terça-feira, outubro 8, 2024

Alfred, Lord Tennyson – poemas

Profecia
Porque imergi no futuro,
até onde o olho humano pode ver,
Vislumbrei a Visão do mundo,
e todo o encanto que podia ser;
Vi os céus cheios
de naus, corsários, velas de magia,
Pilotos do crepúsculo
rubro tombando em cargas de valia;
Ouvi os céus cheios de gritos,
e lá choveu um lívido orvalhar
Das vistosas esquadras
das nações no azul central a atacar;
Bem longe, o murmurar no mundo inteiro
do vento sul nesse ímpeto que esquenta,
Com os emblemas dos povos
mergulhando nos raios da tormenta;
Até que o tambor de guerra
não soasse e bandeiras ao reverso
No Parlamento do homem,
Federação de todo este universo.
Lá o senso comum da maioria
suporta um febril reino em sobressalto,
E a benévola terra
dormirá envolta em norma universal.
.

Prophecy
For I dipt into the future, far as human eye could see,
Saw the Vision of the world, and all the wonder that would be;
Saw the heaven fill with commerce, argosies of magic sails,
Pilots of the purple twilight, dropping down with costly bales;
Heard the heavens fill with shouting, and there rain`d a ghastly dew
From the nation’s airy navies grappling in the central blue;
Far along the world-wide whisper of the south-wind rushing warm,
With the standards of the people plunging thro’ the thunder storm;
Till the war-drum throbb’d no longer, and the battle flags were furl’d
In the Parliament of men, the Federation of the world.
There the common sense of most shall hold a fretful realm in awe,
And the kindly earth shall slumber, lapt in universal law.
– Alfred, Lord Tennyson, em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século 19”. [seleção, tradução e organização de José Lino Grünewald]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.

§

Lágrimas, inúteis lágrimas
Lágrimas, inúteis lágrimas
Não sei o que significam,
Lágrimas vindas do fundo
De alguma aflição sublime
Emergem no coração,
E chegam até os olhos,
Vendo os alegres campos outonais
E pensando nos dias que não mais existem.
Novas qual primeiro raio
Cintilando numa vela,
Que traz aqui para cima
Os amigos do submundo,
Triste como as derradeiras
Que fazem corar alguém
Que afunda com tudo o que amamos sob a borda;
Tão tristes novos dias que não mais existem.
Tristes e estranhas como em
Sombria alba de verão
Primeiro pio de aves semilúcidas
Para ouvidos moribundos,
Quando pra olhos decadentes
Lentamente a janela desenvolve
Um quadrado de luz tênue;
Tristes, estranhos dias que não mais existem.
Diletas tal qual beijos
Na memória após a morte,
E suaves como aqueles
Que em afeto sem fé fingem
Nos lábios que são para outros;
Profundas como é o amor,
Como é o primeiro amor,
E insano com toda a pena;
Ó Morte em Vida, os dias que não mais existem!
.

Tears, idle tears
Tears, idle tears, I know not what they mean,
Tears from the depth of some divine despair
Rise in the heart, and gather to the eyes,
In looking on the happy autumn-fields,
And thinking of the days that are no more.
Fresh as the first beam glittering on a sail,
That brings our friends up from the under-world,
Sad as the last which reddens over one
That sinks with all we love below the verge;
So sad, so fresh, the days that are no more.
Ah, sad and strange as in dark summer dawns
The earliest pipe of half-awakened birds
To dying ears, when unto dying eyes
The casement slowly grows a glimmering square;
So sad, so strange, the days that are no more.
Dear as remembered kisses after death,
And sweet as those by hopeless fancy feigned
On lips that are for others; deep as love,
Deep as first love, and wild with all regret;
O Death in Life, the days that are no more!
– Alfred, Lord Tennyson, em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século 19”. [seleção, tradução e organização de José Lino Grünewald]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.

§

Ora dorme, carmim, a pétala, ora a pálida
Ora dorme, carmim, a pétala, ora a pálida;
Nem tremula o cipreste em paço do palácio;
Nem brilham as estrias na pia de pórfiro.
Desperta o pirilampo; acordas tu em mim.
Ora inclina-se o alvo pavão como espectro,
E bruxuleia como espectro sobre mim.
Ora a Terra, tal Dânae, estende-se às estrelas,
E abres teu coração inteiro para mim.
Ora desloca-se o silente meteoro,
Deixa um rastro de luz – teu pensamento em mim.
Ora projeta o lírio todo seu encanto,
Vai deslizando até o regaço da lagoa:
Projete-se assim minha querida e deslize
Até este meu regaço e ora se perca em mim.
.

Now sleeps the crimson petal, now the white
Now sleeps the crimson petal, now the white;
Nor waves the cypress in the palace walk;
Nor winks the gold fin in the porphyry font.
The fire-fly wakens; waken thou with me.
Now droops the milk-white peacock like a ghost
And like a ghost she glimmers on to me.
Now lies the Earth all Danaë to the stars,
And all thy heart lies open unto me.
Now slides the silent meteor on, and leaves
A shining furrow, as thy thoughts in me.
Now folds the lily all her sweetness up,
And slips into the bosom of the lake:
So fold thyself, my dearest, thou, and slip
Into my bosom and be lost in me.
– Alfred, Lord Tennyson, em “Grandes Poetas da Língua Inglesa do século 19”. [seleção, tradução e organização de José Lino Grünewald]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.

§

Flor na muralha fendida
Flor na muralha fendida,
eu colho-te das fendas,
seguro-te aqui, raiz e tudo, na minha mão,
pequena flor… mas se eu pudesse compreender
o que tu és, raiz e tudo, e tudo em tudo,
eu deveria saber o que Deus e o homem é.
.

Flower in the crannied wall
Flower in the crannied wall,
I pluck you out of the crannies,
I hold you here, root and all, in my hand,
Little flower – but if I could understand
What you are, root and all, and all in all,
I should know what God and man is.

(1869)
– Alfred, Lord Tennyson, em “Poemas de Alfred Tennyson”. [selecção, tradução, notação, introdução e organização de Octávio Santos]. Lisboa: Editora Saída de Emergência, 2009.

§

A águia
Ela aperta o penhasco com mãos retorcidas;
perto do sol em terras solitárias,
anelado com o mundo azul celeste, levanta-se.
O mar enrugado debaixo dela rasteja;
Olha do alto das suas muralhas da montanha,
e como um relâmpago cai.
.

The eagle
He clasps the crag with crooked hands;
Close to the sun in lonely lands,
Ringed with the azure world, he stands.
The wrinkled sea beneath him crawls;
He watches from his mountain walls,
And like a thunderbolt he falls.

(1851)
– Alfred, Lord Tennyson, em “Poemas de Alfred Tennyson”. [selecção, tradução, notação, introdução e organização de Octávio Santos]. Lisboa: Editora Saída de Emergência, 2009.

§

Querelas literárias
Ah, Deus! Os mesquinhos loucos da rima
que guincham e suam em guerras de pigmeus
perante o empedernido rosto do Tempo
e que são olhados pelas estrelas silenciosas;
que se odeiam uns aos outros por uma canção
e dão o seu melhor, que é pouco, em morder
e beliscar os seus confrades na multidão
e arranhar os próprios mortos por despeito;
e estiram-se para arranjarem uma polegada de espaço
para os seus doces egos, e não conseguem ouvir
o agoiro rolante do soturno Letes
neles e nos seus e em todas as coisas aqui;
quando um pequeno toque de Caridade
poderia erguê-los mais perto da condição divina
do que se a populosa orbe chorasse
como aqueles que grandemente choraram Diana.
E eu também falo, e perco o toque
De que falo. Certamente, depois de tudo,
A resposta mais nobre a tal coisa
É a perfeita quietude enquanto eles brigam.
.

Literary squabbles
Ah God! the petty fools of rhyme
That shriek and sweat in pigmy wars
Before the stony face of Time,
And look’d at by the silent stars;
Who hate each other for a song,
And do their little best to bite
And pinch their brethren in the throng,
And scratch the very dead for spite;
And strain to make an inch of room
For their sweet selves, and cannot hear
The sullen Lethe rolling doom
On them and theirs and all things here;
When one small touch of Charity
Could lift them nearer Godlike state
Than if the crowded Orb should cry
Like those who cried Diana great.
And I too talk, and lose the touch
I talk of. Surely, after all,
The noblest answer unto such
Is perfect stillness when they brawl.

(1846)
– Alfred, Lord Tennyson, em “Poemas de Alfred Tennyson”. [selecção, tradução, notação, introdução e organização de Octávio Santos]. Lisboa: Editora Saída de Emergência, 2009.

§

As lágrimas do céu
O Céu chora sobre a Terra toda a noite até de manhã,
na escuridão chora como todos os que se
envergonham de chorar;
porque a Terra tornou o seu estado lastimoso
com o mal que se infligiu em anos inumeráveis
e fez por colher o fruto da sua desonra.
E todo o dia o Céu recolhe as suas lágrimas
Para os seus próprios olhos azuis tão claros e profundos,
e chuviscando a glória do dia luminoso e leve
sorri na testa esgotada da terra para ganhá-la se ela quiser.
.

The tears of heaven
Heaven weeps above the earth all night till morn,
In darkness weeps, as all ashamed to weep,
Because the earth hath made her state forlorn
With selfwrought evils of unnumbered years,
And doth the fruit of her dishonour reap.
And all the day heaven gathers back her tears
Into her own blue eyes so clear and deep,
And showering down the glory of lightsome day,
Smiles on the earth’s worn brow to win her if she may.

(1830)
– Alfred, Lord Tennyson, em “Poemas de Alfred Tennyson”. [selecção, tradução, notação, introdução e organização de Octávio Santos]. Lisboa: Editora Saída de Emergência, 2009.

§

Ulisses
(…)
No porto, olhai da nave a panda vela:
E além os negros mares. Meus marinheiros,
Meus sócios nas ideias e trabalhos,
Que sempre alegremente recebestes
Trovões e Sóis, e que expusestes livres
O peito e a frente, estamos velhos todos:
Ora a velhice tem seu brio honrado;
A morte acaba tudo; mas, no fim,
Algo de nobre poderá ser feito,
Digno dos homens que enfrentaram Deuses.
As luzes já se acenderam pelas serras:
O longo dia esvai-se: e a lenta lua
Sobe: e as profundas multivárias uivam.
Ainda não é tarde, meus amigos,
Para buscarmos um mais novo mundo.

Façamo-nos ao mar, ao remo assentes,
Arai as fundas vagas. Meu propósito
É ir além do Poente e dos caminhos
Dos astros do Ocidente, até que eu morra.
Provável é que abismos nos engulam:
Ou que nos surjam as Afortunadas,
E o grande Aquil´s vejamos, que estimámos.
Muito se perde, e muito fica; embora
Não tenhamos a força que, outros tempos,
Tudo movia – quanto somos, somos:
Uma igual têmpera do peito heróico,
Ao tempo e fado frágil, mas bem forte
Para buscar, achar, e não perder.
.

Ulisses
(…)
There lies the port; the vessel puffs her sail:
There gloom the dark broad seas. My mariners,
Souls that have toil’d, and wrought, and thought with me—
That ever with a frolic welcome took
The thunder and the sunshine, and opposed
Free hearts, free foreheads—you and I are old;
Old age hath yet his honour and his toil;
Death closes all: but something ere the end,
Some work of noble note, may yet be done,
Not unbecoming men that strove with Gods.
The lights begin to twinkle from the rocks:
The long day wanes: the slow moon climbs: the deep
Moans round with many voices. Come, my friends,
‘Tis not too late to seek a newer world.

Push off, and sitting well in order smite
The sounding furrows; for my purpose holds
To sail beyond the sunset, and the baths
Of all the western stars, until I die.
It may be that the gulfs will wash us down:
It may be we shall touch the Happy Isles,
And see the great Achilles, whom we knew.
Tho’ much is taken, much abides; and tho’
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven; that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield.
– Alfred, Lord Tennyson, em “Poesia de 26 Séculos: de bashô a nietzsche”. Antologia. vol. II. [tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena]. Editorial inova, 1972.

§

revistaprosaversoearte.com - Alfred, Lord Tennyson - poemas
Alfred Lord Tennyson, by Helen Allingham

BREVE BIOGRAFIA
Alfred Tennyson (1809.8.6 – 1892.10.6) é o grande poeta inglês do século XIX e do reinado da Rainha Victória – tendo sido, precisamente, “poeta laureado” oficial do Reino Unido, desde 1850 até à sua morte. Entre uma juventude marcada pela adversidade e uma maturidade coroada pela consagração (em 1884 aceitou o título de Barão, passando a ser conhecido por Lord Tennyson), escreveu alguns dos mais belos e populares poemas do seu tempo, com destaque para os que têm como tema as lendas do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Fonte: Editora Saída de Emergência

:: Alfred, Lord Tennyson – Poetry Foundation
:: Lord Alfred Tennyson – Poet | Academy of American Poets
:: Alfred Lord Tennyson – PoemHunter

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Alfred and Emily Tennyson with their sons at Farringford by Oscar Gustave Rejlander

© obra em domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva


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