‘Asa Branca’ imortalizada na voz de Luiz Gonzaga. A música ficou em 4º lugar entre as 100 mais importantes da história do Brasil. Duas versões da música foram gravadas na parceria com Humberto Teixeira.
– por Mário Flávio
No dia 3 de março de 1947 Luiz Gonzaga gravava pela primeira vez nos estúdios da RCA, no Rio de Janeiro, a canção que ficaria imortalizada como hino dos nordestinos. Uma composição dele com o médico Humberto Teixeira, que passou dois anos para ser concretizada. A gravação foi acompanhada pelo grupo de Regional do Canhoto.
Ao fim do trabalho, Canhoto, líder do grupo, olha para Gonzaga e diz que a “letra era música para cego pedir esmolas”. Sai dos estúdios e zomba com um chapéu pedindo esmolas ao som da canção. Mal sabia Canhoto que Asa Branca iria ser um nos maiores sucessos da música brasileira.
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Foram duas versões da música que virou referência e marca de um povo. A primeira foi gravada pelo próprio Gonzaga em forma de toada e logo fez sucesso, levando o artista pela primeira vez ao cinema, tocando a música no filme ‘O Mundo é um Pandeiro’.
Nesta época, Gonzaga já havia iniciado a transposição dos gêneros musicais nordestinos para a mescla com o choro carioca. Asa Branca foi essencial para preparar o terreno para o Baião, que seria gravado ano seguinte e viraria uma febre nacional.
O sanfoneiro logo percebe que uma repaginação poderia ser a saída para reinventar a toada. Talvez Luiz Gonzaga não imaginasse o tamanho da proporção que Asa Branca ganharia ao gravar um Baião com a mesma letra. Essa nova versão foi lançada três anos mais tarde, em 1950, num compacto que trazia ‘Paraíba’ do outro lado, o que aumentou ainda mais o sucesso, já que as duas canções ecoaram nas rádios e vitrolas do Brasil.
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O professor e historiador Armando Andrade diz que a identidade do cantor se confunde com a letra de Asa Branca. Para ele a canção é marca registrada de Gonzaga. É nela que se misturam o homem, a música e seu povo. “A partir de Asa Branca o Brasil viu o drama através da voz do próprio nordestino. É dessas coisas que a poesia e a literatura conseguem fazer, transportar através da linguagem as pessoas a vivenciar a dor do outro” diz.
Outra característica marcante de Asa Branca é a saudade do amor perdido com o exílio forçado devido a seca. Se os clássicos traziam as guerras como o motivo da partida do homem e a promessa de volta para o grande amor, em Asa Branca, é a seca que expulsa o homem e a ave, numa metáfora que se estende à condição humana.
“Talvez aí resida a universalidade e aceitação pelo grande público, além de retratar a real condição das famílias nordestinas. A promessa da volta do homem para seu grande amor está presente desde a literatura grega, como a Odisséia. É um tema universal com que todos se identificam”, diz Armando Andrade.
A força de Asa Branca pôde ser vista em 2009, quando a Revista Rolling Stone Brasil, publicou uma lista com as 100 maiores músicas da história do país. Um honroso 4º lugar, ficando atrás de clássicos como Carinhoso, Águas de Março e Construção.
O tempo passou e Asa Branca segue inspirando artistas de outras gerações. Anderson do Pife, que mora em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, diz que enquanto estudante de música, acredita que a letra é parte de um método brasileiro de ensino de música popular. “Essa melodia composta por conjuntos e de fácil execução, traduz o início de uma trajetória musical para quase todos os que iniciam seus estudos com ou sem ajuda de profissionais da área”, diz.
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Ele disse ainda que a música retrata poesia, cotidiano, paisagem e todo o referencial histórico do Nordeste. “Eis o hino do Nordeste e a primeira música que aprendi a tocar. Essa é a força que representa a Asa Branca em minha vida”, finaliza.
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Texto/fonte: G1