NOTÍCIAS

Exaustão emocional atinge quase 60% dos médicos no Brasil, aponta pesquisa

por Camila Fernandes de Souza | Jornal da Universidade – UFRGS
.
Saúde | Estudo do Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da UFRGS também constatou que médicos em início de carreira são mais propensos à síndrome de burnout
.
A síndrome do burnout é caracterizada por um grau elevado de exaustão física e psicológica, causado por demandas ou responsabilidades excessivas no emprego e na vida pessoal. Ela possui três dimensões: a desconexão com o trabalho (despersonalização), o sentimento de baixa realização pessoal e a exaustão emocional.

Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome do esgotamento profissional atinge principalmente os trabalhadores que lidam com pressão no dia a dia (dentre eles, os profissionais da saúde), o que torna ainda mais latente a discussão sobre as condições de trabalho no país.
.
A pesquisa de Gabriela Monteiro, doutora pelo Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade Fedeal do Rio Grande do Sul – UFRGS, avaliou a incidência do burnout na carreira médica e os fatores de risco nesse grupo.

A partir de entrevistas com estudantes, residentes, generalistas, especialistas e aposentados, Gabriela detectou que 39,9% dos médicos no país se autodeclararam em burnout, porém a exaustão emocional, uma das características da doença, foi diagnosticada em 59,3% desses profissionais. A despersonalização apareceu em 45,5% dos casos e 33,1% da amostra tinha sentimento de baixa realização pessoal.
.
O questionário foi aplicado em outubro de 2019 e obteve 2.486 respostas, sendo 274 delas de estudantes e 2.212 de pessoas que já exercem ou exerceram a profissão.

Só o trabalho causa o burnout?
A pesquisa avaliou a relação dos participantes com a instituição em que trabalhavam, com os superiores e os colegas, levantando um dado alarmante. Somente 25% dos médicos trabalhavam em um ambiente saudável, enquanto 75% estavam em um contexto considerado de risco ou tóxico, de acordo com o Inventário de Avaliação do Ambiente de Trabalho (WEEI).
.
“Quanto mais tóxico o ambiente, maiores eram os números e a pontuação de exaustão emocional, despersonalização, etc.”
– Gabriela Monteiro

Embora as condições laborais tenham grande impacto na saúde mental, há outros fatores, também comprovados pela pesquisa, que colaboram para o desenvolvimento dessa condição. “Quanto melhor o relacionamento com a família, menor o risco de burnout. Quanto melhor o relacionamento com os amigos, também é menor o risco”, explica a pesquisadora.
.
A quantidade de horas de sono, a prática de atividade física e a qualidade de relações com amigos e familiares demonstraram ser fatores determinantes para o aparecimento (ou não) do burnout. Também, os profissionais que moravam sozinhos, que não tinham filhos e que faziam uso abusivo de álcool eram mais propensos a desenvolver a síndrome.

Melhorando com o tempo
Gabriela indica que nem todas as fases na carreira médica têm níveis de desgaste iguais. A incidência da síndrome de esgotamento profissional é maior entre os estudantes e médicos ingressantes no mercado de trabalho, quando comparados aos “veteranos”.
.
“Principalmente na época de residência, no início da carreira, existe uma pressão pro médico ‘se mostrar mais’, pra provar que é capaz. Também acho que tem um pouco do médico não saber seu limite”, afirma a psiquiatra.
.
Os níveis mais altos de despersonalização — caracterizada pela desilusão com o serviço prestado — e exaustão emocional foram encontrados em quem trabalhava na área há menos de cinco anos. A partir dos 30 anos de carreira, os dois níveis diminuíram e o sentimento de realização pessoal aumentou.

Para a pesquisadora, o cenário de alta incidência da doença ocupacional não é específico do Brasil ou da medicina, mas uma tendência no mercado de trabalho atual. “Tanto que o professor [Glen] Gabbard, que fez uma parte da pesquisa com a gente, se interessou muito porque ele também via isso lá nos Estados Unidos.”

Por isso, ela ressalta a importância de a instituição avaliar continuamente o bem-estar da equipe e desenvolver intervenções e melhorias eficazes, levando em consideração como os trabalhadores se sentem e a forma como se relacionam com as demandas.

“As pessoas não gostam de admitir que os ambientes de trabalho são doentios, principalmente dentro da medicina.”
– Gabriela Monteiro

O texto parcial já está disponível no Lume – Repositório Digital. Em breve, o último artigo, referente à comparação entre médicos e estudantes de Medicina, será integrado à tese no site.

Revista Prosa Verso e Arte

Música - Literatura - Artes - Agenda cultural - Livros - Colunistas - Sociedade - Educação - Entrevistas

Recent Posts

Cida Moreira e Rodrigo Vellozo lançam o álbum ‘Com o Coração na Boca’

Artistas se encontram em um álbum visceral que atravessa o teatro musical brasileiro e os…

13 horas ago

O fascismo que nos habita, por Paulo Baía

Evito utilizar o termo fascista com descuido. Conheço seu peso histórico, suas origens, seus desdobramentos…

18 horas ago

Dino Fonseca traz a turnê “Back to the 80’s” para o Vivo Rio

Após uma maratona de mais de 200 shows e um super DVD em 2024, Dino…

2 dias ago

CCBB São Paulo | Espetáculo ‘Nise em Nós – Uma Ode ao Delírio’ comemora os 120 anos da psiquiatra Nise da Silveira

Nise em Nós comemora os 120 anos da psiquiatra Nise da Silveira com temporada no…

2 dias ago

1ª edição ‘As Mulheres dos Ventos – Festival de Sanfoneiras’, no Sesc Consolação

Com o objetivo de mostrar a força, o talento e a representatividade de artistas femininas…

2 dias ago