Sob uma jornada traçada
outros kamínhus (re)inventámos
Sobre o luándu dum longínquo silêncio
Stendémus o secreto compasso
Nas entrelinhas
uma vulcânica VOZ
a lavas
sibilar

O periférico verbo
erránti
invádi centros de falácias
Cada lâmpada acende um génio
cada interruptor suporta 21 dedos
Ficai com alguns pirilampos
dai-nos a pretidão dos corvos
numa língua em decomposição
e sobre ela construiremos outràgris-língua
Não, não, não, não, não, nãaaaaaaaaaaaaaao!
– Hélder Simbad, em “Agris Magazine: Tundavala”. [coordenação editorial Helder Silvestre Simba André]. 2ª ed., Luanda/Angola: Movimento Litteragris©, 2016.

§

Por entre os flutuandantes celestiais jardins
doutro Jesus-além
repousa o verso que me beija
com mil Judas

Esponjoso versículo
por entre os sagrados blocos
nos becos
a embriagada Lua anda
resplandecente palavra com sombras internas

Reina no mais belo poema
ou na infinita perfeição de um éden
alguma coisa como qualquer coisa
imperfeita qual reptil falante

Caminham pelas infinitas tubagens do sentir
alguma loucura governada pelo absurdo
uma multidão de seres triviais
autónomos objectos em movimentos marginais
esferográbraços
poemas com pés de andar
mas a imperfeição
é um paraíso perdido num pestanejar
Talvez versos Judaicos
– Hélder Simbad, em “Agris Magazine: Tundavala”. [coordenação editorial Helder Silvestre Simba André]. 2ª ed., Luanda/Angola: Movimento Litteragris©, 2016.

§

Com a arte dos olhos
arrancar o vestido
Depois de desnudo
massajar o corpo trémulo e aceso
com a lentidão de uma lesma

No porto dos ouvidos
atracar a imoralidade dos verbos
pequenas canoas de volúpia

Hasteada a retesada bandeira
examinar à beijos a obra de um deus
e sobre as gigantescas ondas do mar
surfar com a língua prancha

E só depois de ébrio de prazer
colher lambifoneticamene
nos umbigos de poço
o gozo da última gota de champanhe
ou levar a língua de abelha
a extrair o néctar da rosa de fogo
que me acena por entre o triângulo do vestido

E já depois do insalivar processo
irrompendo a infinita castidade das siameses coxas
qual camelo a passar pelo buraco dàgulha
umàldeia antes dos países de baixo
levantar voo em direcção ao mistério
(In)te(n)são vs intenção
– Hélder Simbad, em “Agris Magazine: Tundavala”. [coordenação editorial Helder Silvestre Simba André]. 2ª ed., Luanda/Angola: Movimento Litteragris©, 2016.

§

E assim venho
de lugar nenhum
cal má mente
recto
relutante no entanto
nem tanto
entretanto
portanto reticente
reincidente
dez
sendo
aqui ou ali ou talvez acolá
como um Alá
figurado in verso
verso a verso ad verso
e o colar a colar ab initio
enquanto a subversiva submersão
de súbito sujeito
subentendido
pendido
nas entre linhas
que entre a linha
no final da contra curva
Entre o céu e a terra
– Hélder Simbad (Movimento Litteragris)

§

Sorrir
Sorrir para o infinito
Sorrir para a tristeza
Como se a vida não fosse um diamante de gelo

Rir-se do sorriso da amada
Ri-se do tropeço daquela mboa armada
Como se na vida, tudo, um riso merecesse

Sorrir de mim sem vergonha de sorrir
Rir-se dos tempos do camabuím

Sorriso inocente do petiz
Que não sabe que sofre
Sorriso de criança
O único sincero
– Hélder Simbad

§

Eu digo:
Pelos intermináveis esgotos do sonho
canalizo o energético poema
ligando-o aos fios eléctricos
por onde se escoa o sangue

Eu digo: passa o poema
(sonhando) passa o poema que me sonha
bombeado pelo frenético palpitar
do coração marimba

Não!
O espírito do poema
ou a baba de deus
escorregadia e pegajosa
desce
pelas velozes cordas da luz
ou pelo triangular ciclone
e me golpeia pelas laterais
Poema com dentes de morder
Poema que me sonha

Invocar um instante apocalíptico
como um cristão
rico de pobreza
e morrer neste instante
sonhando um inacabado poema?

Sim!
Seria perfeição
o sonho de deus realizado
no limite do infinito

Eu digo: esqueci-me
Porras

Como direi?!
Um poema viajante
com cintilantes rosas
polvos e rosapolvos
a voar por mares
(sonhando)
a flutuar por céus
(sonhando)

Um poema
com origem em si
percorre
o frágil corpo
em transe
seu impulso
giranda pelo cadáver
fora
impedido
pela tampa da caneta
explode-se-me

Seu ímpeto atravessa
a carne dos dedos
os transparentes abismos da caneta
a tenacidade da tampa
a terra que não sonha
o sonho da terra
e vai além sonho

Do alto regressa
sonhando se sonha
e seu nome será
alguma coisa
sem género
“Conto fantástico”
– Helder Simbad, em “Do Sul do Isolamento ao Norte da População”. Movimento Litteragris.

§

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Helder Simbad

BREVE BIOGRAFIA
Hélder Simbad é o pseudónimo de Hélder Silvestre Simba André, filho de Pompílio Mateus André e de Albertina Simba. Nasceu aos 13 de Agosto de 1987 em Caibnda. É estudante do 4º ano, curso de Línguas, Tradução e Administração na Universidade Católica de Angola; professor de Língua Portuguesa e Literatura Africanado Segundo Ciclo. Começou a sua actividade artística entre 1997 e 1998. É Coordenador Geral e membro co-fundador do Movimento Litteragris.
Fonte: Agris Magazine: Tundavala”. [coordenação editorial Helder Silvestre Simba André]. 2ª ed., Luanda/Angola: Movimento Litteragris©, 2016.







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