SOCIEDADE

Francisco | Sonho e esperança

“Abra-se e sonhe. Sonhe que o mundo com você pode ser diferente. Sonhe que, se você der o melhor de si, você ajudará a fazer com que este mundo seja diferente. Não esqueçam. Sonhem.”
– Papa Francisco no livro “Quem sou eu para julgar?”. Editora LeYa, 2017.
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SONHAR
Um escritor latino-americano dizia que nós, homens, temos dois olhos, um de carne e um de vidro. Com o olho de carne, vemos aquilo que olhamos. Com o olho de vidro, vemos aquilo que sonhamos.
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Na objetividade da vida deve entrar a capacidade de sonhar. E um jovem que não é capaz de sonhar está confinado em si mesmo, está fechado em si mesmo. Todos sonham coisas que jamais acontecerão… Mas sonhe com elas, deseje-as, procure horizontes, abra-se, abra-se a grandes coisas. Nós, argentinos, costumamos dizer: “No te arrugues”, “Não crie rugas”. Não envelheça. Não desista, abra-se. Abra-se e sonhe. Sonhe que o mundo com você pode ser diferente. Sonhe que, se você der o melhor de si, você ajudará a fazer com que este mundo seja diferente. Não esqueçam. Sonhem. Às vezes vocês se deixam levar e sonham demais, e a vida lhes corta o caminho. Não importa, sonhem. E contem seus sonhos.
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Contem, falem sobre as grandes coisas que vocês desejam, porque quanto maior for a capacidade de sonhar — e a vida se encarrega de deixá-los pela metade —, mais caminho você terá percorrido. Por isso, acima de tudo, sonhem.
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[Discurso em Cuba, 20 de setembro de 2015]
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Do livro “Quem sou eu para julgar?” / ‘Chi sono io per giudicare?’/ Papa Francisco [reunido e editado por Anna Maria Foli; tradução de Clara A. Colotto]. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.

Papa Francisco – foto: Stefano dal Pozzolo / Contrasto

AS AMEAÇAS À ESPERANÇA
A esperança nasce quando se pode vivenciar que nem tudo está perdido.
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A principal ameaça à esperança são os argumentos que desvalorizam você, como se sugassem seu valor, e você termina como que jogado ao chão, acabrunhado, com tristeza no coração… Argumentos que o fazem sentir-se de segunda classe, se não de quarta.
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A principal ameaça à esperança ocorre quando você sente que ninguém se importa com você ou que você foi deixado à margem. Essa é a grande dificuldade para a esperança: quando numa família, ou numa sociedade, ou numa escola, ou num grupo de amigos não fazem você sentir que eles se importam com você. E isso é duro, é doloroso. Isso mata, isso nos aniquila e isso abre a porta a muito sofrimento.
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Mas há também uma outra grande ameaça à esperança, que é fazer você acreditar que começa a ter valor quando usa roupas de marca, segundo o último grito da moda, ou quando tem prestígio, ou que é importante porque tem dinheiro. Mas no fundo do seu coração você não acredita ser digno de afeto, digno de amor, e isso o coração intui.
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Entendo que, muitas vezes, seja difícil sentir-se a riqueza de um país quando nos encontramos continuamente expostos à perda de amigos e de familiares nas mãos do narcotráfico, das drogas, de organizações criminosas que semeiam o terror.
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É difícil sentir-se a riqueza de uma nação quando não se tem oportunidade para exercer um trabalho digno. É difícil sentir-se a riqueza de um lugar quando jovens são usados para fins mesquinhos, sendo seduzidos com promessas que, ao fim, não são reais, são bolhas de sabão.
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Não é verdade que o único modo de viver, de ser jovem, é deixar a vida nas mãos do narcotráfico ou de todos aqueles que só o que fazem é semear a destruição e a morte.
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É também graças a Jesus que podemos dizer que não é verdade que o único modo de viver para os jovens, aqui, é a pobreza e a marginalização; marginalização de oportunidades, marginalização de espaços, marginalização da formação e da educação, marginalização da esperança.
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[Discurso para os jovens no México, 16 de fevereiro de 2016].
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Do livro “Quem sou eu para julgar?” / ‘Chi sono io per giudicare?’/ Papa Francisco [reunido e editado por Anna Maria Foli; tradução de Clara A. Colotto]. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.

NOSSAS PROMESSAS
Quanto somos leais em relação às promessas que fazemos às crianças, fazendo-as vir ao nosso mundo? Nós as fazemos vir ao mundo e essa é uma promessa, o que lhes prometemos?
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Acolhimento e cuidado, proximidade e atenção, confiança e esperança são promessas básicas que se podem resumir em apenas uma só: amor. Prometemos amor, isto é, o amor que se exprime no acolhimento, no cuidado, na proximidade, na atenção, na fé e na esperança, mas a grande promessa é o amor. Esse é o modo mais justo de acolher um ser humano que vem ao mundo, e todos nós aprendemos isso antes mesmo de sermos conscientes disso.
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Quando passo entre vocês, agrada-me tanto quando vejo o papai e a mamãe que me trazem um menino, uma menina pequenos e pergunto:
— Qual é a sua idade?
— Três semanas, quatro semanas… Peço a bênção do Senhor.
Também isso se chama amor.
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O amor é a promessa que o homem e a mulher fazem a cada filho desde que o concebem em pensamento. As crianças vêm ao mundo e esperam o cumprimento dessa promessa: esperam-no de modo total, confiante, indefeso. Basta olhá-las: em todas as etnias, em todas as culturas, em todas as condições de vida! Quando acontece o contrário, as crianças são feridas por um “ultraje”, por um ultraje insuportável, tanto mais grave por elas não terem os meios para decifrá-lo.
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Não conseguem entender o que acontece.
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Deus vela sobre essa promessa desde o primeiro instante. Recordam o que diz Jesus? Os Anjos das crianças refletem o olhar de Deus, e Deus nunca perde de vista as crianças (cf. Mt 18,10).
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Ai daqueles que traem a sua confiança, ai deles! O seu abandono confiante à nossa promessa, que nos compromete desde o primeiro instante, julga-nos.
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[Audiência, 14 de outubro de 2015].
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Do livro “Quem sou eu para julgar?” / ‘Chi sono io per giudicare?’/ Papa Francisco [reunido e editado por Anna Maria Foli; tradução de Clara A. Colotto]. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.

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