Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
– Antonio Cicero, em “Guardar – Poemas escolhidos”. Rio de Janeiro: Editora Record, 1996, p. 337.

Ouça aqui:

ANTONIO CICERO
Antonio Cicero Correia Lima (Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1945) é um compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor brasileiro. Em 10 de agosto de 2017 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Formado em Filosofia, em 1972, pelo University College London, da Universidade de Londres, Antonio Cícero é autor, entre outros trabalhos, dos livros de poemas Guardar (Rio: Record, 1996), A cidade e os livros (Rio: Record, 2002), Porventura (Rio: Record, 2012) e, em parceria com o artista plástico Luciano Figueiredo, de O livro de sombras (Rio: +2 Editora, 2010). Também publicou as obras de ensaios filosóficos O mundo desde o fim (Rio: Francisco Alves, 1995), Finalidades sem fim (São Paulo: Companhia das Letras, 2005) e Poesia e filosofia (Rio: Civilização Brasileira, 2012). Além disso, suas entrevistas foram reunidas no livro de Arthur Nogueira, intitulado Encontros: Antonio Cícero (Rio: Azougue, 2013).

Organizou o livro de ensaios Forma e sentido contemporâneo: poesia (Rio: EdUERJ, 2012) e, em parceria com Waly Salomão, o volume de ensaios O relativismo enquanto visão do mundo (Rio: Francisco Alves, 1994). Em parceria com Eucanaã Ferraz, produziu a Nova antologia poética de Vinícius de Moraes (São Paulo: Companhia das Letras, 2003).

Em 1993, concebeu o projeto intitulado “Banco Nacional de Ideias”, através do qual, nesse ano e nos dois subsequentes, promoveu, em colaboração com o poeta Waly Salomão e com o patrocínio do Banco Nacional, ciclos de conferências e discussões de artistas e intelectuais de importância mundial, como João Cabral de Melo Neto, Richard Rorty, Tzvetan Todorov, Hans Magnus Enzensberger, Peter Sloterdijk, Bento Prado Jr. e Darcy Ribeiro, entre outros. É também autor de inúmeras letras de canções, tendo como parceiros compositores como Marina Lima, Adriana Calcanhotto e João Bosco.

Antonio Cícero foi agraciado, em 2012, com o “Prêmio Alceu Amoroso Lima – Poesia e Liberdade”, concedido pela Universidade Candido Mendes e pelo Centro Alceu Amoroso Lima pela Liberdade.

:: Mais sobre Fernanda Montenegro. AQUI!







Literatura - Artes e fotografia - Educação - Cultura e sociedade - Saúde e bem-estar