Greig de Zubicaray
Role,The Conversation*

Todos nós já passamos por aquele momento em que, no meio da frase, simplesmente não conseguimos encontrar a palavra que queremos usar, mesmo tendo certeza de que a conhecemos.
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Por que esse problema universal acontece? E quando as dificuldades de lembrar das palavras podem indicar algo sério?
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Todos teremos dificuldades ocasionais em encontrar palavras, mas se isso ocorrer com muita frequência com uma ampla variedade de palavras, nomes e números, pode ser um sinal de um distúrbio neurológico.

Os passos necessários para falar
A produção de palavras inclui várias etapas de processamento, como:

  • Identificar o significado desejado;
  • Selecionar a palavra correta do nosso “léxico mental” (um dicionário mental do vocabulário);
  • Resgatar seu padrão sonoro;
  • Executar os movimentos da fala para articulá-lo.

Em cada uma dessas etapas, podem surgir dificuldades para encontrar palavras.
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Quando uma pessoa saudável não consegue recuperar uma palavra, os cientistas da linguagem falam no “fenômeno da ponta da língua”.
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Alguém frustrado tentando passar uma mensagem tentará dar pistas sobre a palavra que está buscando: “Sabe, quando você acerta algo em cheio…. acertar na… começa com M!”
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Isso é relativamente comum e é um “erro” que ocorre principalmente durante a recuperação do padrão de som (etapa três).

O que mais pode afetar a busca por palavras?
As dificuldades para encontrar palavras ocorrem em todas as fases da vida, mas com mais frequência na medida em que envelhecemos.
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Nos idosos, o fenômeno pode provocar frustração e ansiedade antes da possibilidade de desenvolvimento de demência. Mas nem sempre é um motivo para preocupação.
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Uma maneira de investigar as causas da dificuldade de encontrar palavras é pedir às pessoas que monitorem a frequência do esquecimento e em que contexto isso ocorre.
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Alguns estudos mostraram que certos tipos de palavras, como nomes de pessoas e lugares, substantivos concretos (coisas como “cachorro” ou “edifício”) e substantivos abstratos (conceitos como “beleza” ou “verdade”), são mais prováveis de serem esquecidos, em comparação com verbos e adjetivos.

Palavras usadas com menos frequência também têm maior probabilidade de não serem lembradas.
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Acredita-se que isso acontece porque as palavras utilizadas com menos frequência têm uma ligação mais fraca entre seus significados e seus padrões sonoros.
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Estudos em laboratório também mostraram que o “fenômeno da ponta da língua” tem maior probabilidade de ocorrer em condições socialmente estressantes — por exemplo, quando as pessoas são informadas de que estão sendo testadas, independentemente da idade.
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Muitos relatam ter tido problemas assim durante entrevistas de emprego.

Quando é um problema?
Erros mais frequentes e envolvendo uma ampla variedade de palavras, nomes e números, provavelmente indicam problemas mais sérios.
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Esta condição é chamada de “anomia” ou “afasia anômica” e pode estar associada a danos cerebrais devido a derrames, tumores, ferimentos na cabeça ou demência, como a doença de Alzheimer.
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Recentemente, a família do ator Bruce Willis revelou que ele foi diagnosticado com uma doença degenerativa conhecida como afasia progressiva primária.
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Um dos primeiros sintomas desta condição é a dificuldade em encontrar palavras, em vez da perda de memória.
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A afasia progressiva primária está tipicamente associada a demências frontotemporais ou ao Alzheimer, embora também possa estar associada a outras patologias.
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A afasia anômica pode surgir devido a problemas que ocorrem em diferentes estágios da produção da fala.
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Uma avaliação feita por um neuropsicólogo clínico ou um patologista da fala pode ajudar a esclarecer qual estágio de processamento é afetado e quão grave pode ser o problema.
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Por exemplo, se uma pessoa não consegue nomear um objeto comum, como um martelo, um neuropsicólogo clínico pedirá que ela descreva para que serve o objeto. O indivíduo pode então responder “é algo com que você bate nas coisas” ou “é uma ferramenta”.
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Se não conseguir, o paciente pode ser solicitado a gesticular ou imitar como o objeto é usado.
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Ele também pode receber uma pista, como a primeira letra (m) ou sílaba (mar).

A maioria das pessoas com afasia anômica se beneficia muito ao receber dicas, indicando que elas apresentam problemas principalmente nos estágios posteriores da fala e nos aspectos motores.
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Mas se não conseguirem descrever ou imitar o uso do objeto e as pistas não ajudarem, isso provavelmente indica uma perda real do conhecimento e do domínio do significado das palavras.
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Geralmente, isso é sinal de um problema mais sério, como afasia progressiva primária.
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Estudos com exames de imagem em adultos saudáveis ​​e em pessoas com afasia anômica já mostraram que diferentes áreas do cérebro são responsáveis ​​pelas dificuldades de encontrar palavras.
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Em adultos saudáveis, as falhas estão relacionadas a alterações na atividade das regiões cerebrais que controlam os aspectos motores da fala — sugerindo um problema espontâneo de articulação, em vez de uma perda no conhecimento das palavras.
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Por outro lado, na afasia progressiva primária, as regiões cerebrais que processam o significado das palavras apresentam perda ou atrofia de células e conexões nervosas.

Embora a afasia anômica seja comum após acidentes vasculares cerebrais (AVC) no hemisfério esquerdo do cérebro, as dificuldades associadas a encontrar palavras não parecem ser determinadas por áreas específicas.
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Há tratamentos disponíveis para afasia anômica.
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Os fonoaudiólogos podem treinar o indivíduo em tarefas de nomeação usando diferentes tipos de dicas ou instruções para ajudar na recuperação de palavras.
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As pistas podem ser características de objetos e ideias, ou características sonoras de palavras, ou uma combinação de tudo isso.
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Os aplicativos de celulares também são promissores quando usados ​​para complementar a terapia.
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O tratamento bem-sucedido está associado a mudanças na atividade de regiões cerebrais conhecidas por apoiarem a produção da fala.
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Infelizmente, não existe um tratamento eficaz para a afasia progressiva primária, embora alguns estudos tenham sugerido que a terapia da fala pode trazer benefícios temporários.
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*Greig de Zubicaray é professor de neuropsicologia na Universidade Tecnológica de Queensland.
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*Este artigo foi publicado no site The Conversation e é reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique para ver a versão original.







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