“Não tentarei descer aos abismos da psicanálise para explicar o comportamento humano, que é tão inexplicável quanto a própria vida. (…) no humorismo vemos o irracional nas coisas que parecem racionais e o que não é importante nas coisas que parecem importantes. Isso também acentuo o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa sanidade. Porque o humorismo nos alivia das vicissitudes da vida, ativando o nosso senso de proporção e nos revelando que a seriedade exagerada tende ao absurdo.”
– Charles Chaplin, no livro “Minha Vida”/’My autobiography Charles Chaplin’. [tradução Rachel de Queiroz, R. Magalhães Juniore Genolino Amado]. 6ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

Charles Spencer Chaplin (1889 – 1977), mais conhecido pelo nome artístico de Charlie Chaplin, continua em pleno século XXI a ser recordado como o mítico rei da comédia e o imortal mestre do burlesco. Nascido em Londres, em 1889, contou com uma vida longa e dedicada ao cinema, onde participou no mais variado tipo de filmes. Presente nos dias do cinema mudo, onde se demarcou pela belíssima execução da mímica, o artista britânico acompanhou a fase de transição para o cinema a som e não se deixou ficar para trás.
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Entretanto, mesmo que melhor o conheçamos do ecrã, onde interpretou personagens icônicas que nos fizeram rir e chorar, Charlie Chaplin foi também realizador, produtor, escritor, empresário, dançarino e até mesmo músico. Uma carreira em tanto!

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Charlie Chaplin in ‘Modern Times’ (1936)
Humor e melancolia
Bigode preto e chapéu-coco, bengala, andar gingado em sapatos enormes: até hoje a marca registrada de Charlie Chaplin é extremamente popular. Desde seu primeiro grande sucesso, “O garoto” (“The kid”) de 1921, o personagem Carlitos, o vagabundo, encarnou sempre os dois extremos: tanto a graça e o humor quanto desespero e melancolia.
Da pobreza ao estrelato mundial
Do nascimento em 1889 (possivelmente nos arredores de Londres) à morte em 1977, na Suíça, transcorreu uma vida de sucessos cinematográficos – mas também de alguns escândalos de sociedade. Vindo da mais profunda miséria, Charles Spencer Chaplin fez milhões em Hollywood. Seu “A corrida do ouro” (“The gold rush”), de 1925, tematiza essa polaridade, da triste realidade ao sonho de riqueza e ouro.
Entre silêncio e som
A maioria das obras de Chaplin data da era do cinema mudo. “Luzes da cidade” (“City lights”) foi produzido em 1931, já na transição para o cinema sonoro. Mas o diretor não era um entusiasta do “filme falado”, usando a pista de som de forma comedida e quase experimental. Seus filmes lhe dão razão: mímica facial e pantomima, gestos e expressão – tudo funciona muito bem em Chaplin, até hoje.
Crítica social
Somente em suas primeiras películas Chaplin interpretou personagens antipáticos. Logo, ele assumiria o papel que marca os seus filmes: o do pária, o oprimido que se defende das vicissitudes da vida. Em obras tardias como “Tempos modernos” (“Modern times”), de 1936, ele alcança formas de critica social profunda, ao mostrar os seres humanos como peças de engrenagem da industrialização.
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Charles Chaplin in ‘The Great Dictator’ (1940)
Denúncia contra Hitler
Em 1940 Charlie Chaplin criou uma obra-prima atemporal, com “O grande ditador” (“The great dictator”), realizando com êxito a façanha, quase impossível, de abordar Adolf Hitler e os nazistas de forma satírica. Mais tarde, Chaplin confessaria que nunca teria rodado o filme se soubesse dos horrores dos campos de concentração. Mesmo assim, “O grande ditador” é digno de ser assistido, ainda hoje.
Reflexão sobre o papel do artista
Em sua obra tardia “Luzes da ribalta” (“Limelight”), Chaplin se reporta a experiências pessoais, ao tematizar os altos e baixos dos artistas de palco. A estreia do filme foi em 1952, coincidindo com o banimento do cineasta nos EUA, acusado de simpatizar com o comunismo. Na época ele se encontrava na Inglaterra, ficando proibido de voltar à América.
Fracasso de bilheteria
Após uma pausa de dez anos, Charlie Chaplin rodou ainda mais um filme em 1967, “A condessa de Hong Kong” (“A countess from Hong Kong”). Apesar do elenco encabeçado pelas estrelas Sophia Loren e Marlon Brando, a produção não foi bem sucedida comercialmente. O cineasta britânico passou suas últimas décadas de vida na Suíça, retornando aos EUA apenas uma vez, brevemente.
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Charlie Chaplin in City Lights (1931)
Seu legado
Até hoje, possivelmente nenhuma figura da história do cinema é tão presente como Charlie Chaplin. Com seus atributos inconfundíveis, o personagem do vagabundo Carlitos é encontrado a toda hora e em todo lugar: em spots de publicidade, shoppings, cartazes, fotografias, na internet. Charlie Chaplin sobreviveu ao tempo, embora seu apogeu como diretor já esteja muitas décadas distante.
Mito de um século
Mesmo para quem não cresceu com Chaplin e seus filmes, o “Vagabundo” é um velho conhecido. “Ele não foi um astro de Hollywood”, afirma a americana Lisa Stein Haven, especialista em Chaplin, “pois Hollywood ainda nem existia, enquanto ele já era uma estrela”. E ainda hoje se pode dizer que Charlie Chaplin é muito mais que um ator ou diretor: ele é um mito.

“Não sigo nenhum roteiro de existência, nenhuma filosofia… Sábios ou tolos, temos todos que trabalhar com a vida. Oscilo em meio de contradições; exasperam-me às vezes fatos mínimos e catástrofes poderão deixar-me indiferente.”
– Charles Chaplin, no livro “Minha Vida”/’My autobiography Charles Chaplin’. [tradução Rachel de Queiroz, R. Magalhães Juniore Genolino Amado]. 6ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

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Charlie Chaplin – os filmes

Filmografia completa (1914-1967)

Em 1965, Chaplin detalhou sua filmografia oficial em seu livro, My Autobiography. Sua filmografia consiste em 80 filmes lançados desde 1914, mas no livro de David Robinson de 1985, Chaplin: His Life and Art, está incluído o seu último filme, A Countess from Hong Kong de 1967, como o 81º.
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A maioria dos filmes de Chaplin, até precisamente The Circus, são filmes mudos, mesmo que anos depois foram remasterizados e compostos por trilha sonora feita pelo próprio. City Lights e Modern Times são praticamente classificados como filmes mudos, mas City Lights foi oficialmente o último. Em Modern Times, há cenas de diálogos, aliás que Chaplin “fez seu personagem falar” em inúmeros ensaios, mas deixou passar. Seus últimos cinco filmes são completamente falados. Tirando A Countess from Hong Kong, todos os seus filmes são em preto e branco.

“Enquanto a minha habilidade em construir histórias se desenvolvia, a minha liberdade ia se limitando cada vez mais no campo da comédia. (…) Mas mesmo nas antigas comédias eu procurava a nota sentimental.”
– Charles Chaplin, no livro “Minha Vida”/’My autobiography Charles Chaplin’. [tradução Rachel de Queiroz, R. Magalhães Juniore Genolino Amado]. 6ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

Abaixo a relação de filmes – alguns tem links para você assistir:

:: Canal Youtube Charlie Chaplin Films
:: Canal Youtube Charlie Chaplin Movies

Filmes produzidos nos Estúdios Keystone

:: Making a Living | ‘Carlitos Repórter’ (1914)
:: Kid Auto Races at Venice | ‘Corrida de Automóveis para Meninos’ (1914)
:: Mabel’s Strange Predicament | ‘Carlitos no Hotel’ (1914)
:: Between Showers | ‘Dia Chuvoso ou Carlitos e os Guarda-chuvas’ (1914)
:: A Film Johnnie | ‘Joãozinho na Película’ (1914)
:: Tango Tangles | ‘Carlitos Dançarino’ (1914)
:: His Favourite Pastime | ‘Carlitos entre o Bar e o Amor’ (1914)
:: Cruel, Cruel Love | ‘Carlitos Marquês’ (1914)
:: The Star Boarder | ‘Carlitos e a Patroa’ (1914)
:: Mabel at the Wheel | ‘Carlitos Banca o Tirano’ (1914)
:: Twenty Minutes of Love | ‘Carlitos contra o Relógio’ (1914)
:: Caught in a Cabaret | ‘Bobote em Apuros’ (1914)
:: Caught in the Rain | ‘Carlitos e a Sonâmbula’ (1914)
:: A Busy Day | ‘Carlitos Ciumento’ (1914)
:: The Fatal Mallet | ‘O Malho de Carlitos ou A Maleta Fatal’ (1914)
:: Her Friend the Bandit | ‘Carlitos, Ladrão Elegante’ (1914)
:: The Knockout | ‘Dois Heróis’ (1914)
:: Mabel’s Busy Day | ‘Carlitos e as Salsichas’ (1914)
:: Mabel’s Married Life | ‘Carlitos e Mabel se Casam’ (1914)
:: Laughing Gas | ‘Carlitos Dentista’ (1914)
:: The Property Man | ‘Carlitos na Contra-Regra’ (1914)
:: The Face on the Bar Room Floor | ‘Sobrado Mal-Assombrado / Pintor Apaixonado’ (1914)
:: Recreation | ‘Divertimento’ (1914)
:: The Masquerader | ‘Carlitos Coquete’ (1914)
:: His New Profession | ‘Nova Colocação de Carlitos’ (1914)
:: The Rounders | ‘Carlitos na Farra’ (1914)
:: The New Janitor | ‘Carlitos Porteiro’ (1914)
:: Those Love Pangs | ‘Carlitos Rival no Amor’ (1914)
:: Dough and Dynamite | ‘Dinamite e Pastel / Carlitos na Rosca’ (1914)
:: Gentlemen of Nerve | ‘Carlitos e Mabel Assistem às Corridas’ (1914)
:: His Musical Career | ‘Carregadores de Piano ou Músicos Vagabundos’ (1914)
:: His Trysting Place | ‘O Engano’ (1914)
:: Tillie’s Punctured Romance‘O Casamento de Carlitos’ (1914)
:: Getting Acquainted | ‘Carlitos e Mabel em Passeio’ (1914)
:: His Prehistoric Past | ‘O Passado Pré-Histórico’ (1914)

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Charlie Chaplin in ‘The Tramp’ (1915)
Filmes produzidos nos Estúdios Essanay

:: His New Job | ‘Seu Novo Emprego’ (1915)
:: A Night Out | ‘Carlitos se Diverte’ (1915)
:: The Champion | ‘Campeão no Boxe’ (1915)
:: In the Park | ‘Carlitos no Parque’ (1915)
:: A Jitney Elopement | ‘Carlitos Quer Casar’ (1915)
:: The Tramp | ‘O Vagabundo’ (1915)
:: By the Sea | ‘Carlitos na Praia’ (1915)
:: Work | ‘Carlitos na Atividade’ (1915)
:: A Woman | ‘Senhorita Carlitos’ (1915)
:: The Bank | ‘O Banco’ (1915)
:: Shanghaied | ‘Carlitos Marinheiro’ (1915)
:: A Night in the Show | ‘Carlitos no Teatro’ (1915)
:: Burlesque on Carmen | ‘Carmen às Avessas’ (1915)
:: Police | ‘Carlitos policial’ (1916)
:: Triple Trouble | ‘Tripla Encrenca’ (1918)

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Charlie Chaplin serenades Edna Purviance in ‘The Vagabond’ (1916)
Filmes produzidos nos Estúdios Mutual

:: The Floorwalker | ‘Carlitos no Armazém’ (1916)
:: The Fireman | ‘O Bombeiro’ (1916)
:: The Vagabond | ‘O Vagabundo’ (1916)
:: One A.M. | ‘Carlitos Boêmio’ (1916)
:: The Count | ‘O Conde’ (1916)
:: The Pawnshop | ‘Casa de Penhores’ (1916)
:: Behind the Screen | ‘Carlitos no Estúdio’ (1916)
:: The Rink | ‘Carlitos Patinador’ (1916)
:: Easy Street | ‘Carlitos Guarda-noturno’ (1917)
:: The Cure | ‘Carlitos nas Termas’ (1917)
:: The Immigrant | ‘O Imigrante’ (1917)
:: The Adventurer | ‘Carlitos Presidiário’ (1917)

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Charlie Chaplin in ‘ A Dog’s Life’ (1918)
Filmes produzidos nos Estúdios First National

:: A Dog’s Life | ‘Vida de Cachorro’ (1918)
:: The Bond (1918)
:: Shoulder Arms | ‘Carlitos nas Trincheiras’ (1918)
:: Sunnyside ‘Idílio Campestre’ (1919)
:: A Day’s Pleasure | ‘Um Dia de Prazer’ (1919)
:: The Kid | ‘O garoto’ (1921)  . Trilha original (aqui)
:: The Idle Class | ‘Os Clássicos Vadios’ (1921)
:: Pay Day | ‘Dia de Pagamento’ (1922)
:: The Pilgrim | ‘Pastor de Almas’ (1923)

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Charlie Chaplin – cena do filme ‘Em Busca do Ouro | The Gold Rush’ (1925)
Filmes produzidos nos Estúdios United Artists

:: A Woman of Paris | ‘Casamento ou Luxo?’ (1923)
:: The Gold Rush | ‘Em Busca do Ouro’ (1925)
:: The Circus | ‘O Circo’ (1928)
:: City Lights | ‘Luzes da Cidade’ (1931)
:: Modern Times | ‘Tempos Modernos’ (1936)
:: The Great Dictator | ‘O Grande Ditador’ (1940). Trilha sonora completa remasterizada
:: Monsieur Verdoux | ‘Barba Azul’ (1947)
:: Limelight | ‘Luzes da Ribalta’ (1952)

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Charles Chaplin in ‘Tempos Modernos / Modern Times’ (1936)
Filmes produzidos nos Estúdios British Productions

:: A King in New York | ‘Um Rei em Nova York’ (1957)
:: A Countess from Hong Kong | ‘A Condessa de Hong Kong’ (1967)  

Fontes: DW Brasil | Wikipédia | e Depositários dos filmes no Youtube

revistaprosaversoearte.com - Charlie Chaplin e os seus filmes - entre silêncio e som
Charlie Chaplin e Jackie Coogan, em cena no filme ‘O Garoto’ (1921)

Mais sobre Charles Chaplin neste site:
:: Charlie Chaplin

Charlie Chaplin – outras fontes de pesquisa:
:: Charlie Chaplin (site)
:: Internet Archive – Charlie Chaplin
:: Canal Youtube Charlie Chaplin Films
:: Charlie Chaplin Movies

“O tempo é o melhor autor. Sempre encontra um final perfeito.”
– Charlie Chaplin, no filme “Luzes da Ribalta” (1952)







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