Vladimir Maiakóvski (Владимир Маяковский) é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
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Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária”, era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.”
– Haroldo de Campos, no livro “Poemas de Maiakóvski”. [organização, notas e traduções de Augusto de Campos e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. São Paulo: Editora Perspectiva, 1982.

Do epílogo “Sobre isto” 
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O amor
Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
– Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.
– Vladimir Maiakóvski (1923).. {tradução de Haroldo de Campos}. do livro “Poemas de Maiakóvski”. [tradução, notas e organização de Boris Schnaiderman, Augusto de Campos e Haroldo de Campos]. São Paulo: Editora Perspectiva, 9ª ed., 2013.

 

A canção 

O amor
Talvez
quem sabe
um dia
por uma alameda
do zoológico
ela também chegará
ela que também
amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
na foto sobre a mesa
.
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
eles a ressuscitarão
o século trinta vencerá
o coração destroçado já
pelas mesquinharias
.
Agora vamos alcançar
Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis
.
Ressuscita-me
ainda
Que mais não seja
Porque sou poeta
e ansiava o futuro

Ressuscita-me
lutando
contra as misérias
do cotidiano
Ressuscita-me por isso
.
Ressuscita-me
quero acabar de viver
o que me cabe
minha vida
Para que não mais
existam amores servis
.
Ressuscita-me
para que ninguém mais
tenha de sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco
.
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
.
E o pai
seja pelo menos
o Universo
E a mãe
seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra
– Caetano Veloso e Ney Costa Santos. 5ª faixa do lado 1. Lp “Fantasia” 1981, gravadora: Polygram/Philips, interpretação Gal Costa, composição de Caetano Veloso e Ney Costa Santos, baseada em poema de Vladimir Maiakóvski. Deve-se a Rubens Shirassu Jr. o enfoque comparativo. Fonte: Blocos online

O Amor · Gal Costa / álbum ‘Fantasia’ 1981

Interpretação Gal Costa no ‘Acústico MTV 2002’.

 

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