quinta-feira, novembro 14, 2024

Álbum ‘Mantra Concreto’ | Vitor Ramil

“Mantra Concreto” é inteiramente dedicado à poesia do curitibano Paulo Leminski (1944/1989), que teria completado 80 anos em agosto deste ano, e nasceu no período da pandemia, em 2021.  Isolado em casa, Vitor Ramil mergulhou na obra de Paulo Leminski e compôs treze melodias para treze poemas do poeta curitibano, todas incluídas no novo álbum.

Com a colaboração dos músicos de base e co-produtores Alexandre Fonseca e Edu Martins, Vitor Ramil encarou o desafio de expressar a personalidade da obra de Paulo Leminski trabalhando de forma minuciosa. “Eu estava em Pelotas, Alexandre no Rio de Janeiro, Edu em Porto Alegre. Os músicos convidados, André Gomes (sitar, guitarra), Carlos Moscardini (violão), Santiago Vazquez (kalimba) e Toninho Horta (guitarra) estavam, respectivamente, em São Paulo, Argentina, Uruguai e Belo Horizonte. Vagner Cunha (violino), José Milton Vieira (trombone) e Pablo Schinke (violoncelo) estavam em Porto Alegre. Nunca tocamos juntos, mas o resultado foi como se tivéssemos nos reunido na casa de Leminski, no Pilarzinho, em Curitiba”, pontua Ramil.
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O nome do álbum vem de um poema cujo título foi dado por Vitor Ramil, já que muitas obras de Leminski não possuem título. Capa e material gráfico do álbum, que terá tiragem em CD, levam a assinatura do premiado designer Felipe Taborda, que criou uma paródia do clássico cartaz de Rodchenko e Maiakóvski.

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Vitor Ramil – Mantra Concreto – foto: Marcelo Soares

MANTRA CONCRETO, por Vitor Ramil
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Em 2021, durante a pandemia, justamente por estar isolado em casa, fui contaminado pela poesia de Paulo Leminski. Certo dia, enquanto lia o poema Sujeito Indireto, passei a mão no violão e minha imunidade baixou. “Quem dera eu achasse um jeito, de fazer tudo perfeito” logo virou canção. No dias subsequentes a cena se repetiu com outros poemas. Em três semanas, treze poemas, treze canções: De repente, Teu vulto, Administério, Amar você, Profissão de febre, Palavra minha, Um bom poema, Anfíbios, Será quase, Sujeito indireto, Minifesto, Caricatura, Mantra Concreto
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A contaminação fora brutal. Não demorou para que o contagiante repertório tomasse meus pensamentos. Eu nunca criara um grupo de canções tão coeso em tão pouco tempo. Anos antes já tinha musicado O velho León e Natália em Coyoacán e Uma carta uma brasa através. Agora contava então com quinze canções em parceria com Paulo Leminski. Como não pensar em um álbum?

Assim começou MANTRA CONCRETO. O nome vem de um poema cujo título foi dado por mim. Muitos poemas de Leminski não possuem título. Os versos de Mantra Concreto remetiam à poesia concreta, que influenciou o poeta. Seu tema, de prece e pressa, com pinceladas entre o mítico e o espiritual, me fez pensar em mantras e no caráter mântrico de muitas das minhas composições, que ganhavam concretude com aquela poesia clara e rigorosa. A expressão “mantra concreto” passou então a representar o conjunto das canções e a sugerir os caminhos para a concepção do álbum como um todo: arranjos, gravações, mixagem, masterização e capa.
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O disco seria inevitavelmente uma homenagem a Paulo Leminski, até porque seria gravado e lançado em 2024, ano em que ele completaria 80 anos. Eu não sabia dessa efeméride, que me pareceu meio mágica, feito o meu surto criativo. O que, sim, sabia, era que cada aspecto do trabalho deveria estar contaminado pelo autor e sua poesia.

Paulo Leminski, o lírico que associa o esquecimento e a chuva no telhado à felicidade, é também o cachorro louco que faz chover no nosso piquenique. MANTRA CONCRETO precisava expressar sua personalidade e sua obra feitas de contrastes. Com a colaboração de meus co-produtores e músicos de base Alexandre Fonseca e Edu Martins, encarei o desafio trabalhando de modo minucioso e com calma. Eu estava em Pelotas, Alexandre no Rio, Edu em Porto Alegre. Os músicos convidados, André Gomes (sitar, guitarra), Carlos Moscardini (violão), Santiago Vazquez (kalimba) e Toninho Horta (guitarra) estavam, respectivamente, em São Paulo, Argentina, Uruguai e Belo Horizonte. Vagner Cunha (violino), José Milton Vieira (trombone) e Pablo Schinke (violoncelo) estavam em Porto Alegre. Nunca tocamos juntos, mas o resultado foi como se tivéssemos nos reunido na casa de Leminski no Pilarzinho, em Curitiba, onde “qualquer som, qualquer um”, pudesse ser a voz do poeta; onde “todo susto sob a forma de um súbito arbusto”, cada “seixo solto, céu revolto”, pudesse ser seu vulto ou sua volta.
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Que responsabilidade traduzir Paulo Leminski em música, ele que, como está em sua fala na canção de abertura, De repente, dizia que “a música é o destino natural do ser humano”. Buscamos que essa tradução fosse completa e percebida logo de cara na sonoridade dos instrumentos. Há muito tempo eu queria experimentar o baixo sintetizador por intuir que sua combinação com meus violões de aço, que gravo dobrados e tocados simetricamente, seria o ideal para termos graves pesados sem interferir na integridade dos violões. A hora era aquela. Era preciso que o synth fosse tocado principalmente com notas breves, de modo a não tomar conta do espectro sonoro. Para completar a sonoridade básica que perpassaria todo o disco, bateria, tablas, demais percussões e programações cuidariam não só da rítmica, mas também do colorido nas regiões médias e agudas. Edu Martins, músico de exceção, é também um mago que fez chover com o synth bass; Alexandre Fonseca, tablas e bateria, é conhecido do meu público pelo trabalho marcante em Ramilonga – A estética do frio. Premiado num concurso do Nine Inch Nails, ganhou direito a acessar o banco de sons da banda. Com isso cravou alguns pregos de nove polegadas e foi fundo em suas próprias invenções, como tocar em esculturas de ferro. Assim chegamos ao que nos pareceu uma atmosfera leminskiana para todas as músicas.

A concepção se mostrou coesa como o repertório. Do som agudo mais sideral e cristalino descemos aos tremores de terra mais cavernosos, capazes de modular a voz e tudo mais que estivesse em volta; da regularidade horizontal e geométrica dos violões, volta e meia descambamos para acentos verticais em tempos aleatórios; a limpeza mais limpa e a podreira mais podre trocaram figurinhas; música das galáxias, gotas de absinto, uma viola caipira lisérgica, uma máquina de escrever que substitui uma bateria, o ataque de um besouro-sintetizador gigante, o voo de famintos violinos-mosquitos, um violão de nylon fantasma. No meio de tudo, a voz flutuando como um holograma. Acho que levamos Paulo Leminski a seu destino.
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Para a capa, desde o começo desejei algo que remetesse ao construtivismo e ao cubo futurismo russos e também à cultura pop. O designer Felipe Taborda apareceu com uma paródia do clássico cartaz de Rodchenko e Maiakóvski. Nada mais alta cultura e pop ao mesmo tempo, exatamente como a poesia de Paulo Leminski, em que a voz das ruas conversa com a voz interior mais elevada, em que um grafite casual ombreia com versos da maior sofisticação. O cartaz original, conforme apresentado no encarte, oferece livros de “todos os campos do conhecimento” à classe trabalhadora. Leminski e o velho León certamente iam gostar. Como ícone pop, a peça de Rodchenko e Maiakóvski já foi usada mil vezes como propaganda de festas estudantis e, entre outras aparições, inspirou a capa de um disco da banda de rock Franz Ferdinand. Agora, com todo o ímpeto, retomo o gesto de Lília Brick e grito: MANTRA CONCRETO!

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Capa do álbum ‘Mantra Concreto’ • Vitor Ramil • Selo Satolep Music • 2024

DISCO ‘MANTRA CONCRETO’ • Vitor Ramil • Selo Satolep Music • 2024
Canções / compositores
1. De repente (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
2. Teu vulto (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
3. Administério (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
4. Amar você (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
5. Profissão de febre (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
6. Palavra minha (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
7. Um bom poema (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
8. Anfíbios (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
9. Será quase (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
10. O velho León e Natália em Coyoacán (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
11. Sujeito indireto (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
12. Uma carta uma brasa através (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
13. Minifesto (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
14. Caricatura (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
15. Mantra concreto (Vitor Ramil / poesia de Paulo Leminski)
– ficha técnica –
Paulo Leminski (voz – fala – fx. 1; voz em loop (“festa”) – fx. 13) | Vitor Ramil (violões e vozes – fx. 1, 3, 6, 8; violões, gotas de absinto e voz *esculturas de Rogério Botelho – fx. 2; violões e voz – fx. 4, 9, 10, 11, 14, 15; violão e voz – fx. 5; violões, viola com slide e voz – fx. 7; violões, violão nylon processado e voz – fx. 12; violas e voz – fx. 13) | Alexandre Fonseca (percussão e programação – fx. 1, 10, 12, 14; bateria, esculturas metálicas* e programação – fx. 2 / *esculturas de Rogério Botelho; baterias, percussão, synth e programação – fx. 3; bateria, tablas, percussão e programação – fx. 4; tablas e percussão – fx. 6; bateria e tablas – fx. 7; bateria, tablas, synth e programação – fx. 8; bateria, máquinas de escrever e programação – fx. 11; bateria e percussão – fx. 13; caixa e prato – fx. 15) | Edu Martins (synth bass – fx. 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13; programação – fx. 2, 8, 13; baixo acústico – fx. 5, 15; piano wurlitzer – fx. 11; synth bass, tímpanos, bumbo e pratos sinfônicos (samples BBC) – fx. 14) || Músicos convidados: Carlos Moscardini (violão nylon – fx. 6) | André Gomes (guitarras com slide – fx. 11) | Toninho Horta (guitarra – fx. 13) | Vagner Cunha (violinos e arranjo de cordas – fx. 3; arranjo para trombones – fx. 10) | Pablo Schinke (violoncelo – fx. 3) | Santiago Vazquez (kalimba – fx. 9) | Milton Vieira (trombones – fx. 10) || Produção: Vitor Ramil, Alexandre Fonseca e Edu Martins | Gravação: Lauro Maia (Audio Porto – Porto Alegre) Alexandre Fonseca (F2, Rio de Janeiro) Edu Martins (Fuga, Porto Alegre) Marcelo Guerra (Outono, Belo Horizonte) Gustavo Corrado (Lomas Records, Buenos Aires, Argentina) Nahuel Bentancour (7y3, Maldonado/Uruguay) | Assistentes de gravação: Pedro Schmitt, Rael Valinhas | Mixagem: Moogie Canazio (Move – Los Angeles – USA) | Assistentes de mixagem: Lucas Nehme | Masterização: André Dias (Post Modern Mastering – Rio de Janeiro) | Editoras: Vitor Ramil – Direto ao autor Paulo Leminski – Whois Produções | Preparação vocal: Lígia Mota | Capa – direção de arte: Felipe Taborda | Design: Augusto Erthal | Fotos Vitor Ramil: Marcelo Soares | Foto Paulo Leminski: Dico Kremer | Agradecimentos: Hélio Freire; Eduardo Bueno; Luciano Mello; Família Ruiz Leminski: Alice Ruiz; Áurea Leminski; Estrela Leminski | Produção executiva: Branca Ramil – Ramil e Uma Produções | Assessoria de imprensa: Belinha Almendra / Coringa Comunicação | Selo: Satolep Music | Distribuição digital: Tratore | Formato: Single digital | Ano: 2024 | Lançamento: 10 de outubro | ♪Ouça o álbumclique aqui.
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>> Siga: @vitorramil.satolep

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Série: Discografia da Música Brasileira / MPB / Canção /  Álbum.
* Publicado por ©Elfi Kürten Fenske


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