“Nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios – da arte à economia, da vida cotidiana à política -, passando a organizar de forma consciente e sistemática o império da passividade moderna.”
Guy Debord, em “A Sociedade do Espetáculo”. Rio de Janeiro: ContraPonto Editora. 1997.

Guy Debord filósofo, agitador social, diretor de cinema, Guy Debord se definia como “doutor em nada” e pensador radical. Ligou-se na década de 1950 à geração herdeira do dadaísmo e do surrealismo. Em julho de 1957, com artistas e escritores de diferentes países, fundou na Itália a Internacional Situacionista, cuja revista, editada por mais de dez anos, inaugurou o discurso libertário que ganharia o mundo a partir dos acontecimentos de Maio de 1968. Um ano antes da eclosão do movimento, Debord publicou a mais importante obra teórica dos situacionistas, “A sociedade do espetáculo”, um livro espantosamente lúcido e demolidor, precursor de toda análise crítica da moderna sociedade de consumo. Quanto mais o tempo passa, mais atual se torna este texto, pois, como disse Jean-Jacques Pauvert, “ele não antecipou 1968, antecipou o século XXI”.

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A sociedade do espetáculo, de Guy Debord

A primeira edição brasileira de “A sociedade do espetáculo“, neste volume, sai acompanhada de dois trabalhos posteriores – um de 1979, outro de 1988 – em que Debord comenta a própria obra. “Posso me gabar de ser um raro exemplo contemporâneo de alguém que escreveu sem ser imediatamente desmentido pelos acontecimentos”, ele diz: “Não estou me referindo a ser desmentido cem ou mil vezes, como os outros, mas a nem uma única vez. Não duvido que a confirmação encontrada por todas as minhas teses continue até o fim do século, e além dele. Por um simples motivo: compreendi os fatores constitutivos do espetáculo (…) considerando o conjunto do movimento histórico que pôde edificar esta ordem e que agora começa a dissolvê-la. Nesta escala, os anos passados [desde a primeira edição do livro] foram apenas um momento da sequência necessária daquilo que eu havia escrito: o espetáculo aproximou-se ainda mais do seu conceito…”
Debord estava certo: nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios – da arte à economia, da vida cotidiana à política –, passando a organizar de forma consciente e sistemática o império da passividade moderna. O que o leitor tem em mãos é a mais aguda crítica à sociedade que se organiza em torno dessa falsificação geral da vida comum.
– por César Benjamin

O Livro no Brasil
A Sociedade do espetáculo
GUY DEBORD
Tradução: Estela dos Santos Abreu
Editora: ContraPonto

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Guy Debord

“A vitória da burguesia é a vitória do tempo profundamente histórico, porque é o tempo da produção econômica que transforma a sociedade, de modo permanente e absoluto.”
– Guy Debord, em “A Sociedade do Espetáculo”. Rio de Janeiro: ContraPonto Editora. 1998.

A sociedade do espetáculo é o próprio espetáculo, a forma mais perversa de ser da sociedade de consumo. Como bem observa José Arbex Jr. no livro Showrnalismo: a notícia como espetáculo (Editora Casa Amarela, São Paulo, 2001):

‘O espetáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massa – diz Debord – são apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores’’.

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Guy Debord

A Sociedade do Espetáculo, O Filme
O filme, dirigido por Debord e lançado em 73, é uma versão audiovisual do livro, onde, ao expor seus conceitos, ele utiliza um recorte de imagens incessante e, a primeiro momento, aleatório, mas que dá suporte à teoria apresentada no livro. É, na verdade, um anti-filme. Uma forma de desvio: a utilização da cultura para fins subversivos. Nele, a imagem não obedece ao narrador, não o segue.

É importante dizer que a França da década de 60 e 70 respirava o cinema – os cineclubes, antros de estudantes e amantes da arte, sempre iniciavam bons debates sobre os filmes apresentados. Utilizar o cinema como meio para sua obra não era, então, uma questão de “facilitar” a assimilação do conteúdo do livro (coisa que, realmente, não acontece), mas de utilizar de uma nova forma de arte. De explorar o visual. No fundo, parte do ápice de um cinema político.

É uma maneira completamente diferente de se fazer cinema: não-acadêmica e não-comercial. Não se trata de uma tentativa de vender uma história, mas de apresentar uma crítica à sociedade em que vivemos. “A Sociedade Do Espetáculo, O Filme” (legendado em português). Disponível  no link para assistir online.

Saiba mais sobre o filme: A Casa de Vidro







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