Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.

Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.

E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.

Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)

– Ferreira Gullar, em “Toda poesia”. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1997.

Saiba mais sobre Ferreira Gullar:
Outros poemas e entrevista. AQUI!
Ferreira Gullar – entre o lírico e o social
Ferreira Gullar – entrevistado por Clarice Lispector







Literatura - Artes e fotografia - Educação - Cultura e sociedade - Saúde e bem-estar