quinta-feira, maio 29, 2025

João Luiz lança álbum ‘Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz’

João Luiz lança pela Gravadora Rocinante o álbum Os guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz com obras inéditas do lendário compositor cubano. O disco inclui duas peças escritas por Leo Brouwer especialmente para o próprio João Luiz
.
O concertista e professor João Luiz estreia na gravadora Rocinante com um lançamento de peso: o álbum Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz, inteiramente dedicado às obras do consagrado compositor cubano Leo Brouwer — incluindo duas peças inéditas escritas especialmente para ele. O disco lançado em 28 de maio, em LP e nas principais plataformas de streaming.

A gênese do projeto foi quase acidental. Durante as gravações do álbum de estreia da violonista Gabriele Leite — sua ex-aluna e artista da Rocinante — em Nova York, João conheceu Sylvio Fraga, diretor artístico da gravadora. Ao mencionar que possuía obras inéditas de Brouwer dedicadas a ele, Sylvio reagiu de imediato: “O Leo Brouwer dedicou peças pra você e isso ainda não foi gravado? Vamos resolver isso agora.” Assim nasceram as sessões de gravação, quase em segredo.
.
Recém-nomeado professor da prestigiada Yale School of Music, João Luiz Rezende é reconhecido por sua abordagem colaborativa, virtuosismo técnico e versatilidade musical, com indicações ao Grammy Latino e apresentações em palcos como o Carnegie Hall e Concertgebouw. Além de expandir o repertório do violão com obras dedicadas por compositores como Leo Brouwer, Sérgio Assad, Ronaldo Miranda e Dusan Bogdanovic, ele também se destaca como compositor, com peças interpretadas por ensembles de prestígio e reconhecimento crítico, como o prêmio da Academia Paulista de Críticos de Arte (APCA). Sua trajetória inclui ainda um forte compromisso com a educação musical, atuando como mentor de jovens músicos e promovendo a acessibilidade da música clássica há mais de duas décadas.

revistaprosaversoearte.com - João Luiz lança álbum 'Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz'
João Luiz Rezende Lopes | Foto: Sarah Blesener

“Tenho cerca de 20 discos em 25 anos de carreira, e este foi, sem dúvida, o que mais me deu prazer em realizar”, afirma João Luiz. O repertório reúne composições recentes de Brouwer, escritas entre 2014 e 2021, como O Arco e a Lira, Os Guardiões da Magia e a Sonata Cubana nº 7. Esta última, inicialmente concebida em três movimentos inspirados em grandes pintores cubanos, ganhou um quarto movimento a pedido de João — uma vibrante homenagem ao changüí e a outras tradições musicais do oriente cubano.
.
“Minha relação com Leo Brouwer começou em 2009 e se aprofundou com o tempo. Depois de estrear com ele a obra Gismontiana no Brasil, gravei com o Brasil Guitar Duo o álbum com suas obras completas para dois violões, indicado ao Grammy Latino. Nossa amizade e colaboração cresceram tanto que ele me convidou para tocar em Havana ao lado de Yo-Yo Ma e Carlos Prieto, estreando duas de suas grandes obras. Receber composições dedicadas a mim foi uma honra imensa e o resultado natural de uma trajetória construída com admiração mútua”, relembra João.

Em outro momento do processo criativo, João se debruçou sobre os Bocetos para piano de Brouwer. “Notei ali influências afro-cubanas marcantes, com ecos de Chucho Valdés e Gonzalo Rubalcaba, e sugeri ao maestro uma peça para violão baseada nesse universo sonoro”, conta. A partir do Boceto nº 6 — que remete à Toccata da Sonata nº 7 de Prokofiev — Brouwer compôs a Sonata Cubana nº 7, partindo dos esboço, mas criando uma nova obra. “Também pedi que ele se inspirasse em elementos da música folclórica cubana. O resultado foi uma peça sofisticada, com três movimentos cheios de ritmo, personalidade e identidade afro-caribenha.”
.
Radicado em Nova York, João Luiz é reconhecido internacionalmente por sua atuação como músico e educador, mantendo uma intensa agenda de concertos. A gravação contou com participações de destaque, como os violoncelistas Raman Ramakrishnan e Clancy Newman, além da própria Gabriele Leite.
.
“Fiquei profundamente honrado quando Leo Brouwer me dedicou Os Guardiões da Magia, uma obra sólida e de grande envergadura. Mais do que um presente, senti que ele compôs pensando nas minhas características como intérprete — especialmente minha abordagem rítmica e o trabalho com polirritmias. Foi um gesto generoso de um dos maiores compositores vivos para violão”, conclui João Luiz.
.
Mais do que uma estreia na Rocinante, Os Guardiões da Magia é um marco: um documento raro, um gesto de amizade e um tributo à genialidade de Leo Brouwer — um dos compositores mais inventivos da música para violão dos séculos XX e XXI.

revistaprosaversoearte.com - João Luiz lança álbum 'Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz'
Capa do disco ‘Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz’ • João Luiz • Selo Rocinante • 2025

Disco ‘Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz’ • João Luiz • Selo Rocinante • 2025
Músicas / compositor
Lado A
1. Sonata cubana n. 7 (Leo Brouwer)
I. Sonera meticulosa
II. ⁠Solidão do canavial
III. ⁠Carlos Embale, sem você…
IV. ⁠Quase Changüí
2. Os guardiões da magia (Leo Brouwer)
Lado B
3. O arco e a lira (Leo Brouwer)
Sonata para dois violoncelos e dois violões
I. Encontro e celebração
II. ⁠Lírica
III. ⁠O pulso da terra
– ficha técnica –
Faixa 1 e 2 – lado A: João Luiz: violão | Faixa 3 – lado B: João Luiz: violão; Gabriele Leite: violão; Clancy Newman: violoncelo; Raman Ramakrishnan: violoncelo | *As três peças foram compostas por Leo Brouwer e são editadas pela Ediciones Espiral Eterna | Direção artística: João Luiz Rezende e Sylvio Fraga | Direção musical: João Luiz Rezende | Produção musical: Guilherme Oliveira e Sylvio Fraga | Gravação: Pepê Monnerat e David Bjur no Brooklyn Recording | Assistente de gravação: Samuel Wahl | Edição: Guilherme Oliveira e KK Akamine | Engenheiro de som: Arthur Damásio | Mistura e masterização: Pepê Monnerat no Estúdio Rocinante | Coordenação artística: Jhê | Coordenação técnica: Flávio Marcos Batata | Projeto gráfico: Ana Rocha | Fotografias: Sarah Blesener | Direção de produção: Geraldinho Magalhães | Produção executiva: Alessandra Ramalho e Raquel Cardoso | Capa – A obra reproduzida na capa e na contracapa é da autoria de Hector Carybé – estudo para mural – guache sobre papel – 14,5 x 46,5 cm – fotografada por Jaime Acioli – Herdeiros de Carybé / Copyrights Cons. Ltda | Violão: João Luiz toca em um violão Sérgio Abreu 2008 e usa cordas Augustine Regal Blue | Assessoria de imprensa: Pantim Comunicação / Dayw Vilar e Tathianna Nunes | Selo: Rocinante | Cat.: R025 | Formato: CD digital / LP vinil | Ano: 2025 | Lançamento: 28 de maio | ♪Ouça o álbum: clique aqui | ♩Compre o LP: clique aqui.
.
> Siga: @rocinantegravadora

revistaprosaversoearte.com - João Luiz lança álbum 'Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz'
João Luiz Rezende Lopes | Foto: Sarah Blesener

TEXTO DE CONTRACAPA
As obras apresentadas neste álbum fazem parte da produção mais recente do compositor, regente e violonista cubano Leo Brouwer, abarcando um período de sete anos entre a sonata O arco e a lira (2014) e a Sonata Cubana n.7 (2021). Além de apresentá-las aqui em seu primeiro registro fonográfico, tive a honra de Os guardiões da magia (2019) e da Sonata Cubana n.7 terem sido dedicadas a mim.
.
Como a grande maioria dos violonistas, meu contato com as obras de Leo Brouwer se deu na adolescência através de seus Estudios Sencillos. Anos mais tarde, membro do quarteto de violões Quaternaglia, retomei o contato com a obra do maestro. Dali em diante, minha ligação com a obra do Brouwer, interpretando e promovendo suas composições, nunca mais parou. Cito como um dos momentos mais marcantes da minha carreira a estreia de seu concerto Gismontiana (contando com a regência do próprio autor) e a estreia mundial em Havana de O arco e a lira (que, como membro do Brasil Guitar Duo, interpretei ao lado de Yo-Yo Ma e Carlos Prieto nos violoncelos).

Compositor precoce, Leo Brouwer já surpreendia aos 17 anos, apresentando um estilo singular, influenciado tanto pela música afro-cubana quanto pelas técnicas de composição europeias, sem apelar para o uso de clichês comuns em propostas composicionais similares. Como violonista, Brouwer possuía um repertório tão abrangente que mais fácil seria listar as obras que ele não havia tocado. Sua atividade como regente, professor e promotor cultural vem influenciando várias gerações de músicos e personalidades ligados às artes — da pintura e literatura à música popular de várias partes do mundo. A quantidade, diversidade e qualidade de sua obra violonística (com muitas peças que fazem parte do cânone do violão moderno) colocam Leo Brower seguramente como um dos principais compositores de todos os tempos para o instrumento.
.
As influências da pintura e da literatura são uma constante na obra composicional de Brouwer, tornando-se para ele mais que uma orientação estilística, mas uma verdadeira poética. Muitos dos títulos de suas obras são extraídos de novelas e contos de um de seus escritores prediletos, Alejo Carpentier. No caso de O arco e a lira, a inspiração vem do livro homônimo do poeta mexicano Octávio Paz, que reflete bem a maneira de pensar e criar de Brouwer: “O caráter irrepetível e único do poema é partilhado por outras obras: pinturas, esculturas, sonatas, danças, monumentos. […] Uma tela, uma escultura, uma dança são, à sua maneira, poemas. […] A diversidade das artes não impede a sua unidade. Em vez disso, a sublinha”.

Nessa obra de grande virtuosismo, a escrita magistral de Leo Brouwer faz com que a junção entre os violoncelos — naturalmente dominantes em volume e sustentação — e os violões não soe desequilibrada, criando um timbre peculiar. Devido à complexidade técnica e musical da obra, foi fundamental escolher os músicos certos para tal empreitada. O maravilhoso violoncelista estadunidense Raman Ramakrishnan — membro do trio Horszowski, da Boston Chamber Music Society e professor de violoncelo do Bard College — com quem tive a felicidade de colaborar em outras ocasiões, foi quem sugeriu seu conterrâneo violoncelista e compositor Clancy Newman, vencedor do prêmio Naumburg, professor de violoncelo na Universidade de Princeton e assim como Raman, um virtuoso do instrumento com larga experiência em música dos séculos XX e XXI. Gabriele Leite, cuja carreira acompanho há muito tempo, provou ser a parceira ideal. Mesmo jovem, já é considerada uma das maiores violonistas de sua geração. A cada ensaio, a intimidade e entendimento musical entre os quatro músicos crescia, possibilitando uma interpretação que espero estar à altura da obra.
.
O primeiro movimento, Encontro e celebração, começa com uma extensa cadência solo para cada um dos instrumentos, utilizando material rítmico e melódico derivado de outras obras do compositor, como Tarantos (1974) e Concerto Elegíaco (1986). Na seção intitulada Celebração, os quatro instrumentos, em uníssono rítmico, pontuam um motivo de cinco notas que remete ao son cubano.
.
O movimento central, Lírica, com orquestração transparente e refinado uso do registro agudo do violoncelo, representa talvez um dos pontos mais altos da escrita brouweriana. Esse “poema sem palavras” em três partes apresenta um diálogo em que os violoncelos dividem o material melódico e os violões o harmônico. Resulta disso uma espacialidade sonora que conjuga lirismo comovente e ritmos mais escarpados.

Em El pulso de la tierra, a justaposição de padrões rítmicos complexos e certa aspereza sonora, que explora ao máximo as variações de articulação e dinâmica dos dois grupos instrumentais, é análoga à interpretação de Octavio Paz sobre poesia e ritmo: “o ritmo não é uma medida, é uma visão do mundo […] ritmos binários ou ternários, antagônicos ou cíclicos alimentam instituições, crenças, artes e filosofia […]. O universo é um sistema bipartido de ritmos contrários, alternados e complementares ao mesmo tempo.”
.
Além do evidente valor artístico, o idiomatismo é um dos fatores que mais têm contribuído para a divulgação e permanência das obras de Leo Brouwer no repertório para violão. Os guardiões da magia é um ótimo exemplo de uma escrita virtuosística eficaz, mas não impossível de ser executada. Nessa peça, o compositor mais uma vez transforma materiais oriundos de seu universo musical, ressaltando o aspecto percussivo. O próprio título e o caráter implícito de dança confirmam a presença do universo ritualístico afro-cubano nessa obra.
.
Sobre sua Sonata Cubana n.7, o compositor escreveu: “João Luiz me pediu uma espécie de adaptação para violão do sexto dos meus Diez bocetos para piano, que dediquei aos grandes pintores cubanos. Seu pedido me fez explorar o resto da série, o que resultou em versões “revisitadas”: o número 5 (Choco) virou o primeiro movimento, Sonera meticulosa (ao mesmo tempo uma dupla homenagem aos “sones” de Matamoros); o número 4 (Acosta León) virou o segundo movimento, Solidão do canavial e o número 6 (Mendive) virou o então último movimento, Carlos Embale, sem você… (um grande cantor de son e rumba, especialmente de guaguancó, com suas dianas prototípicas que tanto admirei). Se acrescenta ao mesmo tempo uma nostalgia de Cuba e algumas de suas tradições mais arraigadas. Coloquei títulos indicando gêneros significativos para mim como o son, além de recordar o canavial cubano, hoje quase extinto da nossa história.
.
Inicialmente concebida em três partes, Sonata Cubana n.7 foi composta em março de 2021. Um ano depois, João pediu um quarto movimento declarando sua predileção pelo changüí e o tresero Chito Latamblé. Durante três semanas compus esse movimento que chamei de Quase Changüí, uma espécie de homenagem aos gêneros dançantes antigos dos campos orientais cubanos como o nengón, o kiribá, a tumba e obviamente o changüí”.
.
Brooklyn, NY, 26 de fevereiro de 2025
— João Luiz —

revistaprosaversoearte.com - João Luiz lança álbum 'Os Guardiões da Magia: Leo Brouwer por João Luiz'
João Luiz Rezende Lopes | Foto: Sarah Blesener

.
.
Série: Discografia da Música Brasileira / Jazz / Música instrumental / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske


ACOMPANHE NOSSAS REDES

DESTAQUES

 

ARTIGOS RECENTES