quinta-feira, maio 15, 2025

Mateus Aleluia faz mergulho profundo nas emoções em impetuoso álbum sobre o amor em todas as suas formas

No ano em que comemora 65 anos de carreira, Mateus Aleluia, cantor, compositor e pesquisador que integrou o lendário trio baiano Os Tincoãs canta o universo dos sentimentos com a sabedoria e a liberdade de um mestre aprendiz
.
Prestes a completar 82 anos, Mateus Aleluia vem à tona com notável vivacidade após mergulho profundo nas águas das emoções para lançar o quinto álbum de sua carreira solo, o primeiro batizado com seu nome. Com direção musical, arranjos e regência de Tadeu Mascarenhas, “Mateus Aleluia” chegou às plataformas pelo selo Sanzala Cultural, com apoio do Rumos Itaú Cultural 2023 2024. O novo trabalho, que conta com direção artística de Mateus Aleluia e Tenille Bezerra, é sobretudo um álbum de amor. Um amor cantado em todas as suas formas e diversas camadas.

Uma obra que inova no formato, ao unificar as seis faixas com transições orquestradas, e surpreende ao revelar toda a impetuosidade de um artista completamente à vontade no auge de sua sabedoria e liberdade. “Eu gosto de ser assim: essa incógnita não tão incógnita, praticamente uma pessoa previsível. Agora, de uma previsibilidade que as pessoas não esperam.”, reflete Seo Mateus. “Nesse trabalho estou solto, totalmente solto. Falo das minhas divagações, das mais diversas. Canto da forma que eu gosto de cantar, sem compromisso, sem me apegar a regras mas me apegando sempre ao sentimento.”, completa.
.
Falar sobre amor para Mateus Aleluia é algo natural e orgânico, devido ao reconhecimento da onipresença da força amorosa. “Nesse nosso novo trabalho, nós pretendemos falar de uma linguagem que todos identificam como a linguagem do amor. Como se a linguagem do amor tivesse uma forma específica. Quando para nós tudo é amor.” Porém, nem de longe, o cantor, compositor e pesquisador que integrou o lendário trio baiano Os Tincoãs sugere uma imersão superficial. Com reconhecida vocação para acessar almas, Mateus Aleluia convoca agora forças terrenas, entranhadas de humanidade, e convida os ouvintes, por meio das seis canções inéditas do álbum, a mergulharem nos universos da obra e do interior de cada um.

Mateus deseja assim, que cada pessoa tenha uma interpretação própria a cada audição de uma mesma canção. Que cada um possa criar suas músicas dentro daquela música que está ouvindo, fazendo seu próprio percurso mental, filosófico ou teológico, mas sempre com um chamado pungente para o aprofundamento. “Eu mergulhei. E quem quiser me ver, vai ter que mergulhar também. Porque eu não estou na superfície. Pelo menos, eu não me sinto na superfície, eu me sinto no profundo. Estou no fundo do rio mas não me afoguei ainda. Eu vou vir à tona.”, convida Mateus Aleluia.
.
Com capa ilustrada pelo artista visual Athos Sampaio e uma edição limitada em vinil prevista para o segundo semestre, o álbum é fruto de um processo circular, assim como o próprio tempo, dos acontecimentos, baseado na ancestralidade. Uma ancestralidade também circular, que é atual, é passado, como o próprio nome diz; e é futuro. Um trabalho que pertence aos processos de cultura que advém do rito. Uma ação que reafirma o princípio de que toda a cultura vem do culto. “Esse trabalho, apesar de parecer diferente, vem dentro deste mesmo princípio.”, explica Aleluia.
.
Outra camada bastante marcante do quinto álbum solo de Mateus Aleluia é a de renovação e surpresa das experiências de amor, que transbordam vivas e sem filtros e transformam até experientes sábios em jovens aprendizes. “Nós vamos à procura daquilo que não sabemos ainda o que. É como cada dia tem a sua novidade, seja essa novidade que a gente goste ou que não goste. Em cada música dessa é como se nós nunca tivéssemos passado por uma escola. É interessante. E ao mesmo tempo, temos a impressão de que já passamos por todas. E que temos milhares de escolas ainda que a gente vai ter que passar. Essa experiência é que, às vezes, a gente tenta passar para as pessoas que nos escutam.”, revela o artista, numa orientação derradeira para iniciarmos essa emocionante jornada musical amorosa, guiada pela voz única e comovente do poeta de Cachoeira.

“Mateus Aleluia”
por Tenille Bezerra
Diante do absoluto mistério: entregar-se. Frente ao desconhecido chamado: seguir, posto que não somos mais que o caminho. Como um rio que corre subterrâneo traçando em nosso interior geografias íntimas, sensíveis, flui o canto de Mateus Aleluia neste novo álbum de canções inéditas. Confirmando o batismo de tantas décadas atrás, a obra leva o seu nome, chave de um enigma a ser desvendado nos cruzamentos entre som e silêncio. No quinto álbum da sua carreira solo Mateus propõe uma jornada que reflete as oito décadas do seu olhar de aprendiz. Impetuoso e prudente como todo jovem ancião ele mergulha nas profundezas do rio da vida, é ali que ele recolhe, com a humanidade que lhe cabe, o barro das suas canções. Irmanadas ao canto enigmático do instante as canções refletem uma busca pelo o sentido da existência, território instável e sutil de onde emerge o maior de todos os elos: o amor. Vibração para além da palavra, sonoridade infinda que rege a continuidade da vida, se a música é a linguagem da natureza, o amor certamente é uma das suas vocações.
.
Presença que se constitui como abertura para o novo, o amor é a água pura do amanhã a lavar os olhos cansados de ontem, água que não cessa de correr por dentro dos seres, da terra, das águas. Confiar na disposição amorosa da vida implica abrir-se ao outro, a tudo o que estando fora de nós nos amplia. “A natureza tem leis, o homem é que tem moral”, insiste Mateus. É através da música que ele acredita acessar a comunhão amorosa com o tempo, estado natural que move todas as jornadas espirituais. Artífice da música e da palavra Mateus Aleluia nos convida a uma travessia alquímica. Investido de toda potência humana, ele voa livre por todos os céus, transformando as brasas do caminho em fagulhas que iluminam a efêmera condição do ser. Sem temer as perguntas para as quais não temos resposta, ele mergulha nas profundezas da alma e assim reflete a imensidão das forças celestiais.
.
Uma miríade de presenças compõem o trabalho que ora apresentamos. Músico e parceiro de longa data Tadeu Mascarenhas assina a produção musical, arranjos e regência. Imerso no campo vibratório criado por Mateus, Tadeu aceita o convite para o mergulho e se lança, com a sutileza de quem tem olhos para ver. Atenta às margens de um curso que não se pode conter, rabisco na areia algumas linhas, ora direções, ora rastros de enigmas que caberão ao futuro desvendar. Mateus Aleluia, o álbum, é fruto de um movimento contínuo que nos antecede e nos ultrapassa, visto que sempre esteve aí. Em diálogo harmônico e fogo brando tecemos, a muitas mãos, os fios dessa trama incognoscível.

revistaprosaversoearte.com - Mateus Aleluia faz mergulho profundo nas emoções em impetuoso álbum sobre o amor em todas as suas formas
Capa do disco ‘Mateus Aleluia’ • Mateus Aleluia • Selo Sanzala Cultura • 2025

Disco ‘Mateus Aleluia’ • Mateus Aleluia • Selo Sanzala Cultura • 2025
Canções / compositores
1. No amor não mando (Mateus Aleluia)
2. Doce sacrifício / Filho / Acalanto (Mateus Aleluia)
3. Lua / Luar, outra face do sol (Mateus Aleluia) | Participação Pedro de Castro
4. Para tentar te esquecer / Pantera negra / Jogo de engano (Mateus Aleluia)
5. Márua (Mateus Aleluia)
6. Oh, música! / Aleluia (Mateus Aleluia)
– ficha técnica –
Faixa 1 – Arranjo: Tadeu Mascarenhas | Voz e violão: Mateus Aleluia; Violoncelo: Suzana Kato; Baixo acústico: Alexandre Vieira; Flauta: Rodrigo Sestrem; Trompete: Mateus Aleluia Filho; Trombone: Matias Hernan Traut; Trompa: Davi Brito; Fagote: Wruahy Pereira | Piano, órgão, celesta, acordeon: Tadeu Mascarenhas; Vibrafone: Hermógenes Araújo; Harpa: Alice Hemery; Tímpanos, tubular bells, chimbals, bombo, triângulo: Gilberto Santiago; Backing vocals: Anita Saphira, Elisa Mascarenhas e Lara Mascarenhas / Coral: Grupo MULTIVOX – Maestro: Angelo Rafael Fonseca; Sopranos: Emyle França, Isabelle Almeida, Maiane Santa Izabel e Mariana Rosário; Mezzosopranos: Ana Mazur, Ariane Reis e Sinara Santana; Tenores: Eli Grizoston, Felipe Dias e Matheus Sanolie; Barítonos: Andri, Leonardo Rocha e Marcos Pinto | Faixa 2 – Arranjo: Tadeu Mascarenhas; Voz e violão: Mateus Aleluia; Violino: Mário Soares; Violino: Filipe Vidal; Viola: Laís Guimarães; Violoncelo: Suzana Kato; Baixo acústico: Alexandre Vieira; Flauta: Rodrigo Sestrem; Oboé: Roberta Barbosa; Clarineta: Felipe Guedes; Fagote: Wruahy Pereira; Trompete: Mateus Aleluia Filho; Trompa: Davi Brito; Trombone: Matias Hernan Traut; Piano e acordeon: Tadeu Mascarenhas; Vibrafone: Hermógenes Araújo; Tímpanos, glockenspiel, tubular bells, chimbals, triângulo, block: Gilberto Santiago / Coral: Grupo MULTIVOX – Maestro: Angelo Rafael Fonseca; Sopranos: Emyle França, Isabelle Almeida, Maiane Santa Izabel e Mariana Rosário; Mezzosopranos: Ana Mazur, Ariane Reis e Sinara Santana; Tenores: Eli Grizoston, Felipe Dias e Matheus Sanolie; Barítonos: Andri, Leonardo Rocha e Marcos Pinto | Faixa 3 – Arranjo: Tadeu Mascarenhas; Voz e violão: Mateus Aleluia; Clarone: Ivan Sacerdote; Participação especial: Pedro de Castro (Guitarra portuguesa) | Faixa 4 – Arranjo: Tadeu Mascarenhas; Voz e violão: Mateus Aleluia; Violino: Mario Soares; Violino: Filipe Vidal; Viola: Laís Guimarães; Violoncelo: Suzana Kato; Baixo acústico: Alexandre Vieira; Flauta: Rodrigo Sestrem; Oboé: Roberta Barbosa; Clarineta: Felipe Guedes; Fagote: Wruahy Pereira; Trompete: Mateus Aleluia Filho; Trompa: Davi Brito Trombone: Matias Hernan Traut; Órgão, Celesta: Tadeu Mascarenhas; Vibrafone: Hermógenes Araújo; Tímpanos e bongô: Gilberto Santiago / Coral: Grupo MULTIVOX – Maestro: Angelo Rafael Fonseca; Sopranos: Emyle França, Isabelle Almeida, Maiane Santa Izabel e Mariana Rosário; Mezzosopranos: Ana Mazur, Ariane Reis e Sinara Santana; Tenores: Eli Grizoston, Felipe Dias e Matheus Sanolie; Barítonos: Andri, Leonardo Rocha e Marcos Pinto | Faixa 5 – Arranjo: Tadeu Mascarenhas; Voz e violão: Mateus Aleluia; Violino: Mario Soares; Violoncelo: Suzana Kato; Baixo acústico: Alexandre Vieira; Flauta: Rodrigo Sestrem; Fagote: Wruahy Pereira; Trompete: Mateus Aleluia Filho; Trompa: Davi Brito; Trombone: Matias Hernan Traut; Piano, Celesta, órgão, acordeon, violão de aço: Tadeu Mascarenhas; Tímpanos, chimbals, gongo, pau de chuva: Gilberto Santiago | Faixa 6 – Arranjo: Tadeu Mascarenhas; Voz e violão: Mateus Aleluia; Baixo acústico: Alexandre Vieira; Trompete: Mateus Aleluia Filho; Bombardino: Fernando Rocha; Harpa: Alice Emery; Caxixi, chaves, facas: Gilberto Santiago | Realização: Estúdio Casa das Máquinas, Sanzala Cultural, Talismã Arte e Cultura | Produzido por: Mateus Aleluia, Tadeu Mascarenhas e Tenille Bezerra | Direção artística: Mateus Aleluia e Tenille Bezerra | Direção musical: Mateus Aleluia e Tadeu Mascarenhas | Arranjos e regência: Tadeu Mascarenhas | Produção executiva: Tenille Bezerra | Secretária executiva: Catiana de Jesus | Direção de arte e projeto gráfico: Rafael Todeschini | Ilustração da capa: Athos Sampaio | Fotos: Vinicius Xavier | Assessoria de imprensa: Fernanda Couto | Gravado no Estúdio Casa das Máquinas entre setembro e novembro de 2024 (Bahia) | Engenheiro de gravação, mixagem e masterização: Tadeu Mascarenhas | Assistente de estúdio: Uirá Cardoso | *Este projeto tem apoio do Rumos Itaú Cultural 2023/2024 | Selo: Sanzala Cultura | Formato: CD digital / Físico | Ano: 2025 | Lançamento: 9 de maio | ♪Ouça o álbum: clique aqui.
————-
Mais sobre o álbum:
NASCIMENTO, Nadine. Mateus Aleluia propõe reflexão filosófica sobre o amor em seu novo álbum. In: Folha de S. Paulo, Ilustrada, 10 de maio de 2025. Disponível no link. (acessado em 15.5.2025)

revistaprosaversoearte.com - Mateus Aleluia faz mergulho profundo nas emoções em impetuoso álbum sobre o amor em todas as suas formas
Mateus Aleluia, por Vinícius Xavier

Sobre Mateus Aleluia
Filho e fruto de Cachoeira (BA), Mateus Aleluia Lima é cantor, compositor e pesquisador da ancestralidade musical pan-africana do Brasil. Iniciou sua carreira em sua cidade natal no Recôncavo Baiano e junto com Dadinho foi responsável pelo perfil artístico ideológico dos Tincoãs, considerado o primeiro grupo vocal a expressar, na história da Música Popular Brasileira, a herança cultural – musical e linguística – de diferentes povos africanos que aqui aportaram.
.
A ligação estreita que estabeleciam com a África tornou-se uma realidade concreta na vida de Mateus e Dadinho, quando, a partir de 1983 passam a viver em Angola. Nas duas décadas que viveram por lá lançaram o último disco d’Os Tincoãs, mas foi à pesquisa antropológica e cultural que Mateus dedicou grande parte do seu tempo. Contratado pela Secretaria de Cultura de Estado de Angola, ele viajou o país ao encontro de mestres e mestras dos mais diversos saberes. No retorno ao Brasil, em continuidade à sua trajetória artística, lançou os álbuns “Cinco Sentidos” (2009), “Fogueira Doce” (2017), “Olorum” (2020) e “Afrocanto das Nações” (2021), que junto com a obra dos Tincoãs são considerados marcos culturais afro-brasileiros.
.
Desde 2020 Mateus desenvolve o icônico projeto “Nações do Candomblé”, no qual dedica-se a refazer as pontes entre as matrizes musicais sagradas do culto do candomblé e os cantos sagrados dos cultos africanos. Em fase de execução a pesquisa já resultou na composição e gravação do álbum “Afrocanto das Nações”, nomeado ao Grammy Latino. Reconhecida autoridade cultural, Mateus foi agraciado em 2020 com a medalha 2 de Julho, maior honraria da Assembleia Legislativa da Bahia, tornando-se comendador pelo seu estado. Em 2021, foi a vez de receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano.
.
>> Siga: Site MA / @mateusaleluia | @estudiocasadasmaquinas | @tenille.queiroz

.
.
.
Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske


ACOMPANHE NOSSAS REDES

DESTAQUES

 

ARTIGOS RECENTES