiovisuais de incrível fascínio e imersividade narrativa. São, principalmente, artísticos.
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Os jogos de Red Dead Redemption são obras que merecem ser valorizadas não apenas como um jogo, mas em seu lindo trabalho narrativo, tocante e esmerado, que de fato transcende os limites do entretenimento, e até da reflexão humana. O oeste foi conquistado, e os videogames foram redimidos para qualquer público que quiser ver: também se provaram transcendentais obras de arte.
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Clarice Lippmann, colunista da Revista Prosa, Verso e Arte, roteirista, assistente de direção em formação, fã de cinema e cultura pop, estudante entusiasta de filosofia e advogada.

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