Cercada de polêmicas, em 1917, Anita Malfatti (1889-1964) inaugurou uma mostra em São Paulo que abriu as portas para a arte moderna brasileira. Cem anos depois da exposição que antecedeu a Semana de Arte Moderna de 1922, a artista tem sua trajetória revista no MAM, a partir de quarta-feira (8)

Há cem anos, São Paulo assistia à inauguração da Exposição de pintura moderna Anita Malfatti, evento que alteraria para sempre o curso da história da arte no Brasil. Do conjunto ali reunido, chamavam especial atenção as paisagens construídas por meio de manchas de cores fortes e contrastantes, e, nos retratos, os enquadramentos insólitos, as deformações anatômicas, o colorido não naturalista. As extravagâncias expressivas – aos olhos dos matutos que, até então, só haviam tido contato com pinturas acadêmicas ou muito próximas disso – sinalizavam o impacto que a arte de vanguarda tivera sobre a artista durante o período de aprendizado na Alemanha (1910-1913) e nos Estados Unidos (1914-1916).

Inicialmente, a mostra foi recebida com assombro e curiosidade: a visitação foi intensa, e Anita chegou a vender oito quadros. Mas a crítica de Monteiro Lobato “A propósito da exposição Malfatti” – posteriormente conhecida como “Paranoia ou mistificação?” – ecoou de forma negativa e, a partir de então, o nome de Anita ficou associado àquele do criador do Sítio do Pica-pau Amarelo. Cristalizou-se a ideia de que ela nunca se recuperaria desse incidente e que seu breve apogeu teria sido seguido de uma dolorosa e definitiva decadência.

Após um século deste marco, já é tempo de reexaminá-lo à luz de uma abordagem ampliada do modernismo, principalmente porque a contribuição de Anita para a história da arte moderna brasileira não se resumiu às inovações formais que apresentou em 1917. Em vista disso, Anita Malfatti: 100 anos de arte moderna inclui pinturas e desenhos que pontuam diversos momentos da produção desta artista, sempre sensível às tendências artísticas a sua volta. Para além do belíssimo conjunto expressionista que a consagrou como estopim do modernismo brasileiro, a exposição apresenta paisagens e retratos de períodos posteriores, como as refinadas pinturas naturalistas das décadas de 1920 e 1930, e aquelas mais próximas à cultura popular, presente nos trabalhos dos anos 1940 e 1950.

A celebração de cem anos de arte moderna no Brasil é uma excelente ocasião para rever o legado de Malfatti como artista pioneira – inspiradora da Semana de Arte Moderna de 1922 –, cuja atualidade se prolongou tanto no radicalismo com que se lançou ao retorno à ordem, na década de 1920, quanto na ousadia com que se apropriou da “maneira popular”, nos últimos anos de vida. Trata-se, sem dúvida, de uma artista ímpar, sintonizada com seu tempo e com diferentes aspectos de um modernismo que ajudou a construir.
– por Regina Teixeira de Barros – Curadora

Algumas obras da exposição

revistaprosaversoearte.com - Exposição 'Anita Malfatti: 100 anos de Arte Moderna'
Anita Malfatti
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O farol, Anita Malfatti (1915)
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Interior de Mônaco, Anita Malfatti
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Retrato de um professor [Cabeça de velho], Anita Malfatti (1912)
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Homem de sete cores, Anita Malfatti (c. 1915-16)
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A composição A Chinesa, Anita Malfatti (1921-22)
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Nu cubista, Anita Malfati (1916)

SERVIÇO
Exposição: Anita Malfatti: 100 Anos de Arte Moderna
Período: De 8 de fevereiro até 30 de abril de 2017
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo -MAM
Parque Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Portão 3, 5085-1300.
Quanto:R$ 6 (sáb., grátis).
Fechado: Segundas-feiras
(11) 5085-1300

Fonte: MAM

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Anita Malfatti – precursora do movimento modernista brasileiro







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