Umberto Eco era famoso tanto por sua criação literária como por suas lúcidas e polêmicas declarações. Autor de romances como “O Nome da Rosa” (1980), “O Pêndulo de Focault” (1988) e “Número Zero” (2015), entre outros. Ver biografia e obras publicadas no Brasil. AQUI!

Reunimos abaixo 30 frases para recordar a lucidez mordaz de Umberto Eco. Boa travessia!

“[…] pensara que todo livro falasse das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Percebia agora que não raro os livros falam de livros, ou seja, é como se falassem entre si. À luz dessa reflexão, a biblioteca pareceu-me ainda mais inquietante. Era então o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminho e pergaminho, uma coisa viva, um receptáculo de forças não domáveis por uma mente humana, tesouro de segredos emanados de muitas mentes, e sobrevividos à morte daqueles que os produziram, ou os tinham utilizado.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“[…] nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais por uma alma piedosa.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Labirinto espiritual, é também labirinto terreno. Poderíeis entrar e poderíeis não sair.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Não sei de nada. Não há nada que eu saiba. Porém certas coisas se sentem com o coração. Deixa falar o teu coração, interroga os rostos, não escutes as línguas…”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“A biblioteca defende-se por si, insondável como a verdade que abriga, enganadora como a mentira que guarda”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“O bem de um livro está em ser lido. Um livro é feito de signos que falam de outros signos, os quais por sua vez falam das coisas. Sem um olho que o leia, um livro traz signos que não produzem conceitos, e portanto é mudo. Esta biblioteca talvez tenha nascido para salvar os livros que contém, mas agora vive para sepultá-los. Por isso tornou-se fonte de impiedade.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Os monstros existem porque fazem parte do desígnio divino e nas mesmas horríveis feições dos monstros revela-se a potência do Criador. Assim existem por desígnio divino também os livros dos magos, as cabalas dos judeus, as fábulas dos poetas pagãos, as mentiras dos infiéis.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“O livro é criatura frágil, sofre a usura do tempo, teme os roedores, as intempéries, as mãos inábeis. Se por séculos e séculos cada um tivesse podido tocar livremente os nossos códices, a maior parte deles não existiria mais. O bibliotecário portanto defende-os não só dos homens, mas também da natureza, e dedica sua vida a esta guerra contra as forças do olvido, inimigo da verdade.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

“Pode-se pecar por excesso de loquacidade e por excesso de reticência. Eu não queria dizer que é necessário esconder as fontes da ciência. Isso me parece antes um grande mal. Queria dizer que, tratando-se de arcanos dos quais pode nascer tanto o bem como o mal, o sábio tem o direito e o dever de usar uma linguagem obscura, compreensível somente a seus pares. O caminho da ciência é difícil e é difícil distinguir nele o bem do mal. E freqüentemente os sábios dos novos tempos são apenas anões em cima dos ombros de anões.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Mas deves aprender a distinguir o fogo do amor sobrenatural do delíquio dos sentidos. É difícil mesmo para os santos.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“O que é o amor? Não existe nada no mundo, nem homem, nem diabo, nem qualquer coisa, que eu considere tão suspeito como o amor, pois este penetra mais a alma que outra coisa qualquer. Não há nada que ocupe tanto e amarre o coração como o amor. Por isso, a menos que não tenha as almas que a governam, a alma cai, pelo amor, numa imensa ruína […]”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Oh, o amor possui diversas propriedades, de início a alma se enternece por ele, depois cai enferma… Mas em seguida percebe o calor verdadeiro do amor divino e grita, e se lamenta, e faz-se pedra posta na fogueira para desfazer-se em cal, e crepita, lambida pela chama…”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“[…] ela me beijou com os beijos de sua boca, e os seus amores foram mais deliciosos do que o vinho e ao olfato eram deliciosos os seus perfumes, e era belo o seu pescoço entre as pérolas e suas faces entre os pingentes, como és bela amada minha, como és bela, os teus olhos são pombas (eu dizia), e deixa-me ver a tua face, deixa-me ouvir a tua voz, pois a tua voz é harmoniosa e a tua face encantadora, deixaste-me louco de amor , minha irmã, deixaste-me louco com um olhar teu, com um único adereço de teu pescoço, favo gotejante são os teus lábios, leite e mel são a tua língua, o perfume do teu hálito é como o dos pomos, os teus seios em cachos, os teus seios como cachos de uva, o teu palato um vinho precioso que atinge diretamente o meu amor e flui nos lábios e nos dentes… Fonte do jardim, nardo e açafrão, canela e cinamomo, mirra e aloé, eu comia o meu favo e o meu mel, bebia o meu vinho e o meu leite, quem era ela que se erguia como a aurora, bela como a lua, fúlgida como o sol, terrível como colunas vexilárias?”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“E tudo foi escrito, sabeis? Foi escrito que muitas seriam as agitações nas castas, nos povos e nas igrejas; que se levantarão pastores iníquos, perversos, depreciadores, ávidos, desejosos de prazeres, amantes do lucro, prenhes de palavras vãs, jactanciosos, soberbos, gulosos, protervos, imersos em libidinagem, sequiosos da vanglória, inimigos do evangelho, prontos a repudiar a porta estreita, a desprezar a palavra verdadeira, e odiarão qualquer caminho de piedade, não se arrependerão de seu pecado, e por isso em meio aos povos espalhar-se-ão a incredubilidade, o ódio fraterno, a perversidade, a dureza, a inveja, a indiferença, o latrocínio, a embriaguez, a intemperança, a lascívia, o prazer carnal, a fornicação e todos os demais vícios.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Do único amor terreno de minha vida não sabia, e nunca soube, o nome.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Tu estás dizendo que entre desejar o bem e desejar o mal não há senão um passo, porque se trata sempre de dirigir a própria vontade. Isto é verdade. Mas a diferença está no objeto, e o objeto é reconhecível claramente. Aqui Deus, lá o diabo.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Porque eu me ocupo de retórica e leio muitos poetas e sei… ou melhor, creio que através da palavra deles são transmitidas também verdades naturaliter cristãs…”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Nós vivemos para os livros. Doce missão neste mundo dominado pela desordem e pela decadência. […].”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“O riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez de nossa carne. É o folguedo para o camponês, a licença para o embriagado, mesmo a igreja em sua sabedoria concedeu o momento da festa, do carnaval, da feira, essa ejaculação diurna que descarrega os humores e retém de outros desejos e de outras ambições… Mas desse modo o riso permanece coisa vil, defesa para os simples, mistério dessacralizado para a plebe.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“O riso libera o aldeão do medo do diabo, porque na festa dos tolos também o diabo aparece pobre e tolo, portanto controlável. Mas este livro poderia ensinar que se libertar do medo do diabo é sabedoria. Quando ri, enquanto o vinho borbulha em sua garganta, o aldeão sente-se patrão, porque inverteu as relações de senhoria: mas este livro poderia ensinar aos doutos os artifícios argutos, e desde então ilustres, com que legitimar a inversão. Então seria transformado em operação do intelecto aquilo que no gesto irrefletido do aldeão é ainda e afortunadamente operação do ventre. Que o riso é próprio do homem é sinal do nosso limite de pecadores.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“O riso distrai, por alguns instantes, o aldeão do medo. Mas a lei é imposta pelo medo, cujo nome verdadeiro é temor a Deus.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“E o que seremos nós, criaturas pecadoras, sem o medo, talvez o mais benéfico e afetuoso dos dons divinos? Durante séculos os doutores e os padres secretaram perfumadas essências de santo saber para redimir, através do pensamento daquilo que é elevado, a miséria e a tentação daquilo que é baixo.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“A prudência de nossos pais fez sua escolha: se o riso é o deleite da plebe, que a licença da plebe seja refreada e humilhada, e amedrontada com a severidade. E a plebe não tem armas para afiar o seu riso até fazê-lo tornar-se instrumento contra a seriedade dos pastores que devem conduzi-la à vida eterna e subtraí-la às seduções do ventre, das pudendas, da comida, de seus sórdidos desejos.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.

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“Porque é verdade. Mas não penses que te censuro. Se queres transformar-te num homem de letras, e quem sabe um dia escrever Histórias, deves também mentir, e inventar histórias, pois senão a tua História ficaria monótona. Mas terás que fazê-lo com moderação. O mundo condena os mentirosos que só sabem mentir, até mesmo sobre coisas mínimas, e premia os poetas que mentem apenas sobre coisas grandiosas.”
– Umberto Eco, em “Baudolino”. [tradução Marco Lucchesi]. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.

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“O sequioso que ao dar com uma fonte precipita-se para beber não lhe contempla a Beleza. Poderá fazê-lo depois, uma vez satisfeito o seu desejo.”
– Umberto Eco, em “História da beleza”. [tradução Eliana Aguiar]. São Paulo: Editora Record, 2004.

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“[…] chega a um momento em que a vanguarda (o moderno) não pode ir mais além, porque já produziu uma metalinguagem que fala de seus textos impossíveis (a arte conceptual). A resposta pós-moderna ao moderno consiste em reconhecer que o passado, já que não pode ser destruído porque sua destruição leva ao silêncio, deve ser revisitado: com ironia, de maneira não inocente.”
– Umberto Eco, em “Pós-escrito a O nome da Rosa”. [tradução Letizia Zini Antunes e Álvaro Lorencini]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 56-57.

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“Como é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama, até num barco, até onde não existam tomadas elétricas, até onde e quando qualquer bateria se descarregou. Suporta marcadores e cantos dobrados, e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre peito ou joelhos quando caímos no sono.”
– Umberto Eco, em “A memória vegetal: e outros escritos de bibliofilia”. [tradução Joana Angélica d’Ávila]. São Paulo: Editora Record, 2011.

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“Moral: existem ideias obsessivas, nunca pessoais, os livros se falam entre si, e uma verdadeira investigação policial deve provar que os culpados somos nós”
– Umberto Eco, em “Pós-escrito a O nome da Rosa”. [tradução Letizia Zini Antunes e Álvaro Lorencini]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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“As ilusões caem uma após outra, como as cascas de uma fruta, e a fruta é a experiência.”
– Umberto Eco, em “Seis passeios pelos bosques da ficção”. [tradução Hildegard Feist]. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 20.

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“Não são as notícias que fazem o jornal, mas o jornal é que faz as notícias, e saber juntar quatro notícias diferentes significa propôr ao leitor uma quinta notícia”
– Umberto Eco, em “Número zero”. [tradução Ivone Benedetti]. Rio de Janeiro: Editora Record, 2015.

Mais sobre Umberto Eco:
Umberto Eco – o mestre (Biografia, bibliografia, fortuna crítica e afins)
Umberto Eco – entrevista: migração e refugiados







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