Invicto
Do breu da noite que não dissolve
A me envolver em nuvem negra,
A qualquer deus – se algum me ouve,
Agradeço por minha alma que não se verga.

Fustigado pelas garras do acaso,
Nunca lamentei, não esmoreceu minha fé.
Sob os golpes fortuitos do descaso,
Trago a cabeça em sangue, mas ainda de pé.

Além deste lugar de ira e ranger de dentes
Só se vê o Horror de sombras silentes,
Mas a ameaça do Tempo, que nunca recua,
Não me amendronta, nem me acua.

Embora estreito o portão, sigo adiante,
Mesmo tendo ao lado o castigo e o desatino,
Da minha alma eu sou comandante;
Eu sou o senhor do meu destino.

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Invictus
Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
– William Ernest Henley [tradução de Renato Marques de Oliveira].
O poeta inglês William Ernest Henley (1849-1903), teve uma vida difícil. Tuberculoso desde os 12 anos, sua perna esquerda foi amputada aos 16, por causa da doença.

Trabalhou para sustentar a mãe e os irmãos após a morte de seu pai e perdeu sua única filha, de 6 anos, vítima de meningite. O poema foi escrito no hospital.

Sua grande publicação foi The Song of the Sword, em 1892. O seu poema mais famoso é Invictus.

Invictus é um pequeno poema vitoriano do poeta (também crítico e editor). Ele foi escrito em 1875 e publicado pela primeira vez em 1888.

Nelson Mandela citou-o como fonte de inspiração durante seu tempo na prisão na Ilha Robben de 1964 a 1990. Em uma cela com dimensões reduzidas de 2,5 por 2,1 metros, e uma pequena janela de 30 cm. Na prisão ficou privado das informações do mundo exterior, pois lá não eram permitidos jornais. Contudo, aprendeu a pensar a longo prazo, e procurava passar esta forma de raciocínio aos mais jovens, que cobravam dele respostas imediatistas às autoridades.

Invictus
Latim, que significa: invencível, bravo, inconquistável, indomável, indócil, indómito, inexpugnável, insubmisso, insuperável e rebelde.

O filme
O poema também deu título ao filme “Invictus”, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon, com roteiro de Anthony Peckham e John Carlin (EUA, 2009, 134 min.)
Sinopse: Recém-eleito, o presidente Mandela sabe que seu país permanece dividido racial e economicamente após o fim do apartheid. Acreditando ser capaz de unificar a população por meio da linguagem universal do esporte. Mandela apóia o desacreditado time da África do Sul na Copa Mundial de Rúgbi de 1995, que faz uma incrível campanha até as finais.

Fonte: ‘Cartas entre Amigos – sobre ganhar e perder’, de Fábio de Melo e Gabriel Chalita. São Paulo: Editora Globo, 2010. p. 83.







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