Ação de Graças
Eu Te agradeço Senhor,
pelas belezas esparsas no mundo,
mesmo por aquelas que não posso tocar…
Eu Te agradeço pelas belezas ocultas
que alguém não vê
mas que minha alma é capaz de adivinhar.

Eu te agradeço o sorriso da criança
a flor que se balança
e o pássaro que corta o ar…
Mas também Te agradeço
a canção que me cantas
quando o sofrimento se avizinha,
maltratando o coração
que se esquece de cantar…

Obrigada, Senhor,
por poder participar
dos trabalhos deste mundo
em construção…

Obrigada por teres-me ensinado
a chorar cantando
para que na minha humana fraqueza
o meu canto amparasse
a minha alma submissa e indefesa…

Sobretudo eu Te agradeço
as lindas rosas de amor
que jogaste em meus caminhos…
– Obrigada, Senhor,
pois fiz delas um bouquet
só de rosas sem espinhos.
– Zoraida H. Guimarães, no livro “Ainda há sol atrás da montanha”. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1980.

§

Arcanjos
Prismas divinos,
diáfanos,
de indizível formosura
refletindo a luz do sol…

Gotas de orvalho
na madrugada do Cosmo
cintilando,
trêmulas de felicidade
porque plenas de amor…

Revestidos de Beleza,
cheios de Sabedoria,
sois sopros
da Onipotência criadora,
raios de luz da realeza
desprendidos pela fonte geradora
para iluminar
a humana natureza.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Bailando no vento e no cosmo
Eu sou essa música
que ouves em surdina
nas máquinas do tempo.
Eu sou esse perfume
finado, mas vivo
que o vento trouxe
para reavivar a tua memória…
Sou a beleza sonhada
da nossa história
que não foi vivenciada
pelos nossos sentidos.
Eu sou essa alma sozinha
que baila no vento
à espera de abraços…
Sou música em surdina
sou perfume e beleza no espaço,
sou o teu sonho mais lindo de outrora
que agora te chama
em forma de rima…
Vem comigo, o sonho recordar
e se a música te anima
o vento te ensina:
– aprende a amar!
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Fuga
Desfez-se da inquietação,
abandonou a luta
e caminhou vagarosamente
para a aceitação…

A realidade do dia-a-dia
sempre foi para ele
desespero e agonia.

Cansado, deitou-se na relva,
olhou para o céu, bebeu azul e paz,
aspirou os aromas silvestres
depois fechou os olhos
e deixou a alma sonhar…

A bela alma foi brincar
no recanto mágico de seus desejos,
lá, onde há luz, música e beijos,
onde ninguém tem motivos para chorar…

Adormeceu sorrindo
ouvindo a flauta do vento
no arvoredo que dançava ali, ao lado…
E, sonhando dormindo
o mesmo sonho que sonhara acordado.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Semeadura
Sim…É preciso amar algo nesta vida
com a convicção e o ardor de um crente,
um amor todo feito de ternuras
sem sombras profanas e irreverentes…

Amar o sol, as flores, as estrelas,
o mar, a imensidão e a humanidade,
encher tudo de paz e de bondade
e as almas, uma a uma acendê-las,
para que o mundo tenha claridade.

Amar o próprio chão, a natureza,
e todo o fulgor da beleza sempiterna;
levar o coração como tocha acesa
e encher tudo de luz e cores
como de flores enche a terra a primavera.

Amar!…Amar e se extinguir no amor
como um símbolo Daquele que no calvário
fez uma canção de sua dor
e da cruz do amor fez um sacrário!…

Sim!… É preciso amar constantemente;
o coração que ama assim não tem idade:
ele vai de leve, bem suavemente

atingindo a meta – a sua divindade!…
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Semeadura”. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1979.

§

O pingar das horas
O dia escorre horas,
minutos, segundos,
instantes-gotas de vida
que vão caindo no tempo
onde tudo é registrado…

Soma das gotas que escorrem
unidas
à minha, à tua e a outras vidas,
forma o rio que corre
para a eternidade…

Em busca da felicidade
que se esconde, não sei onde,
o mar humano se agita
ora calmo e cantante
ora impetuoso…

Nada se acaba… nada morre
e a todo instante a nossa vida
escorre, gota a gota
nessa sede infinita
que é o grande (a)mar…

(A)mar humano
onde o rio da vida vai desaguar
depois de ter banhado e fecundado
os campos do nosso sonhar.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Prece ao vento
Vento que vens chegando
de longe, de muito além,
que vieste alisando
os campos e os mares também,
pára um pouco, ouve o meu canto
e leva-o de volta
com as lágrimas do pranto
destes olhos sem revolta,
que olham com indiferença
os homens e a vida quadrada
dos que perderam a crença
entre as pedras da jornada.

Leva meu cantar dolente
nas tuas invisíveis asas
e espalha-o docemente
sobre esse mundo de casas
que não possuem canção.
Eu sou a harpa divina
numa alegre saudação
de mil vozes cristalinas.

Vento que moves águas,
que o fogo avivas ou apagas,
leva meu canto de mágoas
para pertinho do Sol
ou para fora da Terra.
Talvez num outro arrebol
além desta atmosfera,
com esta canção em arranjo
eu encontre aquele Arcanjo
que foi Homem nesta Terra.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Um saxofone na noite
(Ao músico-missionário Urbano Medeiros)

Quando sopras o teu saxe
na fria noite estrelada
ou sob a luz do luar,
os querubins e as fadas
param para te escutar…

E, lá, da amplidão celeste
a lua extasiada
brilha mais – já que lhe deste
tua música abençoada.

Ao tocares saxofone,
tua alma, viva luz,
se desprende da matéria:
– já não és Urbano…és Jesus!…

E os pobres desta terra
ouvindo o sopro divinal,
esquecem a miséria, a guerra,
a fome, a dor, todo mal.

Bendito sejas, ano após ano,
abençoado do Senhor,
bendito sejas meu irmão Urbano,
fonte perene do Eterno Amor.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Vento e perfume
O vento parece ser
o suspiro dos mortos
que ainda vagam pela terra.

Quando forte vem do Sul,
dobra flores, varre o chão
e carrega as nuvens
pelo céu azul.

Quando ele é brisa
e não violento,
é suspiro dos anjos
em movimento.

Quando não é brisa
mas só aragem,
não é mais vento
mas sim viagem do pensamento
para outras paragens
do firmamento.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

Visitas
Bom-dia Tristeza!
Posso entrar?
Hoje vim com a Saudade
para te visitar…

Já que a Alegria viajou
depois que o Amor morreu,
viemos te visitar
querida amiga…

Visitar-me diz Tristeza,
não me diga…ora veja…
Enganaram-se com certeza,
Pois também estou de partida.
Vou morar com a Esperança
que ainda é minha amiga.
– Zoraida Hostermann Guimarães, no livro “Na passarela do tempo”. Florianópolis: Riomar, 1997.

§

BREVE BIOGRAFIA
Zoraida H. Guimarães (poeta, cronista, contista, professora e jornalista) nasceu em Florianópolis, no dia 11 de dezembro de 1925. É membro do Movimento Poético Nacional- SP, CEBLA-RJ, Academia Par. de Poesia. Prêmio Concurso Nacional do Livro Poesia – PB, Festival do Livro Brasileiro-PB.
:: COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001.







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