sábado, outubro 5, 2024

Entrevista com o pianista Leandro Braga, por Daniela Aragão

Leandro Braga, é pianista, arranjador e compositor, com uma carreira profissional de 35 anos. Tem 7 CDs próprios, alguns deles premiados: – And Why Not? – composições próprias, ao lado de músicos como David Finck , Bob Mintzer, Giovanni Hidalgo, Ignacio Berroa e Romero Lubambo, pela Arabesque Records, NY, Usa. – Letra de Música – Noel Rosa: pela gravadora Lumiar, ao lado de Johnny Alf. – Pé Na Cozinha – composições próprias, agraciado com 3 troféus do Prêmio Sharp de 1999, como Melhor Música, Revelação e Melhor Solista. – A Música de Chiquinha Gonzaga – Primeira Dama – A Música de D. Ivone Lara – concorreu ao Grammy Latino, de 2003. – A Música de Chaplin – ao lado dos pianistas Gilson Peranzzetta e João Carlos Assis Brasil. – Fé Cega – a Música de Milton Nascimento Atuou como pianista e arranjador de nomes como Ney Matogrosso, Leila Pinheiro, Milton Nascimento, Elba Ramalho, Chico Buarque, etc.. Atualmente tem se apresentado com um quarteto, formado por Piano, Fagote e 2 percussionistas, apresentando a suíte dos Orixás, peça em 7 partes homenageando entidades do nosso panteão afrobrasileiro, como Eleguá, Ogun, Oxóssi, Xangô, etc. Tem um livro lançado com arranjos sobre composições de D. Ivone Lara e outro sobre as Baterias das Escolas de Samba. Tem realizado diversos workshops sobre ritmos brasileiros ao piano, como choro, samba, baião, côco, ijexá, etc..
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Eis a entrevista da série “Vozes na Pandemia”
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Daniela Aragão: Você tem feito um trabalho que acalenta nossa alma na Pandemia que é “Uma música por dia”
Leandro Braga:  A primeira pessoa que eu tinha conhecimento de ter feito isso foi Hermeto Paschoal, na década de noventa ele deu o nome de Calendário do Som. Saiu o livro com as partituras depois, com um tempo Maurício Carrilho começou a fazer, ele já realizou quatro vezes isso e agora faz pela quinta vez e esse ano coincidiu com a pandemia. Falei: – vamos propor esse desafio? Eu nunca fiz esse desafio, já peguei volume de trabalho que era limitado. Comecei a compor uma música por dia e deu certo, tive momentos muito bons, varia como qualquer trabalho que se propõe.
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Daniela Aragão : Há quanto tempo você está compondo uma canção por dia?
Leandro Braga: Comecei em Janeiro de 2021 e supostamente já era para ter terminado, não terminei porque eu adoeci duas vezes e numa delas tive que me internar, daí tive uma viagem a trabalho que atrasou um pouco, só faltam duas músicas, uma que eu vou fazer hoje. Outra amanhã.
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Daniela Aragão: A música flui no calor da hora ou você senta diante do piano e vai construindo?
Leandro Braga: Eu acho que a coisa depende do momento. Ontem foi dia vinte, eu queria fazer alguma homenagem a Oxóssi, que na umbanda é misturado com São Sebastião. Já sentei aqui com uma ideia na cabeça compondo. Aquele negócio de você ter uma encomenda e te perguntarem quantos dias você tem para fazer, depois que falo que topo acabou. Maurício chama de “Anuário Musical”, chamo o meu de “Diário Musical”. Me garanto um dia, no dia seguinte eu refaço o compromisso de mais um dia. Então no dia primeiro de Janeiro de 2021 fiz uma gravação que era o seguinte, a partir de hoje vou fazer um diário musical, uma música por dia até completar 365. Coloquei esse compromisso no ar, se alguém quisesse cobrar pela composição que depende da respiração. Sinto que desce do céu, eu acho que não tem o lado de inspiração, composição é basicamente um trabalho braçal onde entra bom gosto, autocrítica, ousadia, essa coisa toda. Então tem momentos de as músicas saírem fáceis. Eu penso comigo, você vai compor, beleza, você tem uma ideia e começou a música a partir desse instante, já são duas pessoas a pensar a respeito da música, uma é você o outro ela própria. Ela tem gosto, tem vontade, de repente você fala vou para cá e a música fala: – aqui não . Então começa um diálogo e as vezes convém você fazer o que a música está pedindo, que é uma coisa mais natural, ela mesma e às vezes convém você ser ouvido e falar: – na próxima te dou um qualquer, agora é minha vez.

Daniela Aragão: O dia que é único e irrepetível, um dia você vai estar mais erudito, ou mais jazzístico. Um dia a canção vai ser longa, um dia menor. Você vê a data e a comemoração respectiva ao dia. Você começou a tocar com 4 anos não é? Um menino prodígio.
Leandro Braga:  Não sei o que é prodígio, você é obrigado com quatro anos ou pode ser obrigado com três. Foi entre quatro e cinco,  uma coisa que a minha mãe fazia que era insistir muito numa educação artística para mim e meu irmão. A gente começou a estudar piano muito cedo. Quando se está com quatro, cinco, seis, sete, até onze anos de idade a criança está mais é querendo brincar, não ficar tanto tempo ao piano. Ainda mais que naquele tempo não tinha uma pedagogia lúdica que desse prazer pra criança. Então, muitos anos que eu estudei foram penosos, a coisa começou a ficar um pouco mais tranquila quando passei a ver a música que eu tocava as vezes gostosa, podia ser Jovem Guarda por exemplo que eu gostava.
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Daniela Aragão: Você foi para o conservatório ou professor particular
Leandro Braga: Conservatório. Tudo muito formal. A sorte minha foi que eu peguei professoras muito boas, carinhosas, interessadas.
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Daniela Aragão: Interessante que nesse entremear você cursa medicina e se forma.
Leandro Braga: Exerci muito pouco, no máximo dois anos. Eu tive uma ideia de me formar e já ir trabalhar na música. Foi o que aconteceu. Daí os trabalhos musicais que comecei a fazer em alta quantidade tornaram-se muito penosos, pouco prazerosos frente ao que poderia ser. Então voltei a exercer a medicina, a música continuou chamando e fui obrigado a optar.
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Daniela Aragão: É uma conciliação difícil.
Leandro Braga: Você é obrigado a deixar uma delas em segundo plano. Medicina em segundo plano não aconselho muito.
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Daniela Aragão: Você estudou com Nelson Aires, Luizinho Eça, Newton Valente …
Leandro Braga: Fiquei sabendo que o Luizinho dava aula e passei a ter uma aula semanal ou quinzenal, não me lembro. Era a época em que eu morava em São Paulo, pegava o ônibus  e seguia seis horas no Cometa. Na rodoviária aqui do Rio eu pegava outro ônibus até Copacabana. Tinha uma hora e meia de aula e em seguida refazia o trajeto. Podia  ser muito exaustivo, mas eu voltava para casa muito alimentado, cheio de energia. Ter aula com ele me trazia uma visão muito diferente, era divertido também, uma forma muito libertadora, fora dos ditames tradicionais. Luizinho Eça foi essencial na minha vida musical.
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Daniela Aragão: O ofício da composição nessa época já florescia?
Leandro Braga: Já tinha um lado compositor que eu trabalhava. Eu fazia parte daqueles que tiveram uma formação tanto erudita quanto popular.  Quando eu ia compor era quase uma reprodução do que eu tocava, o que é muito natural. Mas aquilo não me satisfazia, eu estudava um tipo de coisa e queria compor outra. Comecei a fazer experimentações e o Luizinho me estimulou muito, me deu sugestões. Eu dou aula também e recebo alunos que vem do erudito, é muito comum eles me perguntarem : “-Pode fazer isso?” Eu falo que pode tudo, inclusive ficar horroroso, mas pode ficar lindo e você só vai andar se se permitir fazer ousadias.
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Daniela Aragão: Quais foram as audições que te influenciaram?
Leandro Braga: Dentro do erudito duas coisas foram essenciais para mim. Em formação harmônica foi o impressionismo francês e para o meu estilo de tocar, a música russa. Os compositores russos de todas as épocas são muito fortes, têm muita ousadia, muito sangue no olho. Stravinsky , a rapaziada. Em termos de vida, a música de origem africana e afro brasileira por que elas mexem muito com polirritmia, energia do ritmo, aspectos que batem bastante com a música russa.  Devo destacar que essencial para a minha formação foi o aprendizado do jazz. O jazz me influenciou um bom tempo, sobretudo quando eu morava em São Paulo. O jazz tem o risco de fascinar tanto as pessoas, de se impor tanto sobre as pessoas que elas acabam só fazendo isso. O jazz é muito rico, se você não tomar cuidado vai fazer só isso. O jazz tem um corpo de doutrina muito sólida. Americano não é bobo,  sabe o valor da cultura que eles têm. A cultura musical americana é muito rica em todos os aspectos, principalmente o jazz que nasceu lá. Desde cedo eles internalizam essa cultura, isso não é de hoje. Quem quiser aprender jazz, tem uma sistematização.
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Daniela Aragão:  Você é um músico que possui sabedoria, uma capacidade vasta de improviso. Mergulha no erudito, é um músico que constrói a música.  Você também acompanha cantores.
Daniela Aragão: Há músicos que são especialistas em acompanhar. Acho que tanto solar quanto acompanhar são duas grandes faces de nossa atividade. Não é folclore, a grande maioria dos músicos, digo noventa por cento não sabe as letras das músicas que está acompanhando. Eu me incluo nisso. Não é desprezo pela letra. O artista com o qual mais trabalhei é o Ney Matogrosso. O Ney é um dos artistas mais fáceis que eu conheço para trabalhar. Ele é muito nu o tempo inteiro. Dessa vez é o nu com a minha música. Digo nu, pois ele sabe o que faz bem e o que não faz bem. Ele chega e fala pra mim: Leandro essa música eu estava pensando assim, assado. Eu chego pra ele e falo : -Tudo bem, mas eu pensei assim. E ele não tem problema nenhum para mudar de ideia. Não tem qualquer problema  em insistir na ideia dele. Muitas vezes ele não sabe explicar musicalmente o que deseja, mas sabe em algum lugar do espírito dele o que ele quer.  Se  o trabalho for piano e voz toco o tempo inteiro escutando a letra que ele está cantando. Eu me sinto um fazedor de trilha sonora de um texto, como se fosse isso impressionante. Quando estou fazendo acompanhamento com o Ney ao piano me permito ser ousado, variar a tonalidade e ele topa todas. Ele nunca falou: “Não faça isso, pois assim você me derruba”, muito pelo contrário.
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Daniela Aragão: Você pode seguir que ele vai.
Leandro Braga: O contrário também ele faz e eu estou junto com ele. Eu vejo assim, te dei o exemplo da composição de Oxóssi. Quando estou compondo fico com uma figura qualquer que me remeta a Oxóssi, a imagem dele o tempo  todo na cabeça. Quando estou acompanhando fico ao lado do cantor, é ele que tem que brilhar e receber o foco de todas as atenções.

Daniela Aragão: E como foi com a cantora Simone?
Leandro Braga: Uma vez fui entrevistado pelo fã clube dela- Formiguinhas. A Simone tem um processo muito particular e forte de definir repertório. Depois que ela define fica muito forte pra ela. Ela já tem na cabeça uma seleção prévia das músicas que pretende gravar. Acho seu processo interessante a beça, ela pega uns palitos de picolé que comprou numa viagem. Em cada palito Simone escreve o nome da música que pretende cantar e faz a sequência ordenando esses palitos, montando na cabeça a sequência.
A Beth Carvalho tinha um outro processo interessantíssimo pra definir repertório. Ela começava a receber música dos compositores e ficava com cerca de sessenta músicas, para fazer um LP ou cd mais tarde. Depois sobrava um número de quarenta, daí ela mostrava para nós músicos e perguntava a opinião. Beth promoveu um encontro  na casa dela, um churrasco e convidou muita gente, alguns amigos, pessoal da música, pessoal do teatro, representantes do povo como garçons e garis. Juntava o pessoal todo e lá decidiam o repertório. Uma música atrás da outra, colhendo impressões constituindo o que ele chama de bate-bola.
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Daniela Aragão: Você fez um longo trabalho com a Beth Carvalho
Leandro Braga: As sincronicidades são interessantes. O Osmar Milito uma vez me ligou e disse: “Tem um trabalho hoje pra fazer e não poderei ir, você pode?” O seguinte trabalho era numa casa em Ipanema que não existe mais, onde estava acontecendo um jantar da Polygram com vários artistas. Fui lá tocar com um trio. Começaram a acontecer a canjas, a Beth Carvalho deu, Emilio Santiago, uma atriz que canta bem como Suzana Vieira. No dia seguinte me ligou o Ney Barbosa que era empresário da Beth dizendo que a Beth tinha gostado de mim e me convidava para fazer parte da banda. Topei e aí comecei a trabalhar.
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Leandro Braga – foto: Pat Duarte

Daniela Aragão: Você poderia falar sobre a Sinfonia do descobrimento?
Leandro Braga: Foi uma sinfonia que não foi concretizada do jeito que foi concebida. Ela foi concebida para orquestra e coro infantil, percussionistas narradores. Um dos narradores seria o Saramago e a portuguesa Dulce Pontes. A gente fez o trabalho todo, musiquei a Carta de Caminha. Depois, na medida em que fui me tornando mais conhecedor da história passei a entender que o português era o grande dominador, um povo que veio para dominar, instaurar o tráfico negreiro. Principalmente isso. Me deu muita preguiça ficar homenageando quem veio ao Brasil para dominar, se fartar, destruir. Foi o que esse pessoal fez além dos portugueses, holandeses, franceses e belgas.

Daniela Aragão: Essa colonização predatória.
Leandro Braga: Exatamente. A carta enaltece o feito criminoso, sendo assim eu optei por compor a suíte dos Orixás. Trata-se de um outro trabalho instrumental com músicas que homenageiam treze orixás. A criação, a beleza, a vida. Não a morte e a destruição como na Carta de Caminha. Estou meio cansado de homenagear português nesse aspecto. A cultura portuguesa acho linda, adoro aquele país, mas bater palma para o Cabral que era escravagista, não vou.  Aqui no Rio de Janeiro se conhece o Garcia D’Ávila em Ipanema. Garcia D’Ávila foi um dos primeiros  e mais poderosos, desumanos criadores de escravos e assassinos. Lá na Bahia na praia do forte tem o que sobrou da fortificação, ele partia para Amazônia, para o nordeste pra capturar escravos. Definitivamente não dá para homenagear predadores e assassinos.
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Daniela Aragão: Você montou um coro?
Leandro Braga: Era grandioso, eu teria gosto de homenagear algo que eu admirasse e gostasse de aplaudir.
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Daniela: Este trabalho foi sob encomenda?
Leandro Braga: Não, no dia em que eu peguei a carta de Pero Vaz de Caminha achei-a muito musical e poética. Vamos supor que uma pessoa não soubesse nada de história e pegasse a carta de Pero Vaz de Caminha, ela possivelmente iria se maravilhar. No final do canto ele aproveita e manda uma letra depois escorrega e pede um favor.
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Daniela Aragão: O seu canal “à esquerda do piano” já no título abre possibilidades de abordagem.
Leandro Braga: Ele surgiu para ser simultaneamente duas coisas. Um canal que falasse de música especificamente. A mão esquerda no piano é a que te dá o swing, a mão que define o estilo a meu ver. Eu fazia análises técnicas disso, análise de ritmos, como tocar jongo no piano, samba. Outra vertente é levantar aspectos pertinentes ideologicamente à esquerda. Aqueles que referem ao compartilhamento, a solidariedade, trabalhar juntos. O coletivo, tudo o que é da esquerda ideológica. Eu preferi manter o canal com as mesmas propostas, acrescido das entrevistas. Daí passei a fazer esse canal de entrevistas. Entrevistei muita gente boa. Fiz no canal uma suíte Portinari que para mim é o que mais emociona na artes plásticas.  Peguei por volta de uns nove quadros do Portinari. Mostrei para o filho dele, o João Cândido que é uma pessoa fantástica o qual me estimulou muito. A suíte vai se tornar um cd. João Candido me contou que as vezes ele chegava em  casa e estavam reunidos Cândido Portinari, Villa Lobos, Sérgio Buarque. Um dia já tinha o cara tocando, um garotão de dezessete anos. Era o Villa Lobos.
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Daniela Aragão: Aprecio muito as temáticas que você desenvolve. São úteis para outros  pianistas, aqueles que estão estudando.
Leandro: Essa coisa de mostrar a música e falar dela, estranho não ter dado tanta repercussão quanto eu esperava. Por enquanto não deu muito ibope. Tem que ser editado, filmado, as entrevistas eu posso fazer e o papo já está no youtube. Tinha um dia que eu cheguei aqui no instagram e tinha um rapaz falando sobre tocar samba, parecia um xerox do meu programa.
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Daniela Aragão: Na verdade é muita gente fazendo e nem todo mundo que está nessa ceara tem conhecimento.
Leandro Braga: As coisas que eu percebi e descobri no piano não tenho pudor nenhum em compartilhar. Eu mostro. Não acho que vou perder algum trabalho porque compartilhei um conhecimento e alguém vai aprender.
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Daniela Aragão: Como Hermeto Paschoal fez um livro “Calendário do som”, Você pretende organizar um livro com suas composições diárias?
Leandro Braga: Pretendo, já estou organizando isso. Para as pessoas que ficam interessadas na minha música eu mando a partitura. Eu faço tudo no papel, lápis, borracha. Então se alguém quiser a partitura eu dou, mas é a foto do meu caderno.
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Daniela Aragão: Você poderia falar de seus trabalhos ligados ao social. Música nas escolas, a Ong.
Leandro Braga: Isso era da época em que morava bem no alto em Santa Tereza e tinha como visual muitas comunidades. Perguntei ao funcionário do condomínio se ele conhecia a associação de moradores. Te falo uma coisa, estar presente dentro de uma favela me faz sentir muito bem. Não estou romanceando, tem muita coisa triste, muito sofrimento, muita violência, mas é muito verdadeiro. Talvez tenha muito mais verdade lá. No Leblon eu me sinto um ser estranho. Atuei por quatro anos e juntamente com os outros músicos dávamos aulas de muita coisa. Nossa ideia não era formar músicos, mas pessoas que através da música desenvolvessem atenção nos parceiros, no conjunto todo. Posso dizer que os alunos que tive se tornaram seres humanos melhores, alguns se tornaram músicos profissionais. Eu tive um aluno que era filho de comerciante , um cara que todo mundo tirava sarro. Sofria bullyng e acabou se tornando traficante depois. Eu observava qual era a dinâmica de todas as coisas, um trabalho o qual me orgulho muito e que deu resultado. Inclusive a curto prazo dá para se constar resultados. Hoje eu poderia incentivar, estimular, estar presente lá, talvez eu me resguardasse, pois precisa de muita dedicação. Fingir que eu sou bonzinho ou sou legal, melhor não fazer nada.
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Daniela Aragão: O que é a música para a sua vida?
Leandro Braga: Posso dizer que a música é um caminho. Ela foi o caminho onde eu me encontrei, não é o único nem o melhor. Quem quiser eu estimulo e quem não quiser eu também dou força.
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Daniela Aragão – foto: acervo pessoal

** Daniela Aragão (1975) é doutora em literatura brasileira pela Puc-Rio, cantora e pesquisadora musical. Há mais de duas décadas desenvolve trabalhos sobre a história do cancioneiro brasileiro, com trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Gravou em 2005 o disco “Daniela Aragão face A Sueli Costa face A Cacaso”. Há mais de uma década realiza entrevistas com músicos de Juiz de Fora e de estatura nacional. Entre os entrevistados estão: Sergio Ricardo, Roberto Menescal, Joyce Moreno, Delia Fischer, Márcio Hallack, Estevão Teixeira, Cristovão Bastos, Robertinho Silva, Alexandre Raine, Guinga, Angela Rô Rô, Lucina, Turíbio Santos… Seu livro recém lançado “De Conversa em Conversa” reúne uma série de crônicas publicadas em jornais e revistas (Cataguases, AcheiUSA, Suplemento Minas, O dia, Revista Revestrés, Cronópios…) ao longo de quinze anos . Os textos de Daniela Aragão são reconhecidos no meio musical devido a sua considerável marca autoral e singularidade, cuja autora analisa minuciosamente e com lirismo obras de compositores e cantores como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Rita lee. O livro possui a orelha escrita pelo poeta Geraldo Carneiro, prefácio do pesquisador musical e professor da Puc-Rio Júlio Diniz, contracapa da cantora e compositora Joyce Moreno e do pianista e arranjador Cristovão Bastos. Irá lançar em 2022 seu livro “São Mateus – num tempo de delicadezas”.  Colunista da Revista Prosa, Verso e Arte. #* Biografia completa AQUI!
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