SOCIEDADE

Francisco – Com licença, obrigado, desculpe

Se não somos capazes de nos desculpar, significa que não somos capazes nem mesmo de perdoar. Na casa onde não se pede desculpa, começa a faltar ar, as águas ficam estagnadas. – Francisco
.
COM LICENÇA, OBRIGADO, DESCULPE
“Com licença?”, “obrigado”, “desculpe”. Essas palavras abrem o caminho para se viver bem na família, para se viver em paz. São palavras simples, mas não tão simples para se colocar em prática! Contêm uma grande força: a força de proteger a casa, inclusive por meio de mil dificuldades e provas; ao contrário, sua falta, pouco a pouco, abre fissuras que podem até fazê-la desabar.
.
Em relação à expressão “com licença”, quando nos preocupamos em pedir gentilmente, inclusive aquilo que acreditamos ser direito nosso, fortalecemos o espírito da convivência matrimonial e familiar. Entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa vida, requer a delicadeza de um comportamento não invasivo, que renova a fé e o respeito. A confiança, em suma, não autoriza a tomar tudo como previsível.
.
Em relação à palavra “obrigado”, algumas vezes parece que estamos nos tornando uma civilização de maus modos e más palavras, como se elas fossem sinal de emancipação. Escutamos essas palavras muitas vezes, inclusive publicamente. A gentileza e a capacidade de agradecer são vistas como um sinal de fraqueza, por vezes suscitam inclusive desconfiança. Essa tendência deve ser combatida no seio da família. Se a vida familiar deixar de se importar com isso, a vida social também sairá perdendo.
.
Em relação à palavra “desculpe”, é uma palavra difícil, mas certamente necessária. Quando falta essa palavra, pequenas rachaduras se alargam até se tornarem valas profundas. Reconhecer ter errado, desejar restituir aquilo que se tirou — respeito, sinceridade, amor — torna-nos dignos do perdão. E assim acaba a infecção.
.
Se não somos capazes de nos desculpar, significa que não somos capazes nem mesmo de perdoar. Na casa onde não se pede desculpa, começa a faltar ar, as águas ficam estagnadas. Muitas feridas dos afetos, muitas dilacerações nas famílias começam com a perda dessa palavra preciosa.
.
[Audiência, 13 de maio de 2015].
—-
Do livro “Quem sou eu para julgar?” / ‘Chi sono io per giudicare?’ / Papa Francisco [reunido e editado por Anna Maria Foli; tradução de Clara A. Colotto]. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.

Papa Francisco – foto: Gali Tibbon/AFP

FAMÍLIA E CONVIVÊNCIA
Não é raro a própria família se tornar objeto descartável por causa de uma cultura individualista e egoísta cada vez mais difundida que rescinde os vínculos e tende a promover o dramático fenômeno da redução da natalidade ou, então, devido a legislações que privilegiam diversas formas de convivência em vez de sustentar, adequadamente, a família pelo bem de toda a sociedade.
.
Entre as causas de tais fenômenos há uma globalização uniformizadora que descarta as próprias culturas, rompendo, desse modo, os próprios fatores da identidade de cada povo que constituem a herança imprescindível subjacente a um desenvolvimento social saudável.
.
Num mundo uniformizado e privado de identidade, é fácil aproveitar o drama e o desencorajamento de muitas pessoas que perderam, literalmente, o sentido da vida. Esse drama é agravado pela crise econômica contínua, que gera desconfiança e favorece os conflitos sociais.
.
[Discurso, 12 de janeiro de 2015].
—-
Do livro “Quem sou eu para julgar?” / ‘Chi sono io per giudicare?’ / Papa Francisco [reunido e editado por Anna Maria Foli; tradução de Clara A. Colotto]. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.

Leia também
:: ‘Os idosos são a memória e a sabedoria dos povos.’ – Papa Francisco
:: Papa Francisco – ‘Viver implica “sujar os pés” pelas estradas poeirentas da vida e da história’
:: Papa Francisco: “O perigo em tempos de crise é buscar um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda com muros”
:: Francisco: a morte não é o fim de tudo, mas um novo começo
:: Papa Francisco – Ecologia humana – Mundo natural e mundo humano
:: Papa Francisco: A cultura do diálogo | Pontes e muros
:: Francisco – O ensinamento dos avós
:: Francisco | Sonho e esperança
:: Papa Francisco | A indiferença
:: Papa Francisco | Uma sociedade habituada a jogar fora
:: Francisco sobre a liberdade de expressão
:: Francisco – Com licença, obrigado, desculpe
 

Revista Prosa Verso e Arte

Música - Literatura - Artes - Agenda cultural - Livros - Colunistas - Sociedade - Educação - Entrevistas

Recent Posts

Cida Moreira e Rodrigo Vellozo lançam o álbum ‘Com o Coração na Boca’

Artistas se encontram em um álbum visceral que atravessa o teatro musical brasileiro e os…

2 horas ago

O fascismo que nos habita, por Paulo Baía

Evito utilizar o termo fascista com descuido. Conheço seu peso histórico, suas origens, seus desdobramentos…

7 horas ago

Dino Fonseca traz a turnê “Back to the 80’s” para o Vivo Rio

Após uma maratona de mais de 200 shows e um super DVD em 2024, Dino…

1 dia ago

CCBB São Paulo | Espetáculo ‘Nise em Nós – Uma Ode ao Delírio’ comemora os 120 anos da psiquiatra Nise da Silveira

Nise em Nós comemora os 120 anos da psiquiatra Nise da Silveira com temporada no…

1 dia ago

1ª edição ‘As Mulheres dos Ventos – Festival de Sanfoneiras’, no Sesc Consolação

Com o objetivo de mostrar a força, o talento e a representatividade de artistas femininas…

1 dia ago