Diego Guerro, por Jacaranda Fotografia
Diego Guerro ressignifica clássicos do cancioneiro infantil com acordeon e arranjos orquestrais. O trabalho que entrelaça música erudita e ritmos brasileiros tem participação da Saint Petersburg Recording Orchestra
.
Em Afon, novo álbum do acordeonista premiado, compositor, produtor e arranjador paranaense Diego Guerro, o cancioneiro infantil brasileiro é transportado para um universo sonoro em que a inocência das melodias que embalaram gerações encontram novos caminhos harmônicos. No trabalho, música erudita e ritmos brasileiros se entrelaçam, criando um espaço de encantamento para crianças e adultos. O álbum apresenta releituras instrumentais de clássicos infantis imersos em arranjos orquestrais. Para dar vida a essa fusão entre o tradicional e o contemporâneo, o disco conta com a participação da renomada Saint Petersburg Recording Orchestra, da Rússia. Ouça aqui.
Uma viagem afetiva, Afon é fruto da vivência da paternidade e nasce do olhar de Diego Guerro sobre a música infantil. “Ao ser pai de dois filhos, percebi que existe evidente preocupação com a educação, a alimentação e os brinquedos das crianças, mas com a música, elemento fundamental na formação infantil, não. A qualidade musical de muitas coisas que são oferecidas para as crianças fica em segundo plano”, comenta. Assim, surgiu o desejo de oferecer uma experiência sonora que respeitasse a inteligência e a imaginação da infância, mas que também despertasse o interesse dos adultos.
.
O disco é resultado da parceria com o produtor Maycon Ananias, que também colabora tocando cravo. Além da Saint Petersburg Recording Orchestra, o trabalho conta com participações da cantora Vanessa Moreno e do pianista Davi Sartori.
O álbum começa apresentando Brilha, Brilha, Estrelinha sob uma nova perspectiva que inicia a jornada musical de Afon.
.
Em seguida, Alecrim Dourado – que é derivada da canção portuguesa “Alecrim aos Molhos” – ganha uma releitura em que acordeon e orquestra dançam juntos.
.
Em Peixe Vivo, canção que ficou conhecida por ser uma das músicas favoritas do ex-presidente Juscelino Kubitschek, o clarinete dá início ao tema imitando um peixe nadando contra a correnteza. Acordeon e orquestra fazem uma versão dançante inspirada no vaneirão, ritmo popular nos bailes do sul do Brasil.
Afon, a faixa-título, foi composta por Diego Guerro em homenagem ao filho Miguel, que chamava o acordeon de “afon” ao imitar o “fon fon fon” da sanfona. A música carrega um ritmo ternário típico do chamamé, que transita pelo sul do Brasil e Argentina, em especial a região de Corrientes.
.
Já Peixinhos do Mar tem um groove marcado pelo contrabaixo acústico e traz influências do afoxé. O acordeon flutua junto com a orquestra, resultando em uma melodia repleta de brasilidade. Esta cantiga tradicional tem origem incerta, com debates sobre sua procedência vir do Brasil ou dos Açores (Portugal). A música é frequentemente associada às marujadas, manifestações culturais que celebram o retorno de marinheiros e incorporam elementos da literatura portuguesa, cantigas de guerra e influências africanas.
Dando continuidade aos temas das águas, Marinheiro Só carrega influências do Norte e do Nordeste do Brasil, ao mesmo tempo em que dialoga com a vaneira. Popular nas rodas de capoeira, a canção ganhou destaque na voz de Clementina de Jesus, que a interpretou no espetáculo “Rosa de Ouro”, de 1965.
.
Em Balaio, temos a participação de Vanessa Moreno, que utiliza sua voz como instrumento, solfejando e improvisando sobre a melodia. Uma dança folclórica presente no sul do país, e com possíveis origens açorianas, o balaio tem uma rítmica que remete a chamarra, cuja célula se parece com o maxixe.
.
Se Essa Rua Fosse Minha, canção mais melancólica do álbum, é carregada de nostalgia e destaca o piano expressivo de Davi Sartori com arranjos cinematográficos que amplificam sua carga emocional.
Inspirada na tradicional dança de roda do sul do Brasil – também trazida pelos açorianos –, Caranguejo abre com uma introdução animada e evoca os jogos de roda. A faixa explora a ideia de adultos compondo para crianças, assim como Mozart compôs para os adultos quando ainda era criança.
.
Ciranda, Cirandinha é como um encontro imaginário entre Leonard Bernstein e Hermeto Pascoal, e o resultado é um arranjo cheio de brasilidade. A música carrega um toque circense e uma instrumentação que destaca o acordeon e a atmosfera de uma ciranda do interior pernambucano. A faixa tem participação especial de Miguel, filho de Diego, declamando um poema de Cecília Meireles.
Cai, Cai, Balão vai aproximando o disco do fim com uma melodia festiva e experimentações harmônicas em que o flautim interage com o acordeon, criando camadas sonoras. A música se transforma em uma tela sonora colorida que sintetiza a essência do álbum.
.
O álbum termina com a releitura de O Cravo Brigou com a Rosa, cuja introdução é marcada por pizzicatos nas cordas. O cravo, instrumento que foi muito utilizado por Bach, aparece como um trocadilho, se misturando ao acordeon.
Disco ‘Afon’ • Diego Guerro • Selo Independente / ONErpm • 2025
Canções / compositores
1. Brilha brilha estrelinha (Cancioneiro tradicional/DP)
2. Alecrim dourado (Cancioneiro tradicional/DP)
3. Peixe vivo (Cancioneiro tradicional/DP)
4. Afon (Diego Guerro)
5. Peixinhos do mar / Marinheiro só (Cancioneiro tradicional/DP)
6. Balaio (cancioneiro tradicional/DP) | Participação especial Vanessa Moreno
7. Se essa rua fosse minha (Cancioneiro tradicional/DP) | Participação especial Davi Sartori
8. Caranguejo (Cancioneiro tradicional/DP)
9. Ciranda, cirandinha (Cancioneiro tradicional/DP)
— ? (Cecília Meireles) — | Participação especial Miguel Guerro
10. Cai, cai, balão (Assis Valente)
11. O cravo brigou com a rosa (Alberto Lazzoli) | Participação especial Maycon Ananias
– ficha técnica –
Acordeon: Diego Guerro | Participações especiais: Vanessa Moreno (voz em ‘Balaio’); Davi Sartori (piano em ‘Se essa rua fosse minha’); Maycon Ananias (cravo em ‘O cravo brigou com a rosa’) | Saint Petersburg Recording Orchestra – Violinos: Mikhail Krutik, Olga Abakumova, Anton Starodubtsev, Nadezhda Kharitonova, Alexander Baranov, Yevgenia Tchernysheva, Irina Anastasina, Yelena Matyushina, Mikhail Zagorodnyuk, Lenar Aikaev, Liliya Sitdykova, Zakhar Krutik; Violas: Ilya Yelagin, Polina Kozyritskaya, Alexey Ageev, Igor Bereznev, Anna Kolobova, Milana Andreeva; Cellos: Yelena Gurkina, Kirill Kurshakov, Yulia Rozovskaya, Igor Kuznetsov; Baixos: Dmitry Golovchenko e Enver Makhauri; Flautas: Mariya Avvakumova; Oboé: German Büller; Trompa: Dmitry Sorokin; Trombone: Dmitry Krylov || Direção musical: Diego Guerro | Arranjos: Maycon Ananias | Mixagem: Pedro Mello | Masterização: Carlos Freitas | Ilustração da capa: Lalan Bessoni | Design: Patrick Souza | Fotos: Jacaranda Fotografia / Mariana Fossatti e Gastón Gimenez | Produção executiva: Natalia Gnoatto | Assessoria de imprensa: Marina Mole / Café 8 Music – Comunicação Portugal-Brasil | Selo: Independente | Distribuição digital: ONErpm | Formato: CD Digital | Ano: 2025 | Lançamento: 25 de abril | ♪Ouça o álbum: clique aqui.
.
>> Siga: @diegoguerro
SOBRE DIEGO GUERRO
Diego Guerro é acordeonista, compositor, produtor e arranjador, com dedicação à música instrumental. Nascido em Pato Branco (PR) em 1985, seu interesse pelo acordeon surgiu na infância. Aos 15 anos o acordeon já tinha virado profissão: dava aulas e tocava à noite. Aos 16, assumiu a regência da Orquestra Sanfônica de Pato Branco, pioneira no Brasil ao apresentar a divisão de naipes para uma orquestra de acordeons. Neste posto, ganhou grande reconhecimento nacional e internacionalmente, sendo convidado para participar de festivais como o Recanati Art Festival, na Itália e o Festival Nacional de la Música del Litoral, na Argentina. Ao longo de sua trajetória já gravou com inúmeros artistas, fez turnês dentro e fora do Brasil, produziu discos e ganhou prêmios. Entre suas referências estão artistas como Hermeto Pascoal, Dominguinhos, Leonard Bernstein e Radamés Gnatalli. Suas maiores influências musicais são os ritmos do Cone Sul, e outros gêneros brasileiros, como o forró e o choro. Atualmente, está revisitando o cancioneiro infantil brasileiro com releituras que mesclam acordeon com arranjos orquestrados.
.
.
Série: Discografia da Música Brasileira / Cancioneiro infantil / Música instrumental / Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske
O cantor e compositor Thiago Miranda lança o álbum NorDestino, inspirado pela conexão com o…
Infância, ancestralidade e cultura Bantu se encontram em Dingo-Dingo, no Sesc Interlagos. Montagem une teatro,…
A cantora e compositora Alaíde Costa lança “Uma Estrela Para Dalva”, álbum com tributo à Dalva…
Assistida por mais de 70 mil pessoas, Bárbara, estrelado por Marisa Orth, retorna ao Teatro…
Em "Porcos Não Olham Pro Céu", quinteto Undo sugere resistência em tempos sombrios. Terceiro single…
Dani Mattos e o grupo vocal Poucas & Boas relembram canções folclóricas brasileiras em espetáculo…