Álvaro Lima - Casario
Ele entrara na vida daquelas pessoas como a mais bela paisagem, pela força de sua beleza, atravessando uma retina estática. Sua poesia mudou o curso cambaleante e desnorteado dos personagens daquela cidade do interior. Padeiros, médicos, professores, mendigos, idosos, crianças, homens e mulheres, sentiram-se invadidos por um sentimento novo advindo dos versos daquele poeta.
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Naquela segunda-feira alva, o olhar mais atento atraía para si as paisagens interiores dos homens e das coisas. Tudo era movimento e transformação: o mundo dentro do mundo e fora das pessoas; o mundo fora do mundo pulsando no interior de cada um.
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Na praça da pequena cidade onde o poeta declamava suas poesias vibravam sons que o ouvido humano teimava em não ouvir. Movimentos e gestos despercebidos diante da humana visão egocêntrica. O tempo e o espaço sem sentido e inatingíveis para aquelas consciências amortecidas pelos excessos. O fato é que as preocupações e os compromissos cotidianos lançaram um véu espesso sobre o olhar daquele povo, encobrindo sua percepção e anestesiando a sensibilidade.
Meio da tarde, o sol entre o meio-dia e o ocaso, eis que a voz do poeta desperta da rotineira monotonia aquelas pessoas. Por um instante os passos apressados que enxergavam o mundo de forma rasteira retiveram seu movimento. Os olhares acostumados às mesmas paisagens horizontais perceberam algo diferente. Mais que a meta a ser atingida num ponto fixo à frente, havia agora a descoberta da beleza vertical. Ao contemplarem de baixo à cima a imagem daquele poeta no meio da praça perceberam, enfim, que havia um chão e um céu, e que a poesia era um caminho ascendente rumo às alturas.
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O poeta falou sobre o alimento feito em versos e o padeiro enfim descobriu um caminho inverso que, mais do que pão, ele amassava e modelava como poesia viva.
Declamou para ouvidos atentos que viver é dar de si para todos e absorver de todos um pouco de si mesmo, num ciclo constante de descobertas. Um médico, emocionado, confessou aos que estavam à sua volta que enfim entendera o significado da palavra “cura”.
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Disse o poeta que o conhecimento reside na consciência de cada um, e que bastaria aos homens unirem-se numa força vital de pensamento para a vida se modificar. Os professores e os alunos então perceberam o quanto poderiam aprender uns com os outros, e descobriram que são fontes de sabedoria numa aprendizagem mútua. O mendigo ali deitado parecia absorver cada palavra, cada poesia, e se sentia saciado como se cada verso fosse alimento puro.
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O Poente na crista das montanhas anunciava o fim daquela tarde. O poeta, certo de que havia jogado luz sobre a escuridão, deixou a praça e caminhou até sumir no final daquela rua extensa em meio à penumbra que anunciava a noite. Todos, aos poucos, deixaram a praça com uma expressão iluminada. Somente eu permaneci no meu lugar como em êxtase, sentindo-me, na alma, poeta de mim mesmo e do mundo.
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Enedino Gomes Vasco – Anchieta-ES
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