segunda-feira, maio 19, 2025

Dom Helder Câmara – poemas e meditações do profeta da paz e da justiça

Religioso, poeta e humanista. Os títulos, apesar de justos, são insuficientes para traduzir quem foi Dom Helder Câmara. O “Dom da Paz”, como era conhecido.
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Um dos líderes religiosos, mais relevantes da história do país, Dom Helder teve um trabalho marcante na luta por direitos humanos, sendo um exemplo de caridade e humildade. Também fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foi bispo auxiliar no Rio de Janeiro e comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife por 21 anos.
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Nascido em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza (CE), e falecido em 27 de agosto de 1999, a trajetória de Dom Helder Câmara foi marcada em prol da promoção social e da dignidade humana, sendo uma voz corajosa na defesa dos direitos humanos, da justiça e da paz durante o regime militar. Também chamado “Pastor da Paz”, durante sua visita ao Recife em 1980, o Papa João Paulo 2º referiu-se a Dom Helder, dizendo: “Irmão dos pobres e meu irmão. Apontava para o essencial de sua vida: seu amor aos pequenos e sua incansável luta pela justiça, a fim de resgatá-los da pobreza, devolvendo-lhes a esperança e a dignidade de filhos e filhas de Deus”.

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Dom Helder Câmara – foto: Evelson de Freitas/Folhapress (6 de abril 1995)

Dom Helder: homem inteiro e poeta

por Leonardo Boff/ Núcleo de Memória da PUC-Rio
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Dom Helder, mais que pastor e profeta, foi um homem inteiro. Nele a humanidade reluzia na sua forma mais eminente. A inteireza humana se revela pelo coração. Seu coração tinha as dimensões do mundo. Foi o coração que o levou a amar incondicionalmente, as pessoas, a natureza, o mundo e Deus. Demonstrava enternecimento para com cada um que encontrava. Mas especialmente demonstrava ternura pelos pobres que abraça como irmãos e irmãs.
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Uma pessoa com tal carisma só poderia ser também um poeta. O poeta vibra diante da realidade. Capta seu lado invisível. Descobre conexões surpreendentes. Recria o mundo a partir do coração que sente o mistério escondido nas coisas e identifica as mensagens que vêm de todos os lados.
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Todos os escritos de Dom Helder vêm perpassados de aura poética. Aqui reúnem-se pequenos poemas que se entendem como contra-partida das poesias de um outro grande poeta, o pernambucano, precocemente falecido, Carlos Pena Filho. Ele nos legou uma obra notável – Livro Geral – de grande densidade poética. É um livro verdadeiramente inspirador.

Toda verdadeira poesia nasce da inspiração que outra coisa não é senão a irrupção do Espírito dentro do mundo. Porque é inspirada, ela inspira. Inspirou Dom Helder Câmara com poemas de grande sensibilidade e profundidade.
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A característica da poética de Dom Helder é a de sempre enfatizar a dimensão luminosa da vida e a ligação de todas as coisas e situações com o Eterno e o Absoluto. Elas não se contrapõem mas se compõem. Por isso pode confessar: ”Filho do Absoluto amo o relativo”. Marcha “para o eterno através do efêmero”.
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Esse seu olhar luminoso para com a dimensão de bondade de todas as coisas se revela claramente no contraponto que faz ao belo verso de Carlos Pena que merece ser citado:
”O que há de bom por aqui
na terra do não chover
é que não se espera a morte
pois se está sempre a morrer”.
— Dom Helder retruca com esse esplêndido verso: —
“Sempre a morrer e sempre a nascer…
Cada dia que passa,
Cada sol que se põe,
Cada despedida
São sinais de terra próxima
De desembarque à vista”

Luz e sombra são também complementares no ser e na missão. O sol ilumina e aquece. A sombra “é para descanso universal, dos homens, dos animais, das plantas, dos próprios seres sem vida”.
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Em Dom Helder, poesia e mística se fundem. Só um místico poeta podia escrever: “Quando parece que afinal chegou o fim aí se abre o verdadeiro início”. Em contacto com o Verbo Eterno as palavras não emudecem. Elas amadurecem em “musica, entendimento, harmonia”.
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Os poemas são curtos, mas verdadeiros acenos de beleza e de transcendência de um homem integral, na plenitude de sua humanidade.

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Retrato de Dom Helder Câmara, por Portinari (1959)

Uma breve seleta de poemas de Dom Helder Câmara

Peregrino
Quando teu navio
ancorado muito tempo no porto,
te deixar a impressão enganosa
de ser uma casa,
quando teu navio
começar a criar raízes
na estagnação do cais,
faze-te ao largo.
É preciso salvar a qualquer preço
a alma viajora de teu barco
e tua alma de peregrino…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Há criaturas como a cana
Mesmo postas na moenda,
esmagadas de todo,
reduzidas a bagaço,
só sabem dar doçura…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Fazer tudo bem
Dar o máximo.
Trabalhar sempre com alma
e com toda a alma,
quer se trate
de conduzir às estrelas
uma nave espacial
ou de fazer
uma simples ponta de lápis…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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As verdades vivem e sofrem
Importante e urgente
como libertar criaturas humanas
de prisões inumanas
é ir em socorro de verdades
prisioneiras de sistemas de ideias
que as retêm e asfixiam.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Cuidado, varredor
Vi o cuidado com que separas
tudo aquilo
que pode ter algum valor.
Já encontraste, varrendo,
fortunas que se desfizeram,
impérios que acabaram.
glória que se fez em pedaços?…
Muito respeito, gari,
se aparecerem
destroços de sonhos,
de vida,
de amor…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Solidão e Solidão
Não nos condenes
a ser sós
estando juntos.
Permite-nos
estar juntos
estando sós.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Velhos vinhos
Agora
que a velhice começa
preciso aprender com o vinho
a melhorar, envelhecendo
e sobretudo
a escapar
do perigo terrível
de envelhecendo
virar vinagre…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Nada de ideais ao alcance da mão
Gosto de pássaros
que se enamoram das estrelas
e caem de cansaço
ao voarem
em busca da luz…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Escuridão total
A noite estava tão escura,
tão sem um ponto de luz,
tão noite,
que cheguei a me angustiar,
apesar do amor profundo
que sempre tive à noite…
Foi quando ela me segredou:
quanto mais noite é a noite,
mais bela costuma ser
a aurora
que ela carrega no seio!
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Não me digas que não sabes
Pescador, afeito às águas
de quantas braças careço
para ver minha linha descer
ao fundo dos corações?
De que depende a fundura
do mar dos peitos humanos?
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Não te irrites
se quem te procura,
se quem te vem falar
não consegue traduzir
o tumulto que traz consigo.
Mais importante
que escutar as palavras
é adivinhar as angústias,
sondar o mistério,
escutar o silêncio…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Aceita
as surpresas que transtornam teus planos,
derrubam teus sonhos,
dão rumo totalmente diverso ao teu dia e,
quem sabe,
à tua vida.
Não há acaso.
Dá liberdade ao Pai,
para que Ele mesmo conduza a trama dos teus dias…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Gosto sempre mais de flores
Elas me falam
do efêmero da vida
e me põem face à face
com a eternidade.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Dimensões
Para as formiguinhas
lagartixa é jacaré.
E jacaré?
É assombração que nem existe.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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As pessoas te pesam
Não as carregues nos ombros.
Leva-as no coração.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Queria ser
Queria ser
humilde poça d’água
que refletisse o céu!
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Se eu pudesse
dava um globo terrestre
a cada criança…
Se possível até
um globo luminoso,
na esperança
de alargar ao máximo
a visão infantil
e de ir despertando
interesse e amor
por todos os Povos,
todas as Raças,
todas as Línguas,
todas as Religiões!…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Aos sinceros, Deus perdoa
Não grites incoerência
hipocrisia,
falsidade,
sem a coragem cristã
de olhar primeiro,
mas a fundo
bem a fundo,
teu próprio rosto.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Pelo amor de Deus, respondam
Onde estão as crianças
para contar-me seus brinquedos,
e os poetas
para contar-me seus sonhos,
e os loucos
para contar-me seus delírios,
e os enfermos
para contar-me seus sofrimentos,
e os felizes e infelizes,
os santos e pecadores
as crianças e os velhos,
os mortos e os vivos,
os crentes e os descrentes,
os homens e os anjos,
os animais e as plantas,
as criaturas todas
de todos os mundos?
Ai de mim
se subir sozinho
ao altar de Deus!…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Vive o mistério da Criação
fazendo de cada dia
um cântico das criaturas
e tendo a confiante audácia
de exercer
tua incrível missão de co-criador.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Um dos meus anseios
de chegar ao Infinito
é a esperança
de que, ao menos lá,
as paralelas se encontrem!…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Dom Helder Câmara de braços abertos para duas crianças, em foto de 1969, publicada pela revista Manchete

Criança, grande e querida criança
ajuda-me a despertar a criança
que dorme
no íntimo do íntimo
dos homens mais greves
e mais austeros…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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A Comunhão
que dura o dia inteiro,
me põe
em contato íntimo e profundo
com todas as criaturas humanas.
Rio-me das barreiras
de língua, de raça, de crença,
de ideologia…
A comunhão
me solidariza
com a Criação inteira.
Sou cidadão de Marte e de Saturno,
ligado
a todas as estrelas,
a todas as águas,
a todas as pedras,
a todas as plantas,
a todos os animais.
Aos espaços
e aos vazios,
à luz e à sombra
ao ruído e ao silêncio,
à virtude e ao pecado!
Nenhum limite!
Nenhuma restrição.
Vou aonde vais
no afã de vencer o múltiplo,
incorporando-o ao Um!
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Sintoniza com os anjos
Quando o trabalho
ensopar as roupas dos humildes
olha em torno e verás
como os anjos recolhem
as gotas de suor,
como se recolhessem brilhantes…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Empresta-me tua flauta mágica
Andam todos agressivos.
Dão a impressão de insones,
esgotados,
nervos tensos.
Não falam
– agridem.
Estão quase incapazes
de julgar bem;
de crer na palavra alheia,
de amar.
Seria bom demais, Senhor,
serená-los
desarmá-los
fazê-los dormir.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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Reparte teu pão
porque há irmãos famintos
que não podem esperar…
Reparte justiça
porque há irmãos oprimidos
cansados de tanto esperar…
Reparte amor
porque a Terra inteira
anda sedenta
de compreensão
e de amor-Amor…
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978
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É verdade que entendeste o arco-íris
como sinal de paz e de aliança com os homens?!…
Então, cria no céu um signo tão poderoso que abale a consciência dos Povos e os leve a ver a evidência da loucura da guerra e da aberração de um minúsculo Mundo rico circundado, invadido, pelas águas da miséria …
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Mil razões para viver: meditação do Padre José’. Civilização Brasileira, 1978

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Dom Helder Câmara, maio de 1967 | Foto: Gil Passarelli/Folhapress

Põe o ouvido no chão
e interpreta os rumores em volta.
Predominam
passos inquietos e agitados,
passos medrosos na sombra,
passos de amargura e de revolta…
Nem começaram ainda
os primeiros passos de esperança.
Cola mais teu ouvido à terra.
Prende a respiração.
Solta as antenas interiores
– o Mestre anda circulando.
É mais fácil que falte
nas horas felizes
do que nas duras horas
dos passos incertos e difíceis…
– Dom Helder Câmara, no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.
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O Juízo
Quando no dia da ira
os anjos reunirem os artistas
– tão fascinados de orgulho
pela participação direta no poder Criador –
vai ser difícil ao Filho
austeridade de Juiz
tão nítida é
– sobretudo nos poetas –
a sombra do Pai.
– Dom Helder Câmara, no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.
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Vocação
Da galheta cheia
uma só gota
foi chamada a participar
da Oferenda Divina.
Por que aquela e não outra?
Não vemos nada.
Não sabemos nada.
Comoveu-me a placidez da água restante
que logo a seguir
lavou
humilde e feliz
as minhas mãos de pecador.
– Dom Helder Câmara, no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.
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Até o fim
Não, não pares,
É graça divina
começar bem.
Graça maior,
persistir na caminhada certa
manter o ritmo…
mas a graça das graças
é não desistir.
Podendo ou não podendo,
caindo, embora,
aos pedaços,
chegar até o fim…
– Dom Helder Câmara, no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.
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Estás cercado de ti por todos os lados.
Para te livrares de ti mesmo, lança uma ponte
Por cima do abismo de solidão
Que o teu egoísmo criou.
Trata de ver, além de ti,
Busca ouvir alguém.
E, sobretudo, tenta o esforço de amar
Ao invés de simplesmente te amar…
– Dom Helder Câmara, no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.
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Partir… Caminhar
Partir é, antes de tudo, sair de si. Romper a crosta de egoísmo que tende a aprisionar-nos no próprio eu.

Partir é não rodar, permanentemente, em torno de si, numa atitude de quem, na prática, se constitui centro do Mundo e da vida.

Partir é não rodar apenas em volta dos problemas das instituições a que pertence. Por mais importantes que elas sejam, maior é a humanidade, a quem nos cabe servir.

Partir, mais do que devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro.

Abrir-se às ideias, inclusive contrárias às próprias, demonstra fôlego de bom caminheiro. Feliz de quem entende e vive este pensamento: “Se discordas de mim, tu me enriqueces”.

Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem concorda sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter um companheiro mas, sim, uma sombra de si mesmo. Desde que a discordância não seja sistemática e proposital, que seja fruto de visão diferente, a partir de ângulos novos, importa de fato em enriquecimento.

É possível caminhar sozinho. Mas o bom viajor sabe que a grande caminhada é a vida e esta supõe companheiros. “Companheiro”, etimologicamente, é quem come o mesmo pão.

Feliz de quem se sente em perene caminhada e de quem vê no próximo um eventual e desejável companheiro.

O bom caminheiro preocupa-se com os companheiros desencorajados, sem ânimo, sem esperança… Adivinha o instante em que se acham a um palmo do desespero. Apanha-os onde se encontram. Deixa que desabafem e, com inteligência, como habilidade e, sobretudo, com amor, leva-os a recobrar ânimo e voltar a ter gosto na caminhada.

Marchar por marchar não é ainda verdadeiramente caminhar.

Caminhar é ir em busca de metas, é prever um fim, uma chegada, um desembarque. Mas há caminhada e caminhada.

Para as Minorias Abraâmicas, partir, caminhar significa mover-se e ajudar muitos outros a moverem-se no sentido de tudo fazer por um mundo mais justo e mais humano.
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– Dom Helder Câmara, no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.

“Quando governos e privilegiados chegarão a entender que paz verdadeira só se conseguirá quando houver coragem de criar condições reais de justiça?”
– Dom Helder Câmara no livro “O Deserto é Fértil (roteiro para as Minorias Abraâmicas)”. Civilização Brasileira, 1978.
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O silêncio das árvores
ainda há
o agitar dos ramos,
movidos pelo vento…
No silêncio das águas
ainda há
o marulho das vagas
ou o cantar da correnteza
atravessando as pedras…
No silêncio dos céus,
ainda há
o palpitar das estrelas
carregado de mensagens.
Aprende que não basta falar
para atingires o silêncio…
Enquanto os cuidados te agitam
ainda não penetraste
na área do grande silêncio.
E aí, somente aí,
se escuta a voz de Deus.
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Um olhar sobre a cidade’. Paulus, 1977
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Mãe, não quero nada
vim apenas te ver.
Não leves a mal
que eu esqueça
os pedidos que me fizeram
para eu te fazer.
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Não é egoísmo, Senhora,
e a prova é que não farei também
nenhum pedido para mim,
nem desejo serenar-me,
contemplando teu rosto sereno.
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Em nome de todos os homens
que vivem te suplicando,
em nome de todos os irmãos
que já se aproximam de ti
de mãos estendidas,
deixa que esqueça um momento
o vale de lágrimas,
a terra das tristezas,
nossa miséria de mendigos,
nossa pobreza de criaturas,
nossa tristeza de pecadores,
para saudar-te,
Rainha dos Anjos,
Virgem-Mãe de Deus!
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Bendito seja o Criador
de tuas mãos sem mancha
por onde passa toda a luz
que tomba sobre a escuridão dos homens!
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Bendito seja o Criador
de teu olhar boníssimo
que tem o dom
de acender a esperança
nas almas desalentadas,
nos corações em desespero,
à beira do abismo,
do irremediável,
do fim!
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Bendito o Criador
de tua sombra suavíssima
pois já notei,
Mãe querida,
que basta a tua lembrança,
o teu perfume
para encher a solidão da vida
a solidão do homem.
Mãe, não quero nada.
Vim apenas te ver
– Dom Helder Câmara, no livro ‘Nossa Senhora no meu Caminho’. Paulus, 1981

“Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer o religioso.

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Circulares: Conciliares / Pós-Conciliares / Interconciliares / Ação Justiça e paz
Coleção Obras completas de Dom Helder Câmara

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Circulares I. Conciliares
Reúne cartas do arcebispo para amigos do Rio de Janeiro e Pernambuco, nas quais retrata suas experiências durante o Concílio Vaticano II, encontro de líderes religiosos ocorrido em Roma que mudou os rumos da Igreja Católica no século passado, e conta suas impressões ao chefiar a Arquidiocese de Olinda e Recife, narrando seu trabalho pastoral fortemente inserido na realidade socioeconômica da região.
:: Circulares I. Conciliares – Tomo I. Cepe editora, 2009
:: Circulares I. Conciliares – Tomo II. Cepe editora, 2009
:: Circulares I. Conciliares – Tomo III. Cepe editora, 2009
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Circulares II. Interconciliares
O segundo volume compreende as “Circulares Interconciliares”, escritas por Dom Helder nos intervalos entre as quatro sessões do Concílio Vaticano II. Nelas, o religioso fala mais sobre o Recife, as cidades da RMR e seu trabalho pastoral. As cartas narram os primeiros contatos do novo arcebispo com a realidade eclesiástica e sociopolítica de sua arquidiocese. Trazem consigo um mundo bem mais próximo e familiar.
:: Circulares II. Interconciliares – Tomo I. Cepe editora, 2009
:: Circulares II. Interconciliares – Tomo II. Cepe editora, 2009
:: Circulares II. Interconciliares – Tomo III. Cepe editora, 2009
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Circulares III. Pós Conciliares
Terceiro volume da coleção Obras completas de Dom Helder Câmara, constituído por mais de 100 cartas, escritas pelo arcebispo de Olinda e Recife após a realização do Concílio Vaticano II, entre 1965 e 1967. Este volume reúne escritos inéditos, divididos em três tomos, que correspondem à aplicação da missão evangelizadora recebida por Dom Helder no Brasil e na América Latina.
:: Circulares III. Pós Conciliares – Tomo I. Cepe editora, 2012
:: Circulares III. Pós Conciliares – Tomo II. Cepe editora, 2012
:: Circulares III. Pós Conciliares – Tomo III. Cepe editora, 2012
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Circulares IV – Pós Conciliares
O quarto volume da obra, Circulares Pós-Conciliares reúne, em quatro tomos, 366 cartas escritas pelo ex-arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, entre 5 de agosto de 1967 e 25 de janeiro de 1970, dirigidas a amigos e auxiliares em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Nelas, o Dom fala do seu papel em relação ao Concílio Ecumênico Vaticano II, realizado em 1965, quando a Igreja Católica adotou a opção pelos pobres e a luta por justiça social.
:: Circulares IV. Pós Conciliares – Tomo I. Cepe editora, 2015
:: Circulares IV. Circulares Pós Conciliares – Tomo II. Cepe editora, 2015
:: Circulares IV. Pós Conciliares – Tomo III. Cepe editora, 2015
:: Circulares IV. Pós Conciliares – Tomo IV. Cepe editora, 2015

Circulares V. Ação Justiça e paz
Entre os anos de 1962 e 1982, Dom Helder Câmara escreveu mais de duas mil cartas circulares, cerca de 650 discursos e sermões, pronunciados em cátedras e púlpitos no Brasil e no Exterior, e 7500 poemas-meditação sobre as lições do cotidiano. Esse material, sob a guarda do Instituto Dom Helder Câmara, vem sendo publicado pela Cepe Editora, formando a Coleção Obras Completas de Dom Helder Câmara. O volume V da coleção, organizado por Marcelo Barros e Daniel Sigal, reúne as cartas escritas para amigos, assessores e familiares, entre as vigílias de 31 de Janeiro/1 de Fevereiro de 1970 a 18/19 de julho de 1971, em que, em plena ditadura, o Dom desvela sua alma, na defesa dos direitos humanos e no testemunho do Evangelho cristão. Este primeiro tomo inclui 80 dessas cartas circulares, a maioria sobre a preparação dos seus discursos.
:: Circulares V. Ação Justiça e paz – Tomo I [organização Marcelo Barros e Daniel Sigal]. Cepe Editora, 2022
:: Circulares V. Ação Justiça e paz – Tomo II [organização Marcelo Barros e Daniel Sigal]. Cepe Editora, 2022
:: Circulares V. Ação Justiça e paz – Tomo III [organização Marcelo Barros e Daniel Sigal]. Cepe Editora, 2022

Outros livros e biografias sobre Dom Helder Câmara
:: Dom Helder Câmara: O profeta da paz. Nelson Piletti e Walter Praxedes. Editora Contexto, 2008
:: Dom Helder Câmara: Profeta Para os Nossos Dias. Marcelo Barros, Paulus Editora, 2011
:: Dom Helder Câmara. Edvaldo M. Junior. Editora Ideias e Letras, 2010.
:: O caminho espiritual de Dom Helder Câmara. Ivanir Antonio Rampon. Editora Paulinas, 2013
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Para Crianças
:: Helder Câmara, um Nordestino Cidadão do Mundo. Ilvana Maria Pereira Bulla e Martinho Condini / Ilustrações Fabiana Salomão. [infanto-juvenil]. Paulus Editora, 2011


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