terça-feira, agosto 5, 2025

Espetáculo ‘Perigosas Damas’ estreia curta temporada no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto

Geovana Pires encena o solo “Perigosas Damas”, espetáculo que aborda a liberdade feminina no Brasil. Do início do sistema prisional feminino surge a dramaturgia do espetáculo
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Perigosas Damas” é um espetáculo solo, idealizado e protagonizado por Geovana Pires e tem como ponto de partida o livro ‘Histórias de um silêncio eloquente’ de Thaís Dumêt, no qual extraiu histórias do início do sistema prisional para mulheres no Brasil, que data do início do século XX.
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O espetáculo, que estará em cartaz entre os dias 15 e 31 de agosto, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, tem dramaturgia assinada por Geovana, Elisa Lucinda e Denise Stutz. A montagem é uma realização da Companhia da Outra, com produção da Paragogi Cultural.
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Perigosas Damas conta com o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e é fruto de uma pesquisa intensa, inclusive dentro de penitenciárias onde a idealizadora realizou projetos sociais como sócia da Casa Poema junto com Elisa Lucinda, e contou com o reforço criativo da direção de Denise Stutz e Soraya Ravenle como diretora musical.

No palco, Geovana aborda o sexismo, opressão e sobretudo a liberdade por meio de vivências femininas reais do passado, mas que se assemelham com a realidade atual de muitas mulheres.
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“Ao longo da história da civilização humana foram criadas leis e mecanismos de contenção para que, independentemente da cor e da classe social, as mulheres fossem encarceradas em manicômios, conventos e sistemas prisionais por serem sexualizadas, lésbicas, extrovertidas, inteligentes, terem repulsa sexual ao marido, praticarem a cartomancia, prostituição, etc.”, analisa Geovana.
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Ela aponta ainda que o espetáculo lança mão da narrativa poética para ajudar a contar essas histórias. Ainda segundo Geovana, na Casa Poema, instituição criada em 2008 por ela e Elisa Lucinda, que há décadas trabalha em diversas camadas sociais usando a poesia como ferramenta de ensino, são ministradas aulas para vários setores da sociedade como quilombos,, pessoas em medida socioeducativa,, população de rua e população trans.

“Esse espetáculo é fruto da experiência, minha e de Elisa Lucinda, de quase duas décadas trabalhando com toda essa diversidade. A poesia entrou na peça se encaixando com a minha história na Casa Poema, onde trabalhamos com as mulheres privadas de liberdade através da poesia falada. O processo de ensaio foi muito intenso pois não estamos falando só delas . Eu também me vi nelas. E assim, fomos construindo a dramaturgia durante os ensaios. E foi lindo por ter sido uma junção de várias mulheres com vivências diferentes”, conta Geovana.
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Ao resgatar essas vidas femininas, Geovana apresenta também versões em rap de alguns poemas de Elisa Lucinda, que foram musicados por Soraya Ravenle, que evidenciam o quanto a liberdade feminina frustrava o Estado na tentativa da limpeza moral e racial a que o Brasil foi submetido.
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Com uma equipe feminina em sua maioria, a peça tem como propósito uma narrativa vista sob a perspectiva das mulheres ao dar vida à personagens reais, resgatando histórias respaldadas em ampla pesquisa, que contribuem para a compreensão sobre o feminismo nos tempos atuais. “Tem sido um encontro do olhar feminino que desconstrói o autoritarismo e vai para um lugar de liberdade. Por isso eu não queria ser dirigida por um homem, mas sim por uma mulher. Pelo olhar de compreensão e acolhimento”, analisa.

Para o projeto, Geovana convidou Denise Stutz que assume a direção e afirma ter sido desafiador trazer para a linguagem teatral histórias tão trágicas de uma forma que aproximasse a plateia independente do gênero.
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“Pensarmos juntas e juntos em uma nova maneira de viver em uma sociedade mais igualitária. Tentamos inventar uma narrativa poética com o auxílio do rap junto com o funk trazendo a periferia, que é de onde começa a história da Geovana. A tese é uma escrita que defende e afirma suas certezas, por isso o meu desafio foi ‘desafirmar’ para perguntar, sem que tenhamos certeza de nenhuma resposta”, afirma a diretora.
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Ao lado de Denise está a atriz e cantora Soraya Ravenle assinando como diretora assistente e musical, que reconhece a liberdade abordada pela peça dentro do processo criativo do projeto.
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“É libertador você se abrir para ouvir o outro. Uma coisa que me fascina muito é o trabalho de um coletivo no teatro. Eu imagino que quando um homem senta para assistir a um espetáculo sobre o universo feminino também estamos falando sobre o masculino. No texto fica bem nítido o patriarcado em que a gente vive. Não é sobre criticar apenas, mas sobre criar um novo olhar”, aponta Soraya.

A dramaturgia teatral conta com as poesias de Elisa Lucinda que é dirigida por Geovana nos espetáculos ‘Parem de falar mal da Rotina’ – sucesso de público há 20 anos – e ‘A paixão segundo Adélia Prado’. “Eu acho que a humanidade não se deu conta ainda no processo de escravização que o feminino sofreu.”, declara Elisa.
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“Eu estou envolvida no espetáculo antes mesmo da sua concepção, pois eu participo do livro da Thaís com alguns poemas meus, além do prefácio. Eu acho que a humanidade não se deu conta ainda no processo de escravização que o feminino sofreu. São inúmeras camadas de prisões femininas que vão desde limitações psicológicas, sexuais, autopunição, infelicidades em benefício ao homem, abuso da mão de obra da mãe dentro de uma casa, etc. Na verdade, esse espetáculo é um manifesto de antifeminicídio”, acrescenta Elisa.
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A direção de produção fica a cargo de Rafael Lydio, da Paragogí Cultural, que é uma produtora que “compreende a cultura como uma potente ferramenta de transformação social, inclusão e fortalecimento da diversidade racial, de gênero, religiosa e cultural”, pontua.
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O propósito da Paragogi é criar experiências que representem, respeitem e potencializem diferentes corpos, vozes e histórias, trabalhando para que a cultura seja um espaço de empatia, equidade e escuta ativa.
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Ainda segundo Rafael, a transformação acontece quando todas as pessoas se veem, se reconhecem e se sentem parte do processo. “Com uma atuação comprometida com a justiça social, buscamos construir pontes entre comunidades, instituições e territórios, promovendo encontros que gerem pertencimento e novas possibilidades”, finaliza o produtor.

SOBRE A CIA DA OUTRA
A Companhia da Outra foi criada em 2007 pelas atrizes e dramaturgas Elisa Lucinda e Geovana Pires e desenvolve um pensamento cênico fruto da larga experiência que esta companhia teatral tem de explorar a força dramatúrgica das obras poéticas. Sua investigação caminha por uma linguagem baseada na premissa de que do conteúdo é que brotam as formas e as escolhas estéticas. A Companhia assina os espetáculos, Parem de Falar Mal da Rotina, A fúria da Beleza, A Natureza do Olhar, A Paixão Segundo Adélia Prado, Perigosas Damas, sem contar os shows musicais e poéticos por todo o Brasil e fora dele.

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Geovana Pires encena o solo “Perigosas Damas” – foto: Guga Melga

SINOPSE
‘Perigosas Damas’ exalta a liberdade ao resgatar histórias do início do sistema prisional feminino no Brasil, que principia em meados do século XX, quando mulheres eram encarceradas em manicômios, conventos e sistemas prisionais por serem sexualizadas, lésbicas, extrovertidas, inteligentes, terem repulsa sexual ao marido, praticarem a cartomancia, prostituição, etc. Neste solo, baseado no livro ‘Histórias de um silêncio eloquente’ de Thaís Dumêt, Geovana Pires reveza interpretações de vivências reais com versões em rap de poemas de Elisa Lucinda que abrem portas para a reflexão sobre a igualdade de gênero.
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FICHA TÉCNICA
Perigosas Damas – um espetáculo da ‘Companhia da Outra’ | Obra adaptada do livro História de um silêncio eloquente de Thaís Dumêt | Idealização, atuação e coordenação geral: Geovana Pires | Direção: Denise Stutz | Dramaturgia: Elisa Lucinda, Denise Stutz e Geovana Pires | Direção de produção: Rafael Lydio (Paragogi Cultural) | Direção musical e diretora assistente: Soraya Ravenle | Cenário e figurino: Wanderley Gomes | Trilha sonora original: Flavia Tygel | Desenho de luz: Ana Luzia Molinari de Simoni | Pintura de arte: Paulo Pinto | Coordenação de comunicação: Daniel Barboza (incerta) | Produção executiva: Liliane Miranda | Assistente de produção: Eduardo Brandão | Costureira de figurino: Selma Franklin | Controller: Taís Espírito Santo | Gestão financeira e prestação de contas: Carol Villas Boas / Clareira | Assessoria de imprensa: Alessandra Costa | Idealização: Instituto Casa Poema | Realização: Companhia da Outra | Produção: Paragogi Cultural  | Patrocínio: Prefeitura do Rio – Secretaria Municipal de Cultura

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Geovana Pires encena o solo “Perigosas Damas” – foto: Guga Melga

SERVIÇOS
Perigosas Damas – um espetáculo da ‘Companhia da Outra’
Temporada/ dias e horários: 15 a 31 de agosto 2025 – Sexta e sábado às 20h e domingo às 19h
Onde: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto – Rua Humaitá, 163 – Humaitá, Rio de Janeiro / RJ
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos
Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia-entrada)
Vendas online: clique aqui.
Mais informações: @perigosasdamas@paragogicultural / @casapoemainstituto


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