terça-feira, maio 20, 2025

Exposição: ‘Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra’ | Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

Mais antigo do estado do Rio de Janeiro, o Quilombo São José da Serra mostra no Rio sua arte. Pela primeira vez, artesãs expõem no Programa Sala do Artista Popular (SAP) bonecas representativas dos saberes e fazeres das mulheres e, na abertura, a famosa roda de jongo do Quilombo fará apresentação ao público
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Mais antigo do Estado do Rio de Janeiro, o Quilombo São José da Serra está localizado no Distrito de Santa Isabel no município de Valença/RJ, sul do estado do Rio de Janeiro, na Região do Vale do Café. Ficou assim conhecido porque, a partir do século XIX, a região (que inclui cidades como Vassouras, Valença e Paty do Alferes) tornou-se o maior polo produtor de café do Brasil, transformando a área em um eixo de riqueza e poder econômico. Grandes fazendas cafeeiras dominavam a paisagem, sustentadas pela mão de obra escravizada.
 
Completando 10 anos com titularidade da terra, o Quilombo São José da Serra se faz representar pela primeira vez com sua arte no Rio. A exposição Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra será aberta na Sala do Artista Popular, do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), Catete – Rio de Janeiro, dia 22 de maio 2025, às 17h. Serão apresentadas as bonecas realizadas em bucha e palha de milho, que unem as mulheres em seu fazer, além da festa de abertura ser marcada por uma roda de jongo, que atrai turistas de toda parte ao Quilombo São José da Serra. As bonecas estarão à venda. Para a artesã Luciene Valença, que é Secretária da Associação do Quilombo, as bonecas de palha de milho e bucha dão continuidade ao fazer ancestral. “No Quilombo, a renda da mulher é que faz diferença na vida da família. Nosso artesanato tem uma importância imensa por tudo que significa”, define Luciene Valença, artesã, Secretária da Associação do Quilombo São José da Serra e coordenadora das ações.

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Roda de jongo do Quilombo – Quilombo São Jose da Serra – foto: Francisco Moreira da Costa

Patrimônio com mais de um século

O Quilombo São José da Serra é um patrimônio com mais de 150 anos de História. Como informa o catálogo feito especialmente para a SAP, que será distribuído ao público, a produção das bonecas inicia em meados dos anos 2000, para geração de renda e aproveitamento da bucha e da palha de milho. Quem ensina é um técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater). Ele estava na Fazenda São José da Serra – que na época já era fonte de estudos e pesquisa, além de atração turística – para um evento na escola. Levou ao quilombo uma professora que ensinou o artesanato das bonecas a Tia Tetê. Em seguida, no ano de 2007, o Artesanato Solidário/ Artesol e o Ministério do Turismo, com apoio da Prefeitura Municipal de Valença, organizaram um curso para que Tia Tetê repassasse a técnica a um grupo maior.
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Terezinha do Nascimento Fernandes era carinhosamente tratada por todos como Tia Tetê (1944-2023), nascida e criada no território da Fazenda São José. Matriarca contemporânea, uma das principais vozes na luta pelo reconhecimento territorial e contra o racismo estrutural, esteve à frente do centro de Umbanda local, a Tenda Espírita São Jorge Guerreiro e Caboclo Rompe Mato, responsabilidade herdada de sua mãe, Zeferina do Nascimento (1925-2003). Tia Tetê integrava práticas religiosas à mobilização política, reforçando a identidade coletiva e a noção de pertencimento e proteção do território. As bonecas transformaram palha de milho em arte e memória viva.
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Para Luciene Valença o trabalho das artesãs fortalece os laços entre as gerações. “Assim também como o nosso terreiro de Umbanda, que graças a Deus, reúne várias gerações e cuida do nosso Jongo, mantemos o ensino do nosso artesanato, dentre outros trabalhos criativos que realizamos no Quilombo. As mulheres do Quilombo fazem coisas incríveis. E realmente isso ajuda muito a gente, não só financeiramente, mas também é muito bom estar desenvolvendo uma atividade em grupo, trocando ideias, opinando em formas de aplicar técnicas à palha e à bucha. É muito bom pra gente”, conta.

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Bonecas de palha de milho e bucha – Quilombo São José da Serra | foto: Francisco Moreira da Costa

Contexto histórico

Os escravizados eram a base produtiva das fazendas: realizavam desde o plantio até a secagem dos grãos, tarefas essenciais para a lucratividade do café. Desse modo, em 1838, ocorreu em Paty do Alferes a maior rebelião contra a escravidão da região, envolvendo mais de 300 pessoas. A rebelião foi liderada por Manoel Congo (ferreiro escravizado) e Mariana Crioula, figuras que simbolizaram a luta por liberdade, ainda, hoje, embora não tenham logrado êxito para o seu objetivo principal Muitos dos rebeldes fugiram para as serras da região, iniciando assim o processo de aquilombamento de suas regiões.
Em 30 de abril de 2025 completou uma década de titulação pelo Incra aos Quilombolas.

Breve histórico da SAP

Rafael Barros Gomes, diretor do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), ressalta que o Programa Sala do Artista Popular é uma política cultural de relevo. São mais de 40 anos, contínuos, promovendo a vinda de artistas e suas obras para exposições no Museu de Folclore Edison Carneiro, onde há o Espaço de Comercialização que vende esses trabalhos. Mais: dando visibilidade ao artesanato tradicional de Norte a Sul do país. “Sobretudo, é um programa pioneiro na perspectiva de políticas voltadas para o campo do artesanato de tradição cultural, compreendendo o fazer artesanal das diferentes comunidades do Brasil”, explica. O Programa Sala do Artista Popular (SAP), do CNFCP/Iphan, que desde 1983 fomenta a venda dos trabalhos feitos nos mais distantes rincões do país, já contou com participação superior a 4.000 artesãos.

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Exposição “Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra” | Museu de Folclore Edison Carneiro | Fotos: Francisco Moreira da Costa

SERVIÇO
Exposição Bonecas de Memória e Tradição, de Luta e Celebração, de Raízes e Identidade: Mais do que Simples Brinquedos, são Símbolos de Liberdade
Onde: Museu de Folclore Edison Carneiro – Rua do Catete, 179. Catete – RJ.
Tel. 21 3032.6052
Inauguração: 22 de maio 2025, às 17h
Dias e horários de visitação: Terça a sexta-feira, das 11h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 15h às 18h.
Atenção: Os horários de funcionamento podem estar sujeitos à alteração devido à greve dos servidores da Cultura. Informe-se no site
Realização: Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec) | Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto de Patrimônio e Histórico e Artístico Nacional (CNFCP/Iphan)
Mais informações: @museudefolclore.cnfcp / @amigos.museudefolclore / @quilombo_saojosedaserra
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Fotos: Francisco Moreira da Costa
Assessoria de imprensa da SAP: Mônica Riani

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Roda de jongo do Quilombo – Quilombo São Jose da Serra – foto: Francisco Moreira da Costa
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Roda de jongo do Quilombo – Quilombo São Jose da Serra – foto: Francisco Moreira da Costa

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