Com direção de Wallyson Mota e dramaturgia de Pablo Manzi, espetáculo cria uma reflexão sobre a importância da democracia e sobre quem pode exercer a cidadania em nossa sociedade
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Em uma reflexão crua e irônica sobre as ideias de civilização e barbárie, o Coletivo Labirinto estreou em 2022 Onde Vivem os Bárbaros, com direção de Wallyson Mota e dramaturgia de Pablo Manzi. E agora, no contexto das comemorações da primeira década de trajetória do grupo, o espetáculo reestreia e ganhou novas apresentações nos teatros da prefeitura de São Paulo a partir de abril.
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Ao longo deste semestre, uma montagem percorrerá todas as regiões da cidade. A próxima praça é o Teatro Arthur Azevedo, de 30 de maio a 1º de junho. Em cena, estão Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez, Ton Ribeiro e Wallyson Mota.
As novas sessões de Onde Vivem os Bárbaros estão inseridas dentro do projeto “Pés-Coração: A América Latina Como Caminho”, em que o Coletivo Labirinto celebra sua pesquisa sobre a dramaturgia latino-americana contemporânea.
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As atividades são possíveis graças ao apoio recebido pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo – Edição 43. Além da circulação, o projeto abarca leituras encenadas e laboratórios de criação que serão desenvolvidos ao longo de 2025.
Onde Vivem os Bárbaros apresenta um debate cênico sobre as relações entre civilização e barbárie em nossos dias, num processo social de esfarelamento das democracias através dos silenciamentos e das manifestações de violência.
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A obra conta a história de três primos que, depois de vários anos sem se ver, decidiram se encontrar no Chile, em 2015. O convidado, diretor de uma ONG reconhecida por realizar ações de estabelecimento da democracia em zonas de conflito, se vê envolvido no estranho homicídio de uma jovem ligada a movimentos neonazistas. Este fato desencadeia atitudes inesperadas dos personagens e uma discussão sobre a ideia que cada uma foi construída sobre a outra, que culmina na deflagração das diferentes formas de violência entre os convidados.
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“A obra apresenta uma sociedade que busca respostas rápidas para assuntos complexos, mesmo que para isso se arrisque pelo terreno das injustiças e se expresse por gestos inequívocos de silenciamento do que ele é diferente – entendido então como um inimigo”, conta o diretor Wallyson Mota.

Ainda segundo o cenário, o espetáculo promove – através de uma situação ficcional – uma espécie de ágora contemporânea sobre vários pontos de nossa vivência política, social, histórica e até mesmo filosófica. “Essa ideia de que uma certa assembleia pode surgir ao redor da narrativa só é possível em sua plenitude no teatro. Isso porque o teatro é um espaço de comunhão, um lugar onde uma coletividade se agrupa ao redor de algo ou de uma ideia, onde podemos compartilhar sensações, pensamentos e emoções através da simples presença dos corpos”, acrescenta.
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Sobre a construção da encenação, o diretor explica que a peça é dividida em três partes. Na primeira, um prólogo que se passa na Grécia no século 5 aC, época conhecida como o berço da civilização ocidental e do pensamento democrático. Na segunda temos o Chile, em 2015, com algumas situações que provocam reflexões e discussões sobre essa mesma democracia, apontando alguma noção de decolonialidade.
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Por fim, o terceiro momento se passa em 2022, no Brasil, quando o país se viu defronte ao fantasma de ameaça às instituições democráticas e à liberdade do pensamento dissonante, durante as eleições presidenciais e parlamentares daquele ano.
Escrita no Chile, a peça apresenta uma ampla base de reflexão para características determinantes de nosso percurso social, tais como a normalização e a validação da violência dentro de contextos demonstrados democráticos.
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O texto traz ainda uma reflexão oportuna sobre o arquétipo do bárbaro. “Bárbaro é aquele que não é cidadão. Por esse viés, é o que está à margem, fora das propostas civilizatórias, o que é visto como bruto, sujo, selvagem. É o que não habita a polis, o que não tem direito de exercer ação sobre o Estado instituído. Mas o que seria uma sociedade civilizada e o que seria uma sociedade bárbara? Acredito que o ponto que mais nos interessa em tudo isso é: quem pode ocupar os espaços de uma pressuposta cidadania hoje? Quem sempre ocupou esses lugares e quem segue sendo apartado/a deles?”, questiona o encenador.
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Mota ainda conta que a proposta do grupo não é propor uma reflexão sobre a democracia no sentido de desmoralizá-la. “Queremos falar sobre o entendimento total de sua importância e da constatação de que ela só existe de fato quando as mais diversas pessoas (seja pelo recorte de classe, raça ou gênero) podem usufruir de suas benesses e interferir no seu funcionamento. A democracia de fato só existe quando ela é praticada por todos os setores da sociedade. Por isso, ela é um exercício coletivo e público, que deve ser praticado e desenvolvido a todo momento, para que não deixe de existir”, finaliza.

Sobre o Coletivo Labirinto
Fundado em 2013, o Coletivo Labirinto é um núcleo de pesquisa e criação cênica formado por artistas que transitam entre direção, atuação, performance e produção, a fim de investigar as relações das pessoas com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea.
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Entre os trabalhos estreados pelo grupo estão “Sem_Título” (2014), “Argumento Contra a Existência de Vida Inteligente no Cone Sul” (2019), “Onde Vivem os Bárbaros” (2021/2022) e “Mirar: Quando os Olhos se Levantam” (2022).

Sinopse
Depois de anos, três primos se reencontraram. O anfitrião, diretor de uma ONG reconhecida, revelou estar envolvido em um estranho assassinato, fato que desencadeia manifestações de violência entre os convidados. Este encontro aparentemente familiar torna-se cada vez mais terrível com o aparecimento de personagens que vão agravar as ideias que cada uma construção sobre o outro, sobre o inimigo.

Ficha Técnica
Direção: Wallyson Mota | Dramaturgia: Pablo Manzi | Tradução: Wallyson Mota | Elenco: Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez, Ton Ribeiro e Wallyson Mota | Assistente de direção: Carolina Fabri | Cenário e figurino: Lu Bueno | Iluminação: Matheus Brant | Visagismo: Fábia Mirassos | Concepção sonora: Gregory Slivar | cenotécnico: Armando Junior | Aderecistas: Jésus Seda e Matias Arce | Designer gráfico: Renan Marcondes | Fotos: Mayra Azzi e Matheus Brant | Assessoria de imprensa: Pombo Correio | Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto e Lucas Cardoso | Realização: Coletivo Labirinto e Cooperativa Paulista de Teatro

Serviço
Onde Vivem os Bárbaros, do Coletivo Labirinto
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
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Teatro Arthur Azevedo
Endereço: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca
Quando: 30 de maio a 1 de junho (sexta e sábado às 21h, domingo às 19h)
Quanto: Grátis
Entradas na bilheteria 01h antes do início das sessões
Mais informações: @coletivo.labirinto
